Capítulo 15 - Deu a louca na Alice

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Sabe aquele momento que ficamos olhando para o nada e a nossa mente fica vazia? Me senti assim durante aqueles minutos que estava sozinha ali no telhado do orfanato. O céu estava escuro, mas a lua iluminava aquela noite, as estrelas eram poucas e as nuvens caminhavam devagar.

Olhando fixamente para cima, a imagem dos meus pais gera na minha mente. Mamãe com seus longos cabelos castanhos, olhos levemente puxados já que sua família tinha descendência coreana, seus lábios tinham um formato de coração e o formato do rosto oval. Papai tinha olhos castanhos claros, cabelos castanhos, o formato do rosto era quadrado e os olhos eram grandes.

Parte de mim lembrava eles, os olhos e bochechas do papai, cabelos e boca da mamãe. Ao pensar neles lembrei dos momentos felizes que tínhamos, das brincadeiras, das broncas, entre tantas outras coisas que fazíamos juntos.

Será que sentiriam orgulho de mim agora, nesta semana? Eu me sentia melhor, tenho alguns amigos, não vou sozinha para a escola e tenho alguém com quem conversar que não seja a Julieta. A Anna estava mudando tudo em mim, ou apenas aprimorando algo que eu não via ou que não queria ver ou ter.

- Oi. - Anna apareceu no telhado.

- Oi. - Respondi me sentando.

- Tudo bem? - Ela se sentou ao meu lado e percebeu que eu estava chorando.

- Meus pais, sinto saudades deles. Mesmo depois de tanto tempo ainda sinto saudades.

- E tem todo o direito de sentir isso, não sei o que seria de mim sem os meus. - Falou me abraçando.

- Mas vamos para com essa choradeira. - Falei limpando as lagrimas. - Quero saber tudo sobre o seu passeio com o Brendon. Não esquece dos detalhes.

- Não aconteceu nada de mais, só conversamos. Sacanagem o que você fez em. - Ela riu e me empurrou com o ombro.

- Ele não parava de olhar para você, e como te chamou para dar uma volta decidi dar uma ajudinha. Gostou?

- Não muito. Sabe, eu e ele não podemos ser mais do que amigos, não temos química e não gostei dele.

- Que pena, o Brendon parece legal. Mas sobre o que conversavam?

- Muitas coisas, livros, filmes, onde estudamos, que esporte favorito, entre essas coisas. Acredita que ele ganhou o torneio estadual de natação?

- Isso explica o porque daqueles músculos. Mas enfim, ele te chamou para sair?

- Me chamou para ir em um parque de diversões.

- Sério? O Henry também me convidou, o que você disse?

- Você voltou com o Henry? Pode ir me contando tudo garota.

- Ele acabou vindo comigo, já que moramos no mesmo orfanato.

- E sobre o que conversaram? - Anna falou curiosa.

- Sobre como fomos parar no orfanato. Falei dos meus tios, da Julieta e ele falou como a mãe dele morreu e que nunca ninguém soube quem era o seu pai.

- Ele chegou a conhecer a mãe dele?

- Infelizmente não. A mãe dele era usuária de drogas e morava na rua.

- Que bom que ele foi parar em um orfanato, pois só Deus sabe o que seria dele se morasse na rua.

- Verdade. Mas você ainda não me respondeu aquela pergunta.

- Qual? - Anna pareceu fingir que não sabia.

- Você aceitou ir no parque com o Brendon ou não? - Falei ansiosa para saber a resposta dela.

- Eu falei que iria pensar.

- Não precisa mais pensar, você vai com ele. Vamos vai ser divertido, dá uma chance para ele.

- Vou pensar ainda.

Focamos alguns minutos naquele silêncio, só ouvindo o barulho dos carros passando. Uma brisa um pouco fria tocou nossa pele descoberta. Anna era uma garota incrível, uma boa pessoa, alguém em quem eu poderia confiar, talvez foi isso que me cativou, o jeito curioso e a forma dela nunca desistir.

- Obrigada Anna, você é uma grande amiga.

- Somos grandes amigas, você é divertida e muito legal, só não sabia disso. - Sorrimos e depois de um longo abraço ela me chamou para ir à igreja onde ia todas as manhãs.

- Eu não sei se posso, vou ver com a diretora amanhã. Falando nisso, vou visitar os meus avós, então não vou estar aqui.

- Ok, nos vemos na segunda. - Falou se preparando para descer.

- Nos vemos segunda. - Sorri e a vi descer as escadas e caminhar até a sua casa.

A Anna me trazia uma sensação de paz e isso me fazia me sentir melhor. Perdi parte da minha infância e adolescência, durante todo esse tempo fiquei no meu quarto devorando livros. Não foram tempos tão perdidos, pois os livros eram a minha diversão, mas por um longo período de tempo eu não me sentia assim; feliz.

Depois de dar mais uma admirada na lua desço do telhado e a ao chegar na janela, ouço passos. Já que a Julieta não estava aqui no orfanato, com certeza era a inspetora. Me joguei dentro do quarto, e corri para a cama, tudo sem fazer um barulho se quer, para a minha sorte. Jogo o cobertor no meu corpo e ouço a porta do quarto se abrir, no mesmo instante me lembro de algo, "droga, esqueci de fechar a janela, preciso inventar uma desculpa".

Uma luz brilhou no meu rosto me fazendo "acordar", ou melhor, fingir que estava acordando. Para a minha surpresa, não era a inspetora, muito menos a diretora, era uma garota que eu conhecia muito bem.

- Você estava aprontando alguma coisa, eu sabia. - Alice falou com convicção.

- Do que está falando e o que está fazendo aqui no meu quarto?

- Não me faça de boba. Porque a janela do seu quarto está aberta?

- Porque eu gosto de dormir com a brisa da noite entrando no quarto?! Gosto do clima frio.

- Onde você estava Maddie? - Ela fez uma cara como se estivesse querendo imitar um detetive.

- Não inventa coisas que não existem, eu simplesmente gosto de dormir com a brisa da noite. Deu para entender? - Sentei na cama e tentei olhar para ela. - Dá para tirar essa luz do meu rosto ou está difícil?

- Desde quando sai a noite sem a permissão da diretora? - Ela abaixou a lanterna.

- Não vai conseguir tirar palavras que não existem da minha boca, acredite. Porque não volta para o seu quarto, a inspetora ou até mesmo a diretora pode estar dando voltas pelos corredores. -

Alice ficou sem graça e saiu do quarto. Os cabelos loiros estavam amarrados como um coque bagunçado e ao olhar para o rosto dela pude ver que ela usava uma mascara facial verde, e nem falo da camisola de bolinha, quando ela abaixou a lanterna tive que me conter para não rir daquela cena, o pior foi ela fazer aquelas caretas para tentar me fazer falar algo.

Caminhei em direção a janela e me sentei ali por alguns minutos. Quando estava prestes a sair dali e ir dormir, ouço um barulho de automóvel, que logo em seguida para na frente do orfanato.

- Deve ser a Julieta. Não vou perder o beijo de cinema. - Pensei em voz alta, animada.

Ele saiu primeiro e abriu a porta para ela sair. "Que cavalheiro". Ela então saiu, lindamente com o vestido azul, nem parecia a Julieta que eu conhecia. Ficaram alguns minutos ali conversando, depois pude perceber que não estavam conversando e sim se olhando. "Isso é melhor que filme, só que no filme dá para ver em um ângulo melhor." Pensei rindo do meu próprio pensamento.

Romeu se aproximou devagar e a segurou na cintura, ela automaticamente colocou as mãos no rosto dele, e depois de mais algumas trocas de olhares, ele a beijou, e não foi qualquer beijo, foi um digno de cinema.

Eles trocaram mais algumas palavras e sorrisos, depois ela entrou no orfanato e ele entrou no carro e foi embora. Bem que eu havia avisado ea Julieta, agora ela me deve cinco reais.

Maddie - A garota do telhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora