Não há história no que irei contar.
Não há final feliz, final triste, não há nem mesmo um final.
Esta é a narrativa sobre quando conheci o amor da minha vida.
Não era uma pessoa, um animal, um objeto.
Era algo que vinha de dentro de mim. Algo que eu sentia sempre que estava na companhia de Edna.
Edna não era o amor da minha vida. Edna também não é alguém que morreu antes de mim. Ela não é alguém que parecia real.
Eu a conheci em um acampamento de verão. Não sentia nada sobre participar do evento. Seria bom estar em um novo lugar. Minha namorada, Vanessa, não foi porque prometera aos pais que passaria as férias estudando. Vanessa está casada comigo. Tenho receio que ela leia esta história e interprete erroneamente. Vanessa, se você estiver lendo, não pense mal sobre mim. Eu te amo. Não te traí. Não penso em Edna tão frequentemente. Pelo menos, nunca penso nela quando estou feliz. Já, quando estou triste e magoado comigo mesmo, costumo pensar muito em Edna. Não tem nada a ver com saudade, arrependimento. Tem mais a ver com angústia, desespero, insatisfação.
Penso em Edna porque ela é uma incógnita. Sempre me dei bem com todo mundo, sempre reconheci que tinha o talento de conversar com estranhos. Mas, Edna, ela me deixava sem palavras. Não é questão de admiração. É incompreensão.
Edna era (ainda é?) mais nova que eu. Tinha o cabelo mais curto do que imaginei ser necessário para se safar do calor. Uma franja que aparentemente ela mesma havia cortado e uma chapinha muito bem feita. Só fui descobrir que seu cabelo era encaracolado quando vi uma foto no facebook. A não ser que os cachos sejam a mentira que ela tinha inventado.
De qualquer forma, além dos seus cabelos, Edna era normal. Usava jeans, sandália que deixavam seus pés gordinhos se mostrarem e uma pulseira sem graça no pulso esquerdo. Edna tinha a pele morena queimada e seu braço tinha duas cores. Andava muito sob o sol. Seus olhos eram comuns e seu sorriso feio. Enrugava toda a face antes de dar uma risada. Ria como se fosse chorar. Edna era feia. Seu nariz era fino e meio quadrado. Deixava-a com uma aparência meio robótica. Não era tão magra.
Não conversamos o bastante para que eu descobrisse coisas sobre ela para chamá-la ao menos de colega de acampamento. Convivemos todos os dias. Edna gostava de falar sobre todo mundo. Ela também gostava muito de ouvir. Fazia muitas e muitas perguntas. Principalmente no café da manhã, quando eu ainda não sabia o que estava fazendo, Edna me perturbava com um milhão de perguntas. Queria saber tudo a respeito de todo mundo. Uma das perguntas que me lembro é: como os seus pais se conheceram? E ela queria saber a história dos pais de todo mundo que estava na mesa. Edna gostava de ouvir história e de interrompê-las com perguntas inadequadas: tá, mas a sua mãe tinha o cabelo curto ou comprido? Tipo, agora o cabelo dela é como?
Quando conheceu meu pai o cabelo da minha mãe era curto. No dia em que estávamos no acampamento era comprido. Agora, que meu pai morreu, é curto.
Ela fechou a cara.
Seu pai gosta de cabelo grande, né?
Assenti.
Explicado.
Ela achava que todo mundo fazia alguma coisa por causa de outra pessoa. Edna estava certa. Normalmente eu digo que corto meu cabelo porque faz minhas orelhas coçarem. A realidade é que o corto por causa do trabalho. Por causa do meu chefe. Tomo banho porque não quero ficar sujo. Não quero ficar sujo porque não me sinto bem. O meu interior, a quem quero agradar, não sou eu mesmo.
Edna não tinha boas teorias.