Capítulo 22 - Double Identity

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Capítulo 22 - "Double Identity" 


 As mesas redondas criavam um ambiente mais íntimo para o estudo, porém, com o frio lá fora, apetecia um bom chocolate quente à volta de uma lareira. Quando a porta bateu e Liam levantou a cabeça, mal podia crer que fosse Alison. Mal podia crer que Javier lhe fizera isto.

- Chamo-me Alexis Parker.

Os dois já discutiam, antes da loira se apresentar, convenientemente. - Eu não quero ouvir mais mentiras - Afirmou Liam saindo da sala, seguido por Isobel.

Javier ficou entristecido, mas pediu para prosseguir.

Ela levantou a cabeça, enquanto despia o seu blusão preto. Estava descontraída quando começou. - Não devem relembrar-se mas... Há três anos atrás, houve um massacre nesta mesma escola. Eles acabaram por reconstruir tudo, portanto...

Eric entreviu. - Podes ir direta ao essencial?

Sentou-se na mesa de Javier, com os punhos cerrados, pelo que Eric e Wendy tiveram que voltar as suas cadeiras. - A minha turma era a H. Estávamos na aula de Francês quando um colega, chamava-se Samuel, se levantou do seu lugar, tirou uma arma da mochila e matou a professora. Matou a minha turma inteira num abrir e fechar de olhos. Excepto eu. Sim, eu sou a única sobrevivente. Por quê? Não sei - Concluiu. Como ninguém se manifestou, incrédula, continuou: - Trancou a porta e apagou todas as luzes. Sentei-me no chão e ele perguntou-me se sabia o seu nome. Disse: "Sam". Ouvi-o rir-se quando se sentou à minha frente, como se fosse mesmo uma piada. Ele respondeu-me, admirado: "Achei que ninguém sabia quem eu era... Bom, agora todos vão saber."

- Eu era da turma C - Continuou Javier, emocionado e muito surpreendido. - Estávamos a ter ginástica quando ouvimos os tiros. Foi... assustador.

- Ele era um solitário. Afirmou que não organizou tudo sozinho. Que havia outros como ele, mesmo nesta escola. Eu estava a chorar tanto... E depois... Ele matou-se. Cada vez que fecho os olhos... Sinto o cheiro a pólvora do seu último disparo. Tenho pesadelos com a sua voz...

- E depois?

- Deixei-me ficar naquela sala, escura e fria, a chorar sobre o corpo de alguém, até a polícia de intervenção chegar. Eu estava... Estava em choque... Era uma miúda a experienciar algo tão desumano - Disse, baixando a cabeça. Suspirou, fazendo uma breve pausa, mas depois continuou: - Permaneci angustiada por mais de dois meses. Saí da cidade e a minha vida mudou. Tinha de mudar. Tentei recomeçar de novo... Mas a pena e dor que outras pessoas me faziam passar impediram-me. Eu estava a sufocar com tamanha tristeza... Enterrei a Alexis e certifiquei-me que tinha sido o seu fim. Mudei de identidade, de cidade, de gostos... Pintei o meu cabelo... Eu fiz tudo bem!


***


- Esqueceste de uma coisa - Provocou Wendy.

- Desse estúpido anuário em que a minha fotografia é a única a cores... Por amor de Deus, eles também eram pessoas! - Exclamou, revoltada.

- Como devemos chamar-te?

- Alison.

- Então, Alison - Começou Eric, levantando-se e passando-lhe a mão pelo ombro, como reconfortando-a. Estava na hora de sair - És uma pessoa muito forte. É só o que consigo dizer-te.

Ela esboçou um sorriso tímido, quando Eric e Wendy saíram. Para refrescar o ambiente, decidiu soltar uma piada: - Aqueles agora andam numa relação a três?

Javier parecia petrificado. Não conseguia imaginar o quanto danificado o seu coração e mente se encontravam. Surgiu-lhe outra questão: - E o terço? Qual é a sua história?

- Tu não vais querer saber...

- Disseste que contavas tudo...

A rapariga assentiu. Tirou a carteira da mala e de lá o pequeno terço de tons claros. - Este terço era da minha colega do lado. Nós não éramos amigas, mas eu gostava dela. - Começou, Javier estava cada vez mais ansioso. - Quando ele... Estava a fazer o que fez... E alguns colegas tentavam evitar o pior... Ela só rezava. E depois, a minutos de ser morta, passou-me o terço para a mão. Disse-lhe "desculpa, mas eu não sei", e ela disse "fecha os olhos e repete o que eu digo". E, a meio da oração... Ele matou-a. Eu estava de olhos fechados e ela caiu-me nos braços. Este terço - Voltou a agarra-lo com todo o sentimento que possuía. - De alguma maneira, salvou a minha vida.

Uma pequena lágrima escorregou da face de Javier, embora ele tentasse esconder. - Por que é que me pareces tão fria?

- Como querias que sobrevivesse? - Ela perguntou de seguida, não esperando uma resposta. Não esperando misericórdia. Voltou a vestir o casaco e fechou a mala.

- Alison... - Javier chamou, mesmo quando a loira ia sair.

- A última coisa que queria era magoar alguém.

- Trata desse olho, está bem? - Ele pediu, controlando as lágrimas, após última explicação da loira.


***


- Deixa-me em paz, Izzie.

- Tu tens de a ouvir - Solicitou, uma outra vez, nos corredores. Insistia que Liam ouvisse a história de Alison.

- Porquê? Só por que tem um olho negro? Quem me garante que não foi ela que o fez?

Liam não veio àquele pavilhão para olhar Alison, mas sim uma pequena sessão de estudo. Sentindo-se enganado por Javier, a passos largos, percorreu o corredor todo, sempre com a voz irritante de Isobel, que ainda o irritava mais.

- EU NÃO QUERO!

- Volta lá para dentro e ouve. Apenas! Tu não tens de dizer-lhe nada, caso não queiras...

- Desde quando sabias deste encontro? - Izzie desviou o olhar, nervosa. Não lhe saia da cabeça estes jogos de Javier - Responde...

- Na noite passada, o Javier enviou uma mensagem a todos... Ele disse que a Al... Ela... Nós merecemos a verdade! E ela está disposta a da-la - Liam virou costas e continuou a andar. Mas esta loira também não era de desistir. Perseverança corria-lhe nas veias - Tens todo o direito de estar insurgente... O Javier só está a tentar ajudar... Vamos ouvir o que ela tem para dizer e depois saímos para um bar ou assim - Revirou os olhos ouvindo estas palavras. Custava muito compreender que não estava desesperado? - Liam - Chamou entre um suspirou, puxando-o para si.

Ele afastou-o, brutamente, ainda mais chateado - Eu não sou o Eric, não preciso que me consoles...

- Nem o Eric, nem a Rihanna - Comparou, deixando Liam confuso, arqueando a sobrancelha, percebendo-se da infeliz troca. - Tu não adoras a maneiras como ela mente.

Parou. Aquela rapariga cansava-o. Por que é que ela insiste? Nem sequer é com ela. - Ouve, Iz, eu não quero ouvi-la. Não quero vê-la. Nem sequer ouvir falar dela. Foda-se... Eu não quero nada...

- Mas vais ouvir, Liam - Voltou a dizer, agora mais serena e credível. - Vocês acabam as frases um do outro... Frases tiradas e clássicos de literatura. Onde é que isso se vê atualmente?

I Can't Take My Eyes Off YouOnde histórias criam vida. Descubra agora