Capítulo V

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Sabe quando você clica na opção "Li e Concordo com os termos acima" quando na verdade você mal leu o primeiro parágrafo do texto? Sou eu nesse exato momento parada em frente a um total desconhecido. O que eu sei são apenas as informações contidas no site: idade e gostos pessoais. Que minha amiga fez questão de omitir por julgar que eu poderia estabelecer uma certa antipatia. Qual a idade mesmo que ele disse que tinha? Tento puxar na memória a informação.

23 anos.

O que estou considerando ser falsa nesse exato momento, pois o que vejo a minha frente mesmo com o ambiente a meia luz é um homem que aparenta ter no máximo vinte anos. Eu disse que era furada...

— Então você é a EACF126 — indagou meio que sorrindo, era difícil enxergar apenas com a fraca luz das velas.

— E você o EACM126. Achei que não viria...— eu e minha língua grande, agora eu ia ficar parecendo uma desesperada por homem.

— Cheguei antes de você. Estava apenas vendo se valia a pena conhecer ou não a EACF126. 

Essa era o meu nome no aplicativo, a combinação algorítmica de letras e números - o EAC identificava o site "Encontro Às cegas", o F de feminino o sexo do usuário e o 126 era o número do encontro.

— Sério?! — perguntei com uma leve irritação.

— Sério que você ao invés de perguntar se valeu a pena a espera, você prefere ficar com raiva?

— Eu não estou com raiva — menti — apenas não entendi o que faz a pessoa marcar um encontro e ficar em dúvida se aparece ou não.

— Eu posso te explicar, avaliar se a companhia valerá a pena... E sim, você vale — completou segundos depois.

Permaneci em silêncio, apertando uma mão contra a outra, era apenas um jantar. Não havia motivo para ficar nervosa. Vinho, esse seria o meu calmante, levei a taça a boca e ingerir rapidamente todo o conteúdo.

— Sou tão desagradável assim que você precisa se embriagar? — perguntou debochado.

— Eu não estou tentando me embriagar.

— Não parece — sorriu.

— Dá para parar de achar que sabe de tudo ao meu respeito! — reclamei.

— Claro, então vamos as perguntas: Por que o aplicativo? — uma luz de uma lanterna iluminou meu rosto — Você não precisa disso.

— Onde achou essa later... — não concluiu pois ele levou a mão livre ao lado da cadeira e retirou uma lanterna me entregando. A quantos encontros ele já tinha ido?

— Sou novo na cidade — começou a explicar como se adivinhando meu pensamento — Um dia cansado de jantar sozinho resolvi testar o aplicativo.

— E presumo que o teste lhe agradou, pois está aqui novamente — repeti o mesmo gesto dele e iluminei seu rosto. Involuntariamente sorri com o que vi, minhas suspeitas estavam corretas, eu estava num encontro com o cara que mentia a idade. 

O EACM126 tinha traços finos – nariz arrebitado o que lhe dava um petulante, olhos verdes, cabelos cor de mel descendo em ondas pela sua face, os cabelos levemente bagunçados dando a sensação que o ventou passou e os tirou do lugar, nele essa bagunça era harmoniosa e bonita de se ver. Um retrato de um anjo, era assim que o definiria se a barbar não emoldura-se o rosto que exibia um sorriso perfeito.

— Passei no teste?! — sorriu abertamente. Abruptamente afastei a luz do seu rosto e desliguei a lanterna. — Você não respondeu a minha pergunta.

Encontro Marcado *** DEGUSTAÇÃO ***Onde histórias criam vida. Descubra agora