Capítulo 10 - Love Me or Leave Me
Saiu do clube batiam as três horas. Estava escuro, mais do que o habitual. Dois dos candeeiros que habitualmente iluminavam o parque de estacionamento encontravam-se avariados. Aconchegou o lenço ao peito enquanto apressava o passo. Depois parou, vendo um vulto encostado ao seu carro.
- Olá, miúda!
- Liam?
Notou pela entoação que a assustara, pelo que se aproximou da jovem. - Desculpa, não, não queria...
- Não, tudo bem - Descansou, interrompendo-o. Sentia-se apreensiva. Não sabia ao certo se ele ouvira a mensagem que lhe deixou, pela qual mostrava 50% de arrependimento e incerteza que fora o mais correto. Tentou agir normalmente. - Que fazes aqui?
- Pensei que podíamos ir comer a qualquer sítio - Começou por dizer, quase maquinalmente, vendo a expressão da rapariga, franzindo a testa. Mas Liam não tinha feito a viagem até ao clube para levar com outro não. - E antes que queiras dizer "não posso"... Pensa que... Não o fazemos à muito tempo. Tu sabes... Passar pelas Rolloutes.
- Achei que tinhas esquecido - Assentiu, entrando no carro. Aquilo só quereria dizer "sim". O rapaz, sem querer mostrar um sorriso, também se apressou a entrar no seu veículo e arrancar de imediato.
Sentaram-se no lugar habitual, o do fundo, e Alison só questionava, enquanto fazia um defeituoso rabo-de-cavalo, para si, se ele tinha ouvido a mensagem. Desconcentrava-se quando o olhava. Estava mais atraente. Liam, de ementa na mão, passava a vista por todos os menus. Não que houvesse muitos, mas por que não sabia como encará-la. O silêncio nunca foi tão constrangedor.
Mas Alison sempre o fez parecer acolhedor: - Eu também gostava de ver.
- Não te 'tou a tapar a vista - Ripostou, logo de seguida, forçando-a a aproximar-se. Mais próxima, tentou alcançar a ementa. Liam fitou-a, afastando o livro que fez com que Alison se chegasse mais um pouco. Entendendo tudo, esboçou um pequeno sorriso. Ele, sério, continuava a admirar a sua alegria. Parecia água fresca. Retirou-lhe e fingiu, também ela, ver. Nenhum dos dois precisava de ementa, a sua escolha esteve sempre feita. Dois hambúrgueres, uma água e uma coca-Cola.
***
- Como é que sabias que ia dizer "não posso"?
- É o que dizes... Ultimamente - Proferiu estas palavras num tom baixo, quase melancólico. Alison também se encontrava pensativa, mas Liam não a queria assim. - Até disseste não à festa do Javier... Ele ficou sentido.
- Eu não lhe disse que não queria...
- Tens de perdoá-lo, mas ele é um latino que sabe ler nas entrelinhas...
- Estão a confundir tudo - Fez uma pausa, quando o empregado trouxe os pedidos. Despiu o casaco, deixando estar o seu top azulado. Depois continuou, como arrastando as palavras. - Eu disse que não podia ir. Tenho imenso para estudar... Para além do mais... É só mais uma festa.
- Eu não consigo estudar - Soltou um breve riso, desabafando, o qual a loira não o acompanhou. Ficou a observá-lo, em silêncio, enquanto comia o seu hambúrguer. Com aqueles olhares, pediu: - Pára de olhar para mim.
- Não consigo - Respondeu de imediato e Liam voltou a soltar um riso. Era previsível que estivesse nervoso. - O que é?
- É apenas - Respirou fundo e olhou-a, de volta. - Eu costumava olhar-te assim. E responder-te assim. - Alison colocou os olhos no chão, envergonhada com toda a situação, até que sentiu as suas mãos acariciadas pelas de Liam. Os seus batimentos cardíacos aceleraram com o veredito: Ele tinha ouvido a mensagem.
- Queres acrescentar alguma coisa... Para mostrar maturidade?
- Achei que não tinhas ouvido - Respondeu, receosa.
- Tu ligaste... Acho que querias que ouvisse - Fitou a miúda, respondendo de igual maneira que na semana passada, que tentou esconder uma pequena risada.
***
- Não percebo por que continuas a insistir... Sou uma pessoa tão com...
Ele interrompeu, elevando um pouco o tom de voz. - Complicada! Eu sei! E depois? - Encontrava-se mais nervoso, agora que sentia que iam descomplicar a situação e talvez, resolver.
- Estou a tentar ser realista contigo, Liam... Passei por coisas, no passado, que ainda me assustam. Pessoas morrem... Ao contrário do que dizem, a relação que temos com elas, não. Continua a evoluir e a mudar-te. Continua a mudar-me. E quando tu perdes alguém que te era próximo, passas por um processo de reintegração no mundo. É como arrancar um pedaço de ti. Eu não sei onde pertenço. Onde a Alison pertence. E isso é complicado... O curto tempo que estive contigo fez-me perceber que... Não mereces alguém assim.
- Por quê? Achas que me assusto por teres pesadelos? Eu sei que tens pesadelos! - Ela passou as mãos na cara e ele aproximou-se, agarrando-as. Tentava compreendê-la, mais uma vez. E como se, por milagre, conseguiu ler os seus pensamentos e dúvidas. Também os teve. - Eu sei, eu sei... Eu também achei isso. Achei que não queria estar contigo, que não devia, que não podia... Eu sei que há muita coisa sobre ti, sobre o teu mundo, Alison, que eu não conheço, mas sou paciente. E quando quiseres contar, se quiseres contar, eu estarei aqui. Esta história é apenas o começo... Tu sobreviveste por uma razão!
- Liam...
- Tu lutaste por mim, o ano passado. Eu sei que muita gente desistiu de ti. A certa altura, até o teu irmão desistiu. Eu não estou pronto para isso. Não vou desistir de ti.
Voltou a vergar os olhos na mesa e apercebeu-se que ainda não tinha sequer tocado no seu hambúrguer. Comeu, já sem vontade. Liam olhava ao relógio impacientemente, como se tivesse outro sítio onde estar e assim que a loira terminou a refeição, pagaram a conta e dirigiram-se aos carros, em silêncio.
Estava lua cheia.
Liam sentia-se desanimado, dentro do carro já, mas ainda com esperança. A fase da lua era a favorita de Alison, que várias vezes lhe falara sobre as coisas misteriosas que aconteciam e desejos se realizavam.
Alison voltou-se.
- O que quero acrescentar é isto: Lembro-me de te ver, variadas manhãs, a vestires-te, depois de passares a noite comigo. De ouvir o teu carro a chegar. É o teu cheiro nas minhas roupas. É o toque das tuas mãos a percorrerem o meu corpo e fixadas na cintura, enquanto dançamos. O teu beijo - Não conseguiu terminar. Finalizou a sua explicação, da maneira mais profunda que o seu coração encontrou: - Não me lembro de me apaixonar por ti. Só me lembro de agarrar na tua mão e perceber o quanto ia doer quando soubesses a verdade e tivesse de te deixar ir. Quanto mais o Chad me tenta afastar de ti... Mais eu quero estar contigo. E quando eu desisto... Acontecimentos como... A faculdade, o comboio... A vida encarrega-se de nos voltar a aproximar. E eu sei que não é o final do mundo e que provavelmente já nem estamos em sintonia, mas, continuo a pensar nas memórias que criámos, que enquanto estiver contigo, aqui, aí, ali, em qualquer sítio, com um nós... Eu sei que tenho uma chance.
Talvez o dele tenha acabado de realizar-se.
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I Can't Take My Eyes Off You
RomanceEsta não é a minha história. Achei interessante partilhá-la, por ser tão verdadeira como simples. Inesperada, sem dúvida. Percebi essa grandeza de sentimento quando passavas mais tempo a pensar nela, do que a preocupar-te contigo. Daí, não ter...