Um velho ditado diz que “não há nada tão ruim que não possa piorar”. Talvez esse seja o melhor jeito de descrever a minha situação naqueles dias. Em menos de quarenta e oito horas, tudo que eu entendia como “realidade” e “segurança” havia sido trocado por alguma fantasia estranha. Eu fora atirada de situação perigosa para situação perigosa, culminando em como estava naquele momento.
Meus pais haviam sido sequestrados e se eu não me entregasse aos sequestradores em cinco dias, eles iam morrer.
— A gente tem que chamar a polícia! – eu disse.
Era de manhã. Estávamos eu, Daniel, o pai dele e a garota reunidos de novo no quarto dos fundos da loja que estava servindo como minha casa. Eles já sabiam do que tinha acontecido e acho que estavam pensando em como agir. Não sei. Minha cabeça não parecia estar no lugar correto.
— A polícia não vai resolver isso – o pai de Daniel disse. – Mesmo que eles tentassem, não é o tipo de problema que está no alcance deles.
— Do que você está falando? – eu disse. – A polícia tem armas e mais gente! É claro que ela tem o que fazer!
— Há uma razão pela qual a Aalto desistiu de entrar quando viu que eu morava aqui. Um mago lutando em seu estúdio tem uma vantagem extrema. Derrota-lo nessa situação sem preparativos é virtualmente impossível. E a polícia não tem como se preparar. Eles nem sabem que Magia existe.
— Por quê? Por que diabos não? Por que ninguém conta? Essa situação toda não faz sentido!
— Como você é barulhenta – a garota reclamou.
— Meus pais foram sequestrados, droga! Você faz ideia do que é isso?
Daniel segurou minha mão.
Tentando me acalmar?
— Eu sei como você se sente – ele disse. – Minha mãe já foi sequestrada também. Usaram ela para me atrair para uma armadilha. Eu dei sorte de ter saído vivo.
— “Sorte”? – o pai de Daniel comentou.
Eles se entreolharam de um jeito estranho e então Daniel se voltou novamente para mim.
— Magia é algo complicado – ele disse. – Quanto mais pessoas sabem que ela existe, mais perigosa ela fica. Se o mundo inteiro soubesse … as coisas não seriam nada fáceis. É melhor assim.
Isso não faz sentido!
Aquilo não entrava na minha cabeça. Mas isso era o que menos me importava na situação inteira, por mais impossível de aceitar que fosse.
— E o que a gente faz então? – eu disse. – Senta e espera? Não! Meus pais estão nas mãos daquela droga daquela mulher! Eu não sei o que ela está fazendo com eles! Não posso ficar aqui sem fazer nada!
Não que houvesse algo que eu pudesse fazer. Eu não tinha superpoderes ou uma organização secreta sob meu comando. Eu era uma jovem normal tentando viver uma vida normal. Só isso. O que eu podia fazer contra eles? Mesmo que não tivesse magia envolvida, eles tinham armas. Dinheiro não resolveria.
Droga…
— Tem que ter algum jeito… – eu disse.
— E tem – a garota falou.
Ela me olhava como se estivesse prestes a falar algo muito sério e importante.
— Encontramos eles e libertamos seus pais em cinco dias – foi o que ela falou.
Honestamente, não sabia se deveria acreditar naquilo ou rir.
— Isso é sério! – eu disse.
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Limiar
FantasíaPor toda sua vida, Emile foi apenas uma pessoa como qualquer outra. Até o dia em que se encontrou com uma serpente sem nome. Seu mundo então é envolto em caos enquanto monstros atacam sua cidade e uma organização enigmática tenta a qualquer preço c...