Capítulo 17 - "I Carry Your Heart With Me"
- Chegaste cedo...
Liam saudou-o de volta, mas não tirava a concentração do prato de entradas. Fiambre, queijo, mortadela, chocolate e pouca imaginação dominavam aquela manhã fria de Dezembro. Valia, como sempre, a boa disposição do seu amigo e colega Javier, já com o avental posto, trazia para a bancada mais sacos de pão de forma.
- Que apresentação é esta? - Continuava a resmungar com as entradas feitas por Liam. - Tem de parecer uma flor, não uma chacina... E mesmo assim acho que ficaram ofendidos...
- Uma flor?
- É claro que não sabes o que isso é... - Troçou, refazendo os pratos.
Cabisbaixo, Liam olhava-o, de vez em quando, questionando a si mesmo se seria a altura certa para contar. Mas para estas coisas... nunca há um momento. Os momentos criam-se. - Por acaso, Javier... Nunca saí.
- Hum?
- Eu... Nunca saí...
Soltou um "Ah!" descontraído, continuando a falar e empratar: - Quem foi a anta que não apareceu para o turno da noite?
Liam já não o ouviu, a vontade de dizer, dominava-o. Disse-o de uma só vez: - Eu dormi com a Alison.
- O quê?
- Sim, talvez... Duas ou três vezes.
- Talvez?
- Quatro. Acho... eu.
- Achas?
- Talvez mais.
A reacção foi instantânea. Esboçou um sorriso de orelha a orelha, genuíno. Mas depois ficou sério, testando Liam, sobre a alta fidelidade: - O que é que o Dave diz sobre isso?
- És a única pessoa que sabe.
Javier soltou uma gargalhada e Liam começou também a rir. Sentia-se em pulgas com todo este secretismo que incluía encontros secretos em quartos de hotéis. Sentia-se poderoso por ser o único com a verdade.
***
Dezembro passou assim, fortalecendo a sua amizade com Javier, férias escolares, entre locais de Chicago que mal sabiam pronunciar e locais históricos demasiado bonitos para não se verem. Com Alison, faziam coisas que sabiam que não deviam, conduziam a altas horas da noite, com as janelas abertas, deixando-se envolver pela brisa noturna. Liam não conseguia manter os seus olhos selvagens na estrada. Não conseguia tirar os olhos de Alison. Encostados na margem, com os faróis apagados, podia ter terminado em chamas... ou no paraíso. Momentos bem passados, extinguindo garrafas de vinho, suores misturados. Dois pequenos concertos e uma letra musical inacabada. Do clube diretamente para a cama, gostavam de fazer coisas que só tinham sonhado, onde Liam deixava Alison já sem forças para tirar a maquilhagem.
Em Dezembro viveram o momento.
E hoje, sentada na cama com perna à chinês, Liam deitado a seu lado, comiam batatas fritas, relaxados, rindo sobre Modern Family - a série televisiva.
Talvez tenha sido aquelas cinco coisas que sabia de Liam que a fizeram ficar e ser paciente. Ele não vinha num cavalo branco, não lhe trazia flores, não era bom com promessas, não lhe entregava o coração, provavelmente não ia conhecer a sua mãe, mas cada vez que o vi-a, parecia tão certo. Com aquele olhar à James Dean de t-shirt branca que nunca sai de moda.
Liam observava-a, mais uma vez. Da primeira vez que a viu, do outro lado da sala, tentando lutar contra a curiosidade, nunca imaginou que, em tão pouco tempo, viria a gostar de alguém assim. Está com Alison agora, isso significa que é com ela que quer estar. Ela é linda do jeito que é. Óbvio que havia coisas que ainda não percebia, como o facto de gostar de dormir de luz acesa ou às vezes acordar sobressaltada.
Excita-o vê-la de lábios vermelhos clássicos com saltos altos, mas ainda mais quando usa as sapatilhas. O seu à-vontade ainda o deixa mais excitado, até por que, em que realidade a miúda devora batatas fritas sem se preocupar com os seus abdominais?
- É como te digo, miúda, não sou o melhor, aliás, estou longe disso, portanto é egoísmo, da minha parte, querer a melhor ao meu lado. Mas gosto que seja o homem que amas de vez em quando...
- E se eu te quiser amar tempo inteiro?
Ele puxou-a para si, deitando-se ao seu lado.
Alison olhava pela janela. Lá fora, estava escuro, o vento zumbia, assustando-a, pelo que agarrou a mão de Liam, mas os monstros não passavam de meras árvores.
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I Can't Take My Eyes Off You
RomanceEsta não é a minha história. Achei interessante partilhá-la, por ser tão verdadeira como simples. Inesperada, sem dúvida. Percebi essa grandeza de sentimento quando passavas mais tempo a pensar nela, do que a preocupar-te contigo. Daí, não ter...