"Você sabe como é viajar no tempo? Ah, claro que ainda não sabe, mas deixa eu te explicar. Primeiro você deixa de ouvir qualquer emissão de som e depois você sente seu corpo se desfazer enquanto todo um ambiente ao seu redor é criado. Esse ambiente é a formação de uma nova linha no espaço/tempo e seu corpo que se desfaz na verdade está deixando de existir na linha anterior. As coisas que você vê durante essa transição se parecem com uma página daquelas revistas de caça-palavras, só que as palavras não param de se conectar e aos poucos vão formando suas lembranças. Ou seja, você está numa nova linha, mas lembra de tudo o que aconteceu na linha anterior. Confuso, não é?! Você vai entender melhor se apenas imaginar uma sala branca onde uma luz muito forte te atinge aos poucos, então as palavras começam a surgir e quando você menos espera... Puf! Está em outro dia, outra hora e em outra chance. Adam viajou até um ano antes de aceitar o pedido de casamento de Hanna. Agora ele teria que viver novamente tudo o que viveu até o dia em que eles viajaram. Não seria fácil, mas aí está um bom exemplo de um homem lutando por uma mulher. Isso daria um belo filme."
. . .
Três anos depois do acidente de Hanna eles se mudaram e foram morar sozinhos. A vida resumia-se em passar as noites discutindo sobre suas respectivas especialidades. Após o acidente Adam teve que melhorar sua habilidade na cozinha, o que foi fácil, já que ele podia contar com a ajuda de um robô especializado em tarefas domésticas que foi criado em 2058 por necessidade dos Exércitos para realizar atividades em batalha.
Depois do acidente as coisas ficaram bem diferentes na vida deles. Hanna desenvolveu um trauma que a impossibilitou de dar aula presencial e passou a trabalhar em casa, desenvolvendo artigos de história para grandes universidades. A humanidade acabava de passar pela Terceira Guerra Mundial, que durou de 2057 a 2059. Uma guerra consideravelmente curta e imposta pelo avanço da tecnologia, mas que movimentou muita coisa no mundo, principalmente da área da ciência. Adam continuou como professor, mas a maioria do seu tempo era voltada ao lar, onde redobrava a atenção e os cuidados com ela.
- Por que você não leva o projeto sobre viagem no tempo adiante? Não seria algo complexo demais pra morrer num livro na estante? - Perguntou Hanna, que depois dele, sempre foi a pessoa mais entusiasmada com a ideia.
- A minha teoria é ótima, não é?! Tenho certeza de que um dia colocarei em prática, mas ainda é cedo. - Alegou Adam enquanto escondia a verdade sobre sua teoria.
- Gostei de ver! Você realmente deve estar cansado de tentar, tentar e tentar sem alcançar nenhum resultado positivo. - Hanna sempre foi a mais excêntrica da relação, mas levou a sério quando ele falou que ainda era cedo.
Ele já sabia que a sua teoria fazia total sentido, aliás, estava ali, no passado, revivendo cada detalhe e cada conversa que teve com Hanna. Agora que ele já sabia como viajar no tempo, precisava consertar as coisas e evitar a morte de sua amada.
No ano de 2060, depois de tanto enrolar a moça, Adam finalmente aceitou o pedido de casamento, mas até então ainda era engraçado imaginar um casamento entre eles dois, tendo em vista que jamais Pensaram nisso. Levaram suas vidas dedicadas a projetos e pesquisas até quando se conheceram. Típicos jovens que não tiveram tempo pra namorar, muito menos pensar em casar e ter filhos.
- Finalmente você vai pôr uma aliança nesse dedo. - Disse Hanna.
Com cara de deboche, ele revidou:
- Estava te enrolando pra ter certeza de que me amava mesmo e ficaria pra sempre comigo, mas eu posso te garantir com toda certeza que nosso casamento logo vai acontecer.
- Isso é injusto! Mas me diz, como é que você tem tanta certeza? Deve me amar muito, não é, senhor?! Eu jamais iria pra lugar algum. Você sabe que eu nem posso ir, na verdade. - Disse ela enquanto observava sua situação naquela cadeira de rodas.
- Ahh, eu vim do futuro. Não percebeu ainda? - Brincou Adam, arrancando um sorriso do rosto dela.
- Olha só... Então vejo que você veio do futuro com o humor apurado. Continue assim. - Hanna não fazia ideia de que ele estava falando a verdade.
Sempre foi difícil de lidar com alguns assuntos. Geralmente eles terminavam falando sobre o acidente ou sobre o fato dela não poder mais caminhar sem ajuda da cadeira de rodas. Mas eles aprenderam que o amor faz com que as coisas mais trágicas se tornem aquilo que não queremos perder. No dia seguinte eles começaram a traçar os planos para o casamento. Vestido, terno, arte do convite... Tudo bem organizado e revestido de pressa, pois já haviam adiado por bastante tempo.
- Agora que consegui, morro de medo de que você desista desse casamento, então se possível, casaremos ainda esta semana. - Disse Hanna enquanto eles seguiam até a loja onde comprariam as peças.
- Desistir? Olha só quem está falando em desistir, a senhora persistente! - Retrucou Adam enquanto dirigia e olhava pra ela.
- OLHA PRA FRENTE! - Gritou Hanna.
- Haha! Não se preocupa, amor. Eu sou um dos melhores motoristas que você já conheceu. Já assisti muitos filmes de corrida. - Disse ele sem perder a graça e lembrando-se do dia do acidente.
- Muito engraçado, senhor, mas agora trate de olhar pra frente.
- Você não precisa ficar preocupada, certo? Eu te amo e vamos nos casar. Apenas confia em mim, em nós e na minha habilidade no volante.
E mais uma vez, essas foram as palavras mais sérias que o Adam disse em tanto tempo de relacionamento.
Hanna escolheu um magnífico vestido azul que mais parecia um ramalhete de flores gigante e fez questão de mostrá-lo ao antes da cerimônia. Toda essa conversa de azar não a preocupava. Adam sabia que esse vestido previamente mostrado poderia ter sido a causa da tragédia, mas ele precisava retornar ao dia do acidente mais uma vez, então ficou ansioso para que Hanna lhe mostrasse.
- Vestido azul? Tem certeza disso? Nunca vi nenhuma noiva de vestido azul. - Perguntou Adam aguardando aquela longa explicação sobre os vestidos ao redor do mundo. - Eu sei que na Idade Média as noivas usavam vermelho e que em Portugal, até o século XX a cor do vestido da noiva costumava ser preto, não precisa me dizer.
- Ah, sabe, é? Não sabia que você andava pesquisando sobre vestidos de noiva.
- Eu faço muitas pesquisas, na verdade, mas essa história quem me ensinou foi você.
- Eu não lembro, mas tudo bem! Acho que poderíamos viajar pra uma casa de campo em Provence, no sul do país depois do casamento. Afinal, nós temos nossas economias e quase não gastamos com nada. - Disse Hanna enquanto fazia uma cara de choro.
- Pensei em Paris, amo a cidade e os cafés de lá, mas a maior atração de lá é aquela antena de rádio disfarçada de ponto turístico conhecida como Torre Eiffel. Grande coisa. Provence realmente é bem mais bonita e fotogênica!
- Eu ia falar justamente isso! Ainda bem que concordamos. - Hanna ficou muito feliz com a ideia de conhecer os campos de lavanda que existem em Provence. Até então ela só conhecia por fotos na internet. - Ótimo! Então assim que chegarmos em casa, pesquisarei sobre um hotel legal e romântico.
- Você é quem manda, ó senhora dos campos.
Em alguns momentos Adam sentia-se aflito por estar "mentindo" pra ela, mas agora ele podia sentir ainda mais o poder da sua própria tese de que pra toda ação existe uma ficção.
No dia 16 de março de 2060 a cerimônia enfim aconteceu. Saiu tudo como planejado. O local escolhido era simples, mas inesquecível. Havia um lago que cortava o jardim da casa e o som natural dos animais ecoava nos ouvidos de todos que prestavam atenção em cada detalhe citado pelo padre. Todos os convidados compareceram e encheram o casal de abraços e desejos de felicidade, aquele básico rotineiro de sempre que acontece em todo casamento.
Enfim casados, era hora de fazer as malas.
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Looping - Ação e ficção
Fiksi IlmiahUm físico envolvido em pesquisas sobre viagem no tempo que está num looping em busca pela vida ao lado de sua amada, mas ele acaba esbarrando com alguém que dirige um misterioso carro vermelho e impede que ele prossiga nas suas decisões. Este livro...