Medo

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Capítulo cinco

Clara

— Que tanto você olha pAra porta mulher? — Laura me perguntou e eu tentei disfarçar.

— Nada, só estou tentando ver o movimento de hoje. Será que a casa vai lotar?

— Sei... Mas em plena quarta feira? Duvido. Ainda mais que essa semana resolveu chover toda a chuva do ano.

— Hummm. — respondi de cabeça baixa, mas em seguida dei mais uma olhada para portaria.

— Clara desde a hora que você chegou com a May do shopping que estou achando você tensa.

— Você acha pouco Laura? A minha filha disse ao meu chefe que eu acho ele um gatão. — Soprei exasperada. — Como vou encara-lo?

— Ah então é isso? Como vai encara-lo? Vai encara-lo como sempre encarou, com esses olhinhos lindos que Deus te deu. E pare de ficar ansiosa querendo vê-lo, daqui a pouco ele chega.

— Não estou ansiosa para vê-lo, na verdade estou rezando para não vê-lo hoje.

— Amiga, sinto muito, porque ele acabou de entrar e já está vindo pra cá. — Minha amiga sorria do meu desconforto.

Senti meu corpo formigar e minhas bochechas corarem. Já passava da uma da madrugada, achei que ele não viesse trabalhar hoje, mas para a minha tristeza e vergonha, ele veio. Para ser sincera estou sentindo um misto de tristeza por ele vir e esfregar na minha cara a vergonha de hoje à tarde e uma alegria estranha por ele ter vindo.

— Você pelo menos podia disfarçar.

— Cala a boca Laura.

— Oi meninas! Como está a noite? — Ele sentou-se na nossa frente e já chegou perguntando, sorrindo largamente e usando uma jaqueta de couro que o deixava lindo demais. Tá, ele é meu chefe, mas não posso deixar de notar o quanto ele é bonito.

— Bem, um pouco fraco por conta da chuva, mas por ser uma quarta feira chuvosa até que está cheio. — Laura respondeu e eu continuei quieta.

Ele deu uma olhada em volta e concordou:

— Verdade. Ei Clara sua filha é uma graça. — Claro que ele tinha que tocar no assunto.

Tirei os olhos da bebida que eu estava fazendo, enfim olhei para ele e sorri sem graça.

— Sim ela é. Fala mais que o necessário, mas é uma graça.

— Ao contrario da mãe que quase não fala. Mas na beleza é totalmente igual a você.

Tive a impressão de ouvir a Laura dizer um "uau" e olhei para ela séria e para o Fernando sentindo as bochechas corarem.

— Você veio mais tarde hoje, esta tudo bem? — Perguntei tentando mudar de assunto.

— Sim tudo. Só tive uma distração.

— Hum. — Fiquei pensando se a distração seria uma mulher.

— Bom meninas, vou subir ver se está tudo bem. Bom trabalho pra vocês.

— Obrigada. — Eu e Laura respondemos juntas.

— Você vê que ele nem conversa comigo? Só tem olhos para você. — Laura disse após o Fernando sair.

— Deixa de ser boba Laura. É que você já se tornou amiga deles, enquanto eu, ele ainda está tentando conhecer.

— Ah não acredito. Ele veio de novo!

Olhei para entrada e vi o gatinho que a Laura tinha ido embora ontem, entrando e assim que a viu piscou para ela.

— Olha só, vai sair com ele de novo?

— Acho que sim

— Você repetindo peguete? É de se estranhar.

— Esse vale a pena.

Ela sorriu e em seguida vi o rapaz chegar mais perto, sentar-se de frente para ela e os dois começarem uma conversa calorosa. Já vi que hoje eu irei embora sozinha de novo, ou talvez quem sabe eu não consiga uma carona de novo com o Fernando. O que eu estou pensando? Não! Tenho que parar com isso.

Cassio, o segurança, ficou conversando comigo um pouco no bar, até dois rapazes começarem a se estranharem e ele ter que ir resolver. Cassio era bem bonito, era careca, forte, moreno e tinha um sorriso simpático. Tinha cara de mal, mas pelo pouco que conversei com ele percebi o quanto tem coração mole. A hora passou voando como sempre e depois de fecharmos tudo, a Laura me sorriu, soprou um beijo e foi embora correndo com o novo ficante.

Após ela sair peguei minha bolsa no armário no estoque, e fui correndo em direção à saída para que não houvesse tempo de o Fernando me ver saindo ou qualquer um que seja dos Angels que quisesse me oferecer carona. Passei por Valmir sorrindo desejei boa noite e me dirigi para o ponto de taxi. Cheguei lá e vi que não tinha nenhum no ponto. Como assim? Droga! Deve ser toda essa chuva de hoje. Pensei em ir em direção ao ponto de ônibus. Já que a chuva deu uma trégua, eu conseguiria chegar em casa, mesmo detestando ter que andar sozinha e pegar ônibus de madrugada. O medo de o Jeferson me achar ainda pairava sobre mim, não como no começo, quando me mudei, agora já consigo andar sozinha, mas antes nem isso era possível, só consegui me estabilizar de novo psicologicamente, depois de fazer um pequeno tratamento com a mãe da Laura que é psicóloga. Não queria aquela vida do passado nunca mais.

Atravessei a rua, dei alguns passos e vi que faltavam menos de trezentos metros para eu chegar ao ponto de ônibus e graças a Deus eu já conseguia avistar um casal que a pouco estava bebendo na Angels. Dei mais alguns passos à frente e senti um carro se aproximando. Apertei o passo sem olhar para o lado. O carro chegou bem próximo ao meio fio da calçada e diminuiu a velocidade até quase parar, enquanto eu andava rapidamente quase correndo, sentindo um calafrio de medo e o coração pulando tanto que o sentia pulsar no meu ouvido. Vi que o vidro escuro do carro começou a baixar e virei-me para frente a fim de a qualquer movimento a mais da pessoa dentro do carro eu começaria a gritar.

— Fugindo de algo Clara? — Uma voz que eu conhecia bem, falou em alto e bom tom como se tivesse se divertindo.

DEGUSTAÇÃO Meu anjo meu heroiOnde histórias criam vida. Descubra agora