IV - Emissário dos Mortos

62 2 0
                                    

I

 Fazia frio naquela noite de junho. O termômetro marcava quinze graus graus e o vento, que entrava pela janela aberta da sala, aumentava ainda mais a sensação de baixa temperatura em Arthur. Levantou-se, fechou os vidros e foi para a cozinha, preparar algo quente para beber. Enquanto esperava o microondas aquecer seu café com leite, ouviu um barulho vindo da sala. Ao investigar, notou que o vento frio havia voltado ao cômodo, desta vez não pela janela e sim através da porta de entrada. Em frente a ela estava seu amigo Luciano que, faziam meses, não via.

 "Arthur, você precisa me ajudar!", disse o rapaz, tremendo de frio.

 "Luciano! Entre. Saia dessa friagem.", Arthur trouxe o amigo pra dentro da casa, enquanto fechava a porta. Ele parecia impaciente. Nervoso.

 "Não tenho mais a quem pedir ajuda...", voltou a falar, enquanto examinava a casa para ver se mais alguém estava por lá. "Só posso contar com você, agora."

 "Calma, cara. Calma. Sente-se. Vou pegar alguma coisa pra você beber."

 "Não! Temos de conversar agora! Não quero beber nada, Arthur!"

 "Já te disse pra ter calma!", insistiu Arthur. "Vou te ajudar mas tem que me explicar o que tá acontecendo!"

 Luciano olhou em direção às escadas. "Sua mãe e a Natália estão lá em cima?"

 "Não. Foram pra Pirapitininga. Só voltam amanhã a noite."

 "Tem gente atrás de mim, Arthur. A polícia. Tão me acusando de coisas que não fiz!"

 "Eu sei. Semana passada um investigador que esqueci o nome teve aqui. Fez um monte de pergunta sobre você."

 O amigo empalideceu. "O que você disse?"

 "Nada de mais. Não tinha idéia de onde estava e o que fazia. Vou falar o quê?"

 "É mentira, Arthur! Tudo que estão falando de mim é mentira! Não fui eu quem matou aquelas pessoas! Não fiz nada daquilo!", transtornado, o rapaz se levantou e começou andar de um lado para o outro."

 Arthur continuou. "Estão dizendo que até no suicídio de Márcia você está envolvido."

 "Nunca!", de súbito Luciano foi em direção ao amigo, numa atitude intimidadora. "Nunca faria nada contra minha irmã! Estava é tentando ajudá-la!"

 "Você tá me assustando!"

 "Desculpe.", disse, abandonando a postura agressiva. "Lamento. Vou ficar louco com isso tudo..."

 "Ok. Tudo bem. Agora relaxa e me conte o que aconteceu de verdade.", Arthur tentava acalmar o amigo.

 "Você não acreditaria.", respondeu Luciano, titubeante e cabisbaixo. De repente foi acometido pela inquietação novamente, como se tivesse lembrado da situação em que se encontrava. "Tô perdendo tempo! Tenho que sair daqui! Precisa me ajudar a fugir, Arthur!"

 "Não posso! Não desse jeito! Precisa me contar o que houve com você e Márcia!"

 Luciano sentia estar prestes a perder o controle. Isso, contudo, não ajudaria em nada, principalmente para convencer Arthur. Parou, respirou fundo e continuou.

 "Coisas horríveis aconteceram na noite do suicídio da minha irmã. Além do nosso entendimento. Fora de explicação..."

 "Tá legal.", prosseguiu o amigo. "Quero entender que coisas foram essas."

 "Eu vou te contar.", sentenciou Luciano.

II

 Como deve saber, Arthur, eu e Márcia fomos passar uns dias naquele lugar. Alguma coisa estava acontecendo com ela. Algo ruim. Seu estado emocional piorava dia após dia e a mãe achou que uma viagem poderia fazer com que se sentisse melhor, fosse o que fosse que estivesse se passando com ela, uma vez que não nos contava nada.

A Ameaça dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora