Nota sobre o futuro
"Aqui no futuro nós adquirimos alguns 'poderes', que na verdade são recursos alcançados graças ao avanço da tecnologia. Um deles é a capacidade de romper a barreira da 4ª dimensão. Graças a isso eu consigo conversar com você assim como estou conversando agora. Te conto uma história através de um livro, pois sei que você é um leitor e aí no passado as pessoas ainda tem o costume de ler. Incrível, não é? Eu vou conversar diretamente com você durante alguns momentos dessa leitura, mas não precisa ficar confuso, pois de certa forma você também está rompendo esta barreira ao dar ouvidos a alguém que está contando uma história numa posição diferente a sua em relação ao espaço/tempo. Se você viver até o ano de 2080 verá como tudo isso sobre viagem no tempo se tornou algo facilmente praticável. Agradeçam ao Adam!"
. . .
Três anos depois eles se mudaram e foram morar sozinhos. A vida agora se resumia em passar as noites discutindo sobre suas respectivas especialidades. Após o acidente Adam teve que melhorar suas habilidades na cozinha, o que foi fácil, já que ele podia contar com a ajuda de um robô especializado em tarefas domésticas que foi criado em 2058 por necessidade dos Exércitos para realizar atividades em batalha.
Depois do acidente as coisas ficaram bem diferentes na vida deles. Hanna desenvolveu um trauma que a impossibilitou de dar aula presencial e passou a trabalhar em casa, desenvolvendo artigos de história para grandes universidades. A humanidade acabava de passar pela Terceira Guerra Mundial, que durou de 2057 a 2059. Uma guerra consideravelmente curta e imposta pelo avanço da tecnologia, mas que movimentou muita coisa no mundo, principalmente na área da ciência. Adam continuou como professor, mas a maioria do seu tempo era voltada ao lar, onde redobrava a atenção e os cuidados com ela.
- Por que você não leva o projeto sobre viagem no tempo adiante? Não seria algo complexo demais pra morrer num livro na estante? - Perguntou Hanna, que depois dele, sempre foi a pessoa mais entusiasmada com a ideia.
- A minha teoria é ótima, praticamente perfeita, mas é quase impossível torná-la praticável. - Alegou Adam enquanto analisava algumas fórmulas numa folha de papel.
- Impossível? Não foi você que aprendeu a cozinhar, senhor Adam?! - Retrucou ela, que sempre foi a mais excêntrica da relação.
Ele acreditava que sua teoria era quase impraticável, mas também não aguardava pelo momento certo para usá-la. Adam sorriu e antes que ela insistisse, guardou as folhas numa pasta velha.
No ano de 2060, depois de tanto enrolar a moça, Adam finalmente aceitou o pedido de casamento, mas até então ainda era engraçado imaginar um casamento entre eles dois, tendo em vista que eles levaram suas vidas dedicadas a projetos e pesquisas até antes de se conhecerem. Típicos jovens que não tiveram tempo pra namorar, muito menos pensar em casar e ter filhos.
- Finalmente você vai pôr uma aliança nesse dedo. - Disse Hanna.
Com cara de deboche, ele revidou:
- Estava te enrolando pra ter certeza de que me amava mesmo e ficaria pra sempre comigo.
- Isso é injusto! Eu jamais iria pra lugar algum. Você sabe que eu nem posso ir, na verdade. - Disse ela enquanto observava sua situação naquela cadeira de rodas.
Sempre foi difícil de lidar com alguns assuntos. Geralmente eles terminavam falando sobre o acidente ou sobre o fato dela não poder mais caminhar sem ajuda da cadeira de rodas. Mas eles aprenderam que o amor faz com que as coisas mais trágicas se tornem aquilo que não queremos perder. No dia seguinte eles começaram a traçar os planos para o casamento. Vestido, terno, arte do convite... Tudo bem organizado e revestido de pressa, pois já haviam adiado por bastante tempo.
- Agora que consegui, morro de medo de que você desista desse casamento, então se possível, casaremos ainda esta semana. - Disse Hanna enquanto eles seguiam até a loja onde comprariam as peças.
- Desistir? Olha só quem está falando em desistir, a senhora persistente! - Retrucou Adam enquanto dirigia e olhava pra ela.
- OLHA PRA FRENTE! - Gritou Hanna.
- Haha! não se preocupa, amor. Eu sou um dos melhores motoristas que você já conheceu. Já assisti a muitos filmes de corrida. - Disse ele sem perder a graça.
- Muito engraçado, senhor, mas agora trate de olhar pra frente.
- Você não precisa ficar preocupada, certo? Eu te amo e vamos nos casar. Apenas confia em mim, em nós e na minha habilidade no volante.
E essas foram as palavras mais sérias que o Adam disse em tanto tempo de relacionamento.
Hanna escolheu um magnífico vestido azul que mais parecia um ramalhete de flores gigante e fez questão de mostrá-lo antes da cerimônia. Toda essa conversa de azar não os preocupava. O que mais martelava na cabeça era como seria a vida de casados.
- Vestido azul? Tem certeza disso? Nunca vi nenhuma noiva de vestido azul. - Perguntou Adam curioso com a escolha.
- Claro que sim! Você sabia que na Idade Média as noivas usavam vermelho? A noiva romana usava um véu vermelho escuro e a túnica amarela bem escura. Na Grécia usavam-se cores escuras e também estampadas, em Portugal, até o século XX a cor do vestido da noiva costumava ser preto. Então por que uma pobre Francesa não poderia usar um azul?
- Isso é o que dá se casar com uma professora de história. - Disse Adam que sempre imaginou se casar com uma noiva vestida de branco. Mas valeu a "surpresa".
- Bem que poderíamos viajar pra uma casa de campo em Provence, no sul do país depois do casamento. Afinal, nós temos nossas economias e quase não gastamos com nada. - Disse Hanna enquanto fazia uma cara de choro.
- Pensei em Paris, amo a cidade e os cafés de lá.
- Paris não é uma boa escolha, Adam. A maior atração de lá é aquela antena de rádio disfarçada de ponto turístico conhecida como Torre Eiffel. Grande coisa. Provence é bem mais bonita e fotogênica!
- Acho uma boa ideia, mas não precisa fazer essa cara de desespero não, tá bem? Além do mais, eu adoro aqueles campos de Provence - Brincou Adam enquanto sorria e desistia da ideia de ir a Paris.
- Ótimo! Então assim que chegarmos em casa, pesquisarei sobre um hotel legal e romântico.
- Você é quem manda, ó senhora dos campos.
No dia 16 de março de 2060 a cerimônia enfim aconteceu. Saiu tudo como planejado. O local escolhido era simples, mas inesquecível. Havia um lago que cortava o jardim da casa e o som natural dos animais ecoava nos ouvidos de todos que prestavam atenção em cada detalhe citado pelo padre. Todos os convidados compareceram e encheram o casal de abraços e desejos de felicidade, aquele básico rotineiro de sempre que acontece em todo casamento.
Enfim casados, era hora de fazer as malas.
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Looping - Ação e ficção
Science FictionUm físico envolvido em pesquisas sobre viagem no tempo que está num looping em busca pela vida ao lado de sua amada, mas ele acaba esbarrando com alguém que dirige um misterioso carro vermelho e impede que ele prossiga nas suas decisões. Este livro...