Acho que eu estou mudando

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Primeiro uma cobra, depois um gorila e agora um dinossauro. O que vem depois? Eu não faço ideia. O que seria pior que um dinossauro? Acho que não tem muita coisa. Bem, então acho que pelo menos eu posso ficar calma quanto a aparecer alguma coisa ainda pior.

Certo, e tem o fato de que eu acabei de ser salva pela aranha. E depois ela brigou com a Lavínia e com o Daniel e foi embora como se tivesse acabado de sair do shopping. Céus. Acho que eu acabei de perder o que me restava de coerência mental…

Apenas fique calma, Emile.

É fácil para você falar, Emile.

Vamos lá. Adiante.

Depois de todo o caos no galpão, eu, Daniel e Lavínia voltamos para o antiquário do mesmo modo que um grupo em algum JRPG voltaria para uma inn após enfrentar um chefe particularmente difícil. Na verdade, agora que paro para pensar, minha situação realmente lembra bastante o roteiro de algum jogo estranho.

Seria pedir muito para ser da Namco-Bandai?

Não era sobre isso que você devia estar pensando, Emile.

Desculpe, Emile.

No antiquário, para a minha não-surpresa completa, Marcos já estava no balcão lendo alguma coisa. Ou ele nunca saía dali ou ele tinha algum tipo de visão do futuro. Ambas seriam explicações que eu estava bastante disposta a aceitar. Sendo sincera, eu acho que aceitaria praticamente qualquer explicação àquela altura. Minha suspensão de descrença estava no máximo.

— Como foi? – Marcos perguntou.

— Ninguém morreu – Lavínia disse. – O que é uma pena.

Ela se jogou no primeiro banco que viu, de pernas abertas e cara fechada. Daniel foi até o balcão e parou em frente ao pai dele.

— A Luciana – ele disse – uma amiga da Emile, a que chamou ela, era da Fragarach. Quando a gente entrou ela tinha se transformado em um tipo de monstro.

— Monstro? – Marcos perguntou.

— Ela tinha escamas, guelras e garras. Parecia um pouco com um peixe. Faz ideia do que era?

— É um pouco difícil dizer. Existem muitas criaturas assim, parte humano, parte peixe. Sem mais informações não tem como ter nenhum tipo de precisão.

— Esquece a piranha – Lavínia disse. – O problema é a cadela. Eu não consegui cortar ela e ela parava os socos do Daniel como se eles fossem um sopro. E depois ainda batia de volta com mais força.

— Parecia alguma habilidade do tipo Counter.

— Isso faz dela um Wobbuffet? – eu disse.

— Acho que ela é um pouco mais perigosa que isso – Daniel falou.

Marcos ajeitou os óculos e ficou pensativo por um momento.

— Como ela parava os golpes? – ele perguntou.

— Ela sempre usava a mão esquerda – Lavínia disse. – Fazia um movimento assim com a palma. E depois devolvia com a direita.

— Entendo. A mão esquerda capta a energia e a guia para o braço direito que então a usa num ataque.

Marcos movia as mãos reproduzindo movimentos de algum tipo de dança ou luta chinesa. E então ele parou e ajeitou os óculos.

Então ele também pode agir como um nerd.

— A teoria é bastante simples, mas a execução nem tanto – ele disse. – Soa como Qigon, talvez Taichi. Definitivamente é um dos dois. Uma mescla de artes marciais e magia. Deve ser bonito de ser ver.

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