Capítulo dois

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Há quase duas semanas, durante meu ataque de crise mental pós-apocalíptica, eu pensei o quanto a situação poderia piorar. Com a humanidade regredindo à todo o vapor, fica difícil manter a sanidade mental. Não que eu esteja à beira da loucura. Não. Que isso.

Pode me chamar de inocente e até burra, mas o único exemplo da falta de humanidade que eu tenho o maior conhecimento é o meu pai. Não o meu avô, meu pai, o filho do meu avô. Ele nunca ligou muito para mim, fui criada pelos meus avós. Um tempo depois ele até quis a minha guarda, mas ele cometeu a burrice de matar a namorada no meio do processo. Vô, vó, muito obrigado.

Na situação apocalíptica atual, até agora não topamos com ninguém. Estamos sempre fugindo de encontros com outras pessoas. Precaução, entende?

Talvez, aliás, com certeza existem pessoas boas ainda nesse novo mundo. Eu acredito.

Entrei no Poçante exausta, sem fôlego. Com o menino ainda em meus braços, gritei um "pé na tábua" para o meu avô. Coloquei o garoto na cama do meu avô de uma maneira grosseira. O menino me olhou apavorado e eu podia imaginar as milhares de coisas que ele estaria pensando ao nosso respeito.

– Vó, me ajuda aqui! – eu gritei chamando-lhe.

Eu supliquei à Deus por mais fôlego, não custa nada. Eu esperei alguns minutos, e infelizmente não passou. Respirar não é o meu forte, principalmente em situações como esta. Meu avô disse que logo encontraríamos uma farmácia, com remédios e um inalador. Minha avó fazia gestos para que minha respiração voltasse ao normal. Nada.

– Eu tenho um inalador. – o garoto anunciou.

Minha avó correu até ele, pedindo emprestado a bombinha.

– Por favor, deixe ela usar! – minha avó pediu educadamente em desespero.

Ele tirou o inalador do bolso do moletom verde. Estendeu sua mão e me entregou o objeto. Foi necessário repetir o processo outras duas vezes.

– Vamos conseguir os remédios que você usava no tratamento, fique tranquila. – vovó assegurou.

Aliviada, encostei minha cabeça nas malas empilhadas no canto do trailer. O menino lançou-me um rápido olhar. Percebi que tinha um desconhecido no Poçante, entretanto, não parecia um sujeito ameaçador já que aparentava o auge dos seus dez anos.

– Obrigado. – eu agradeci o rapaz.

– De nada. – ele sorriu verdadeiramente feliz em ajudar. – Meu irmão é como você, mas ele nunca aceitou isso direito, ele sempre tentou superar os limites da asma.

– Achei que fosse seu.

– Não, mas precaução é tudo. E ele é teimoso.

– Qual o seu nome? – eu perguntei.

– Igor Martin. – ele estendeu a mão.

– Hailey Friebe. – respondi apertando a mão dele.

– Obrigada Hailey. – Igor agradeceu.

Ambos sorrimos.

Minha avó entrou no "quarto" preocupada. Ela perguntou o nome do garoto e o que exatamente ele fazia antes de topar com todos àqueles zumbis.

– Eu estava com meu irmão Isaac, procurando suprimentos. Nos escondemos em baixo dos carros, mas aquelas coisas conseguiram me ver. Eu não o vi depois. – Igor explicou.

– Infelizmente não podemos voltar. Ainda tem muito deles lá. – vovó disse um pouco inquieta.

Igor baixou o olhar, estava prestes à chorar.

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