3 | TENTA ME RECONHECER

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"(...) no temporal".

Me Espera — Sandy feat. Tiago Iorc

O silêncio pairava sobre o quarto escuro como um extenso véu de chumbo

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O silêncio pairava sobre o quarto escuro como um extenso véu de chumbo.

De repente, a luz engoliu a escuridão e revelou o rosto inexpressivo de Henrique.

Ele estava de pé, ao lado do interruptor, deliciosamente pelado.

Quero dizer, completamente pelado.

Eu não podia acreditar que tinha visto Matheus Miyake pelado.

Não. Ele não era Matheus Miyake.

Meu Deus, é claro que não era! Eu não tinha transado — três vezes — com o Chatão! O destino não tinha sido tão cruel comigo.

Henrique me olhava como se estivesse me vendo pela primeira vez. Seus olhos claros analisavam cada traço meu.

Do nada, começou a rir. Jogou a cabeça para trás e gargalhou.

Meus olhos, pousados no pomo-de-adão em destaque no pescoço largo, desceram pelo peitoral esculpido e estacionaram na região das coxas grossas, em cujo centro um pacote maravilhoso estava pendurado.

Aquele não era Matheus Miyake. Não tinha como ser. Sério. Aquele homem não podia ser o Matheus da minha infância.

Eu podia apostar que o Chatão ainda tinha braços e pernas magricelos que nem gravetos — não bíceps definidos e pernas longas e malhadas!

E com certeza a boca de Matheus ainda era um traço fino e zombeteiro — não uma delícia de boca carnuda e desenhada, projetada para dar beijos maravilhosos!

E ele ainda devia usar o corte infantil que ostentava quando éramos crianças, estilo cuia de índio — não o corte despojado que contribuía para a beleza do cabelo farto, superpreto e tão macio do monumento que estava na minha frente!

E os olhos dele...

É. Os olhos eram uma semelhança que eu não podia desconsiderar.

Apesar do sobrenome japa, Matheus não tinha traços nipônicos muito fortes. Tinha o cabelo preto e liso, e os olhos eram ligeiramente puxados, mas não eram rasgados. Tinham um contorno visivelmente diferente, mas o amendoado era sutil.

Eu não fazia ideia de como não havia associado os olhos oblíquos de Henrique aos de Matheus. Notei o contorno diferenciado e apreciei as íris claras, mas não fiz a grande associação.

Em minha defesa, nunca pensei em Matheus Miyake como um homem. Nunca tinha imaginado sua versão adulta.

Não pensava no Chatão com frequência, mas, sempre que remexia em minhas memórias e via seu rosto infantil, não conseguia, por mais que tentasse, transformá-lo numa figura crescida.

O Descarado Dorme Ao Lado [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora