-Eu te ajudo. -Ele segurou um dos dois cavalos e o levou junto comigo até os estábulos no fundo da casa.
-Obrigada.-Eu disse enquanto voltávamos para o estabelecimento.
-Pela ajuda com o cavalo? Não foi nada, qualquer cavalheiro faria isso.
Eu sorri, ele realmente falava de forma muito elegante para frequentar aquelas bandas.
-Não por isso, pelo cara mais cedo...Mas não precisava ter feito aquilo, já estava acostumada, se meteu em confusão por mim...Perdão.
-Por favor, senhorita! Não peça perdão, eu te defendi porque eu quis, porque foi o que me ensinaram.-Ele falava com muita paixão, parecia um professor dando aula.
-De forma alguma você é um camponês, quem é você? -Ele baixou o olhar para o chão.
-Ninguém que você vá conhecer, vim de muito longe, estou na cidade apenas para visitar.
-Então devo recomendar que você vá a uma praia, temos praias maravilhosas e é ótimo andar pela areia. -Ele sorriu com minha sugestão.
-Está anotado. Mas a praia realmente já estava nos meus planos, de onde eu venho não temos praia.
-E de onde vem o cavalheiro?
-Venho de Madrid, senhorita.
-Senhorita é estranho! Pode me chamar de Alice -Ele sorriu-Quer dizer que você é da capital, por isso é assim tão educado, ouvi dizer que as pessoas de Madrid são todas de classe.
Ele deu uma risada.
-Tenho que discordar disso, senho...Alice.
-Quer beber alguma coisa? Eu pago.-Abri a porta da taberna para que entrássemos.
-Uma bebida cairia muito bem, mas eu insisto em pagar, a loja é do seu padrinho, você não pode pagar!
-Como soube disso? -Perguntei enchendo dois copos de cerveja.
-Os homens da mesa comentaram-Ele deu de ombros -Aqueles senhores fofocam mais do que as senhoras das ruas de Madrid.
Eu ri do choque dele com a fofoca dos homens.
-Aprenda, Nico, noticia nenhuma corre tão rápido quanto em um bar cheio de bêbados.
Ele sorriu e nós começamos as nossas bebidas.
-Eu vi que você estava lendo -Ele puxou assunto-Onde você aprendeu?
-Meu padrinho contratou um professor para mim, e quando não pode mais pagar ele mesmo me ensinou o resto.
-Entendo. Devo confessar que fiquei bem surpreso, a maioria das pessoas da sua classe social não sabem ler.
-Te peguei! -Apontei para ele-Quer dizer que você não é da minha classe social, o que você é? Barão? Tem ar de nobreza.
Ele riu.
-Mulheres são mesmo observadoras, não sou um barão, Alice, não vamos nos importar com classes agora, está bem? Vamos apenas conversar.
-Fica difícil quando eu não posso ver seu rosto, tire esse capuz.
-Não é uma boa ideia, Alice...
-Por quê? Você tem vergonha? Tenho certeza que é bonito, e se não for não tem problema.
-Não é exatamente isso...
-Quero conversar olhando nos seus olhos, por favor.
-Se você jurar não se assustar e manter segredo. -Eu levantei a mão em forma de juramento.
-Eu juro.
Ele começou a tirar o capuz e a primeira coisa que eu vi foram os cabelos louros e lisos, ele tinha os olhos azuis cravados nos meus, e mordia o lábio inferior de forma nervosa.
Eu acabei descumprindo meu juramento de não ficar assustada, mas ninguém me disse que o príncipe era quem estava ali...Ah, meu Deus! O príncipe, e eu o chamei pelo apelido, não me curvei, eu ia ser decapitada na próxima manhã.
-Isso definitivamente não era o que eu esperava.-Eu murmurei ainda o encarando.
-Te decepcionei? -Ele riu.
-De forma alguma! Eu podia olhar para você o dia inteiro, vossa alteza é realmente bonito.
-Nesse caso eu também podia olhar para você o dia inteiro, você também é muito bonita. -Ele sorriu-Mas fica ainda mais bonita quando me chama de Nico, e não de alteza!
-Mas não é apropriado eu chamar o meu príncipe pelo apelido...Entende?
-Você tem a permissão real para se referir a mim como Nico.
-Então está bem...Nico.
-Veja, Alice, eu tenho que ir, mas eu gostaria de te ver novamente amanhã...O que acha? -Ele segurou minhas duas mãos enfrente ao rosto.
-Eu acho que seria incrível.-Eu sorri e ele suspirou, aparentemente aliviado.
-Te busco aqui por volta das nove da noite, é melhor para conversarmos sem ninguém correr atrás de mim.
-Por mim está perfeito.-Ele se levantou e colocou o capuz novamente.
-Até amanhã, Alice.
Ele saiu pela porta rapidamente, de forma que eu não pude dizer mais nada.
Se passaram alguns segundos e eu desabei na mesa.
Por causa de um cara sem noção eu havia conhecido o príncipe e havíamos marcado um encontro para a próxima noite.
Aquilo não podia ser verdade, meu sexto sentido me dizia que aquilo apenas me meteria em confusão, mas mesmo assim, eu queria tentar. Minha vida era muito monótona, um pouco de diversão não faria mal.
Tranquei a porta e subi para o meu quarto.
Abri a porta de madeira com certa dificuldade, as dobradiças estavam emperradas.
Minha cama encostada na parede estava desorganizada, mais do que o normal. O pijama que eu havia usado na noite anterior estava jogado em um canto do quarto. Na escrivaninha queimava uma vela que iluminava o espelho, refletindo meu rosto.
Peguei a camisola no chão e coloquei na roupa para lavar.
Troquei a roupa o mais rápido que pude, mas o espartilho acabou me atrasando um pouco.
Coloquei uma camisola limpa e me deitei sem mais agitação, tudo que eu queria era que a noite do próximo dia chegasse rápido.
Embora eu o conhecesse há apenas um dia, ele definitivamente não era o que esperava do príncipe. Fiquei feliz de saber que um dia o nosso governante será um homem bom, ele não me tratou mal por estar tão abaixo dele, e isso foi algo que me deixou admirada
970 palavras
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O que me separa do príncipe
Historical FictionHISTÓRIA CONCLUIDA No ano de 1830, a família real espanhola faz uma visita a cidade de Barcelona para fins comerciais, mas em uma de suas escapadas, o príncipe conhece Alice, uma simples garçonete sem nada a oferecer para a coroa, e o interesse que...