Ao passar do tempo, de volta para o presente, Josh escuta um som que não deveria estar lá. É bastante irregular. Ele só fica alí por um momento, escutando, até os soluços se tornarem mais altos. Alguém está chorando e está vindo de trás da árvore.
A árvore deles, aquela que agora contém os restos mantidos da casa da árvore deles.
O choro é diferente, de alguma maneira, mas Josh não pode colocar o dedo nisso. É só diferente mas ao menos tempo, nem tanto. Finalmente lembrado que quem quer que seja, não vai conseguir vê-lo, ele anda um meio círculo em torno da árvore, apenas para parar estático no meio do caminho.
"T-Tyler?" Josh guagueja, não se permitindo acreditar no que estava vendo.
Como isso era possível? Um nódulo se forma em sua garganta enquanto ele se pergunta se aquilo é real, se isso não fosse uma piada doentia. Porque alí, encolhido como uma bola, está Tyler Joseph, com seus olhos vermelhos de tanto chorar.
Se fantasmas pudessem chorar. Porque é o que ele é agora, um fantasma. Apenas um fragmento do que ele um dia foi, um pedaço quebrado de vidro de uma janela.
Assustado com a voz, Tyler rapidamente olha pra cima, "Josh," ele ofega com um fungado, "Josh, é você?"
"É claro que sou eu, Tyler," a voz de Josh falha assim como sua visão fica turva, à beira das lágrimas.
"Eu sei que estou morto... Eu acho... Eu sei o que aconteceu. Eu sou um fantasma, acho. Mas estou tão confuso, você é real? Ou estou imaginando você?" Tyler não consegue sair do choque ao ver Josh e mais uma vez, a onda de ansiedade bate nele.
Como alguém que foi trancado em um porão escuro por semanas e agora não se lembra o que é dia ou noite, ele simplesmente não sabe mais. Ele deixou seu estado de "sanidade" a muito tempo atrás quando gritou por um fantasma em uma floresta vazia. Agora ele só consegue pensar em formas de perguntas. Perguntas que ninguém, exceto Josh, poderia responder.
"Escute, eu sou real e eu sinto muito" Josh diz calmamente, sentando cuidadosamente a frente do garoto oposto a ele. "Você é tão real quanto eu agora... Tão real quanto eu. Qualquer um pode nos dizer que não somos reais mas você sabe que é, e eu sei que sou real." Nem ele não entendia o que tentava dizer, mas tudo bem.
"Não, eu não tenho certeza sobre isso agora. Eu não sei, Josh. Tudo o que sei... Não faz sentido. A única coisa que sei," Tyles diz enquanto inala uma respiração trêmula e tenta em vão, parar as lágrimas que desciam constantemente por suas bochechas, deixando sua visão turva, "é que nada vai ser igual novamente."
Uma vez houve um tempo em que os dois estavam felizes, tão cheios de vida e amor. Eles conversavam por horas dentro da casa de árvore. Felizmente inconsciente do quanto iam sentir saudades dos velhos e bons tempo, uma vez que eles se foram pra sempre. Eles eram tão ingênuos, falando em cores e pensando em sonhos.
Tyler olha para baixo, para suas mãos e algumas lágrimas pingam nelas. Ele está tão doente e cansado de todo arrependimento que ele sente - é um veneno. Quando ele estava vivo, sua mente estava envenenada, travando guerras dentro de seu próprio corpo. Agora esses são os efeitos colaterais desse veneno, esse veneno - o medo que ele injetou dentro de suas próprias veias, apenas para sair daquilo. Se sentir aterrorizado é uma droga que ele mesmo criou, e ele teve uma overdose.
Mais cedo, Tyler desejava acabar com sua vida. Apenas para parar a dor, o barulho dos seus pensamentos, mas agora que Josh está aqui, algo está diferente. Algo está mudando. O medo que constantemente amaldiçoava suas veias, finalmente, estava começando a drenar.
"Amarelo néon e marrom desbotado, estou cansado de sentir isso, eu odeio sentir isso, o forte contraste, isso dói. Josh, e-eu acho que estava errado. Você é real... Pelo menos eu acho que você é... É tão difícil achar palavras quando tudo é a cor doentia de laranja e marrom," Tyler ri enquanto ele força um meio sorriso.
"Palavras importam agora, Tyler? Eu não consigo seguir em frente com isso por muito tempo, eu não consigo mais." Josh começa a sentir como se ele estivesse quebrando e caindo aos pedaços, lágrimas caem pelo seu rosto.
"Por que? Apenas por que? Tyler, eu sinto tanto. É-é tudo minha culpa. Deus, eu não consigo nem explicar o quanto me sinto horrível. Eu sinto muito. Isso é tudo que consigo dizer, eu daria qualquer coisa só pra voltar no passado e-"
"Vazio. Nós dois somos tão vazios agora. Não temos nada agora, apenas um ao outro. Não temos nenhum jeito de saber, Josh. Eu tomei uma decisão e você não pode se culpar por tudo. Por favor, não sinta muito. Nada pode ser mudado."
Pequenas faíscas vão para dentro do cérebro de Tyler. Ele está tão surpreso, ele não planejou dizer as palavras que saíram de sua boca.
"Escute, eu não posso ajudar a não ser sentir que tudo isso é minha culpa. Nada disso teria acontecido se eu não..." Josh para de falar por alguns segundos. "Tyler, o que eu fiz, é... É imperdoável. E se há uma palavra que eu disse mais do que qualquer outra palavra, é desculpa. Eu. Sinto. Muito."
"Todo mundo sente muito, porra," Tyler suspira.
Os dois caem em silêncio, em perda de palavras. E ambos, Josh e Tyler, tem um momento, sozinhos com os demônios dentro de suas cabeças, e cada um deles, subconscientemente, chegam a decisão de que é muito melhor preencher o espaço vazio com palavras, mesmo se essas palavras não façam muito sentido. Eles percebem que é meio trágico, fugindo de seus pensamentos, falando apenas por falar, sem ter nada para dizer.
"Eu acho... Eu finalmente percebi que tudo vai ser sempre assim, desde o começo que nos conhecemos. Se eu não tivesse acabado assim, eu ia acabar assim mais tarde. Isso está na minha vida, Josh. Mas estou cansado, tão cansado de tirar minha própria vida," Tyler diz enquanto deixa suas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
"Tyler, por favor, não fale desse jeito," Josh diz enquanto limpa gentilmente as lágrimas do outro garoto. "Você é tão lindo."
"Não, Josh, eu realmente não sou. Eu... Nunca disse isso antes e eu deveria, então vou dizer agora e não perder mais tempo. Eu costumava pensar que falar era só uma perda de fôlego e viver era só uma perda de morte, mas eu estava errado. E agora estou sentando em uma floresta cheia de memórias, ponderado pela gravidade pelas coisas que fizemos e pelos desastres que causamos, o tempo bate para todos. Para todos os verões, invernos, outono e primavera... Tudo que eu nunca vou voltar a ver." Algo dentro de Tyler quebra um pouco.
"Tudo vai seguir em frente sem mim, até minha família. Eles tem o resto da vida pela frente e tudo o que nós temos é isso. E se eu tivesse falado o que deveria, então talvez- talvez, nós não estaríamos aqui agora. Mas é esse o ponto: eu preciso estar aqui agora. É assim que vai sempre ser, e nenhum de nós não poderíamos ter feito algo pra mudar isso."
Os dois estão em choque com as palavras que saíram da boca de Tyler. Ele não está errado. Na verdade, está perfeitamente correto. E é isso que assusta os dois. Mas agora, o desespero que reside no espaço vazio está mais leve agora.
"Tyler, eu-eu só- eu sei que nenhum de nós pode mudar nada, mas mesmo assim..." Josh suspira.
"Eu sei que é estranho, mas agora que está aqui, é como se eu conseguisse pensar de novo, sentir de novo. Josh, desde que... Bem... Você sabe... Você esteve aqui. Sempre aqui, meu amigo secreto. Você foi o único que esteve sempre alí pra mim. Literalmente alí, a todo tempo."
"Eu nunca quis te decepcionar," Josh responde, quase em um sussurro.
"Meu ponto é, eu acho... Você é lindo. E se você não acredita nisso, eu vou dar o meu melhor pra fazer você acreditar que é adorável. Eu me sinto horrível por ter duvidado de que você era real. Eu finalmente percebi que... minha mente estava muito doente, horrível, um lugar sombrio e eu nunca poderia sonhar com alguém tão... tão bonito. E eu quero dizer isso, Josh," Tyler respira fundo, "você é o garoto com cabelos azuis vibrantes e mãos azul-como-o-céu e lábios dó maior e olhos mocha e dentes de tigres rudindo e- e..."
Josh nem sequer espera Tyler terminar, ele apenas se inclina pra frente e pressiona seus lábios contra os do garoto.
