Capítulo 5 - Brave Heart

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Capítulo 5 - "Brave Heart" 


- ALISON? ALISON? - Gritava, em cima dela, enquanto a abanava. A sua respiração era ofegante.

Nunca foi segredo, que ambos corriam contra o tempo.

Lentamente e num só movimento, ela abriu os olhos, aliviando-o. A sua passividade passou para um choro descontrolado e colossal. Era a primeira vez que Liam a via chorar. Nesse momento, pareceu-lhe tão... Humana.

- Devia ter morrido no massacre - Proferiu entre soluços, pelo que Liam a abraçou. Segundos depois, ela afastou-o.

- O que é? O que é que sentes?

- Medo.

Liam deixou-se deitar ao lado da rapariga, suspirando. Também ele sentiu medo. E mais em desabafo, disse: - Merda, Alison. Não voltes a fazer-me isto.

- Desculpa.

- É que eu não nasci para ficar sem ti.

- O quê? - Questionou enquanto se sentava.

- Lembraste da Western que o Javier deu? Nessa noite disseste-me ao ouvido que talvez tivesses nascido para ficar comigo - Ele lembrou, esboçando um pequeno sorriso. Claro que isso só fazia sentido para eles.

Ele ajudou a levantá-la. Percorreram o caminho em silêncio, mas os pensamentos de Liam eram capazes de encher uma só sala. Perguntava-se o que teria acontecido, caso ele não tivesse aparecido.

Apesar de ela não querer, ele levou-a à residência. Fora a primeira vez que conduziu o carro dela. Pelo caminho, olhava-a, mas rapidamente desviava o olhar, quando se apercebia que ela percebia que a estava a olhar.

Parou o carro, mas não saíram logo. Ela estava encolhida no banco do lado e parecia mesmo assustada. Liam observou que, por cima do tablier, encontrava-se um livro. Pegou nele. Meteu conversa: - Em que parte vais?

- Já terminei.

Saíram de seguida. Liam levou-a até porta de casa, mas não entrou. Ela ofereceu-lhe um abraço como despedida e, ainda pensando no livro, ele perguntou, fazendo uma referência: - Quanto tempo é para sempre?

- Ás vezes, só um segundo - Respondeu-lhe logo, cheia de emoção. Depois sorriu-lhe.

Quando fechou a porta, encostou-se do lado de dentro. Quem diria que uma simples conversa poderia despertar tantas emoções, julgadas abandonadas num passado longínquo. Enquanto descia a escadaria Liam ouviu a porta trancar-se, o que o tranquilizou.


***


Caminhou de volta ao café e só depois pegou no seu carro. Regressou a casa já noite cerrada. Javier dormia. Entrou no seu quarto e acendeu a luz do candeeiro, tentando estudar. Impossível. Debruçado sobre o livro aberto, percorria com a vista as páginas, quase maquinalmente, não compreendendo uma única palavra. Despiu-se, apagou a luz e deitou-se.

Entre voltas e mais voltas, sentou-se na cama.

Quase esqueceu o quanto Alison admirava boa literatura, tal como ele. E ainda lhe custava acreditar que conseguiu terminar a sua referência a um dos livros favoritos, que o presenteou no seu tablier - Alice in Wonderland.

Pegou no telemóvel. Marcava três horas e quarenta minutos. Ideal para enviar uma mensagem, não é?

Remetente: Liam.

Destinatário: Alison

Mensagem: Eu ainda me importo, miúda.

Não hesitou ao carregar no "enviar". Ao que se referia, à última tarde em que a vira, antes de o deixar. Apesar de nesse dia, não saber se a ouviu, nos seguintes meses, quando a loira saiu de cena, não sabia se estava vivo. Por que amor como o de Alison, sabia que nunca teve. Talvez pelas dolorosas perdas e sofrimento que já enfrentou, ela dava-lhe mais. Ela estragou-o com romance e todo aquele coração destemido.

Ela fê-lo sentir tudo. Até medo.

Admitia que a sua história tinha três partes: um principio, um meio e um fim. E, apesar de ser o ciclo de todas as histórias, continuava sem acreditar que a deles não fora para sempre. A história não podia acabar aqui, desde o início que seguiu o que sentiu, a realidade, o tempo parava quando a encarava.

Levantou-se e abriu lentamente a janela, tentando não fazer barulho. Observou o céu. Estava completamente estrelado. Não via um daqueles desde... Bom, todos nós sabemos desde quando. Desde aqueles tempos em que trabalhava no clube com Alison e depois conduziam até às roulottes para jantar.

Mas agora que Alison superou a barreira dos sentimentos... Uma nova questão lhe passou: Será que agora sentia alguma coisa? Estará preparada para voltar a Alexis?

Fechou a janela, e deitou-se. A cortina entre-aberta permitia avistar mais um pouco da noite.

Nessa altura o céu não parecia tão longe. Por quê? Porque ela é o céu dele.


***


Acabou por adormecer.

Esquecera-se de pôr o despertador, pelo que acordou com a máquina de café. Rapidamente tomou um duche e vestiu uma sweatshirt escura e calças de ganga. Javier já estava a pé, com pequeno-almoço arranjado para ambos e, acima de tudo... Muito bem disposto.

- Encontras-te a Ali? Como é que ela estava?

- Tu sabes... Sente-se um pouco só - Disse apenas, omitindo a parte flucral.

- É por isso que tem de ficar cá...

- Sim, ela fica.

- Melhor notícia do dia!

Pousou a chávena no balcão e bocejou. Pegou na mochila e só chegando à porta, sentiu-se acordado com nova revelação do corajoso coração de Javier.

- Vou convidar a HayHay para sair...

- Tu?

- Sim, payaso!

- Só falaram para aí... 30 segundos?

- E depois? Achas que vai resistir a estes olhos?

- Acho que a assustas com a alcunha - Disse-lhe, abrindo a porta do carro.

- HayHay? É gira! Tal como ela e, mais importante...

- Tal como tu - Concluiu a frase do amigo, entrando dentro do veículo, com uma risada geral.

I Can't Take My Eyes Off YouOnde histórias criam vida. Descubra agora