Capítulo 7 - "Wild Wild Mess"
Na segunda-feira seguinte, Wendy finalmente apanhou Alison a sós.
Seguiu-a até à casa-de-banho e simplesmente lhe perguntou: - Contas-te ao Liam?
- Contas-te ao teu namorado?
Wendy engoliu em seco. Isto não podia acontecer-lhe. Alison voltou-se, olhando-a. O seu olhar de reprovação, anulou qualquer hipótese de esperança. Estava diferente hoje. Já não demonstrou aquele olhar ternurento e cheio de amizade.
- Só perguntei... Ele também é meu amigo.
- Qual é o teu problema? Estás grávida do Liam e não queres que se saiba?
- NÃO - Ela gritou, agarrando-se à barriga.
Observou uns segundos o reflexo de Wendy pelo espelho, mas a sua atenção voltou-se para a pequena trança que fazia. - Já foste ao médico?
- Não sei o que quero.
- Ouve-me - A loira suspirou, voltando-se. Também pela detestava estar naquela posição, porém, já não se podia ser prestável. - Isso já devia estar resolvido. Passaram umas duas semanas desde que falámos. Achas justo para o teu namorado? Ou para o pai da criança? Tens de te decidir. Por que um dia, vais acordar, e essa barriga notar-se-à. Portanto, tens até sexta-feira.
- Senão o quê?
- O que é que achas? Não contas tu, conto eu.
- Tu não me conheces para fazer ultimatos.
- Eu lamento mesmo, Wendy, mas eu também estou a construir uma amizade com o Liam. Não vais envolver-me nesses teus dramas adolescentes.
Repentinamente, Isobel entra na casa-de-banho, fazendo-se silêncio. Alison ainda não conhecia Isobel. Parecia uma miúda cheia de vida com todos se gostam de dar.
O silêncio instou-se, uma outra vez. Alison raramente se enganava em relação às pessoas. Todo aquele teatro que Wendy fez, encostando-se à parede fingindo ter sentido um pontapé, não passou disso. Teatro. Era cínica. Agora, ria, agarrada à sua melhor amiga.
- De que falavam?
Wendy permanecia com os olhos no chão, receosa. Até que Alison disse: - Jardineiras. Com rasgos nos joelhos.
Foi a vez de Wendy descobrir o lado cínico da outra. Isobel retribuiu-lhe o sorriso, mas sentiu a má vibração entre as duas. E quando Alison saiu, olhando friamente para a outra, confirmou - Wendy escondia algo.
***
- Hola, belleza! - Saudou, agarrando na mão de Alison, beijando-a.
Ela, surpreendida, afastou-se.
- Olá, Javier...
- O que faz esta cara bonita numa cozinha tão desarrumada?
- Bom, vim desculpar-me por ter saído à pressa da festa da tua mãe sem me despedir.
- Bom, eu não estava nas minhas melhores condições - Ela concordou, enquanto observava a cozinha do Resort. Curiosamente, nunca lá tinha estado. Aliás, só funcionários estão autorizados a entrar. Javier não parou de sorrir, seguindo-a com os olhos. - De certeza que não nos conhecemos?
- Achas que sou uma das tuas conquistas? - Ela questionou, inclinando-se para a frente.
- Eu não sei... É que... Sabemos pouco de ti.
Alison revirou os olhos. Sabemos. É claro que a conversa tinha que ir parar a Liam. Javier continuou a olhar para ela, mas tudo era tão confuso. Quer dizer, tinha a certeza que já a conhecia, mas as suas certezas nunca foram muito credíveis.
- Sabemos pouco de ti por que tu não deixas passar nada. Mas eu não sou um rapaz qualquer. Eu sei algo de ti.
- A sério?
Javier debruçou-se também no balcão. - És uma sortuda.
- Por quê?
- És uma estranha que sabe mais do Liam do que os seus próprios amigos.
- Não sei o que o Liam te conta, mas nós apenas conversamos... Sobre coisas banais.
- Espero que, ao menos, no fim-de-semana, tenham rezado pelos queridos indígenas.
Ela não respondeu, só lhe apetecia rir.
Gostava de estar junto de Liam e Javier. Gostava da sua boa disposição. Apesar de, na maior parte das vezes, não perceber nada do que fala.
Também queria que eles a conhecessem. Mas Chad não concordava. E tinha razão, mas foi mais forte do que ela: - Tal como o Liam já experienciou... Há uma altura na nossa vida em que temos de fazer uma escolha. Virar a página. Escrever outro livro. Ou simplesmente fechá-lo.
***
A aula de Português encerrava a semana escolar. Era complicado para a maior parte da turma. As palavras, a pronuncia, os verbos. Tão diferente do inglês. Se quisesse passar, tinha de estudar neste fim-de-semana. Sozinha, levantou-se. Pegou nos dois livros, saiu da sala e desceu as escadas, deparando-se com Liam que já tinha saído.
- Alison.
- Liam.
E prosseguiu o caminho, sentindo o ar não puro na cara. Só lhe cheirava a combustível e suor. Merda. Os desportistas que vinham na brincadeira com a bola deram um encontram em Alison, fazendo os seus livros caírem.
- Cuidado! - Eles nem pararam. Mas eis que aparece Liam, sorridente, para ajudá-la. Juntou algumas folhas que a rapariga enfiou rapidamente na mala. - Não era preciso.
- Cala-te, miúda.
Em silêncio, lado a lado, caminharam uns metros, quase alcançando o grupo de Liam.
- Vou com o Javier e o Eric até Chinatown... Ele quer fazer uma surpresa qualquer à Wendy... Queres vir?
- O Eric namora com a Wendy? - Ficou séria. Liam acenou com a cabeça, apontando para o grupo. Não havia dúvidas, eram mesmo eles. Estavam aos beijos. - À quanto tempo?
- O quê?
- À quanto tempo eles namoram?
- Não sei - Admitiu, descontraído. Vendo a expressão facial de Alison de preocupação, fez algumas contas mentalmente. - Dois meses, provavelmente. Por quê?
- Nada - Suspirou.
- Alison... O que é?
- Não sei se posso contar-te.
- Seja o que for... Já te contei pior - Ele riu, colocando o seu braço nos ombros de Alison.
Ela olhava para o casal, aparentemente feliz. Era sexta-feira. Estavam aos beijos portanto... Oh. Meu. Deus. Mas que grande trapalhada. A Wendy namora com um amigo do Liam.
- Alison! - Liam estava impaciente. Ambos esqueceram o facto de estarem praticamente abraçados, como se já fosse um habito. Voltou a perguntar: - O que se passa?
- A tua amiga Wendy está grávida. E não é do Eric!
Foi a vez de Liam mudar a expressão, enquanto se afastava lentamente de Alison comprovando o que ela já sabia. Uma grande Wild Wild Mess.
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I Can't Take My Eyes Off You
RomanceEsta não é a minha história. Achei interessante partilhá-la, por ser tão verdadeira como simples. Inesperada, sem dúvida. Percebi essa grandeza de sentimento quando passavas mais tempo a pensar nela, do que a preocupar-te contigo. Daí, não ter...