4. Veterano

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O PAI DE FRANKIE, FRANKLIN, queria um filho homem para batizá-lo

com o mesmo nome que o seu. Entretanto, ele sabia que, uma vez que Ruth tinha

quarenta e dois anos quando Frankie nasceu, provavelmente ele não chegaria a

ter um. Ele decidiu que daria à garotinha o nome mais próximo possível de Frank.

Então eles deram a ela o nome de Frances, e passaram a chamá-la do que ela é

chamada até hoje.

O pai dela virou Sênior, um apelido que combinava com ele.

Quando Frankie tinha cinco anos, seus pais se divorciaram. Ruth achava que

Sênior não dava o devido valor para suas capacidades intelectuais e seus esforços

pessoais. Sênior (um ateu de família protestante) se irritava com o fato de Ruth

ser judia praticante, e sentiu que a pressão de manter relações com duas meninas

pequenas e uma esposa por vezes mal-humorada estava interferindo no

aperfeiçoamento de suas técnicas de golfe e no avanço de sua carreira médica

(que não era tão célebre quanto ele desejava). Depois da separação, Ruth levou

as crianças para viver perto de sua família, em Nova Jersey, enquanto Sênior

continuou em Boston, fazendo visitas mensais às crianças — e pagando todos os

gastos do colégio interno.

Sênior Banks era médico especialista em problemas pulmonares. Em sua

mente, porém, ele era um Veterano — mais preocupado com a sua rede de

camaradas da Ivy League do que com as doenças de seus pacientes. Ele estudou

na Alabaster (no tempo em que era exclusiva para meninos), depois foi para

Harvard, assim como o pai dele tinha estudado na Alabaster e depois ido para

Harvard.

"Veterano" é o mesmo que "aluno experiente", mas na cabeça de Frankie —

mesmo antes de sua explosão intelectual no segundo ano — o termo ainda era

válido para o seu pai. A juventude de Sênior ainda era seu principal aspecto

definidor. Seus antigos colegas da escola eram seus amigos mais próximos. Eles

eram as pessoas com quem ele jogava golfe, saía para beber, e cujas casas de

campo ele visitava nas férias. Eram as pessoas que Sênior recomendava para

vagas de emprego, que o mandavam pacientes e o convidavam para integrar a

diretoria de organizações artísticas — pessoas que o conectavam a outras

pessoas. Sua carreira médica se tornara consideravelmente mais rentável na

última década, desde que ele se divorciara de Ruth.

Quando Frankie ia começar o segundo ano, ela e Ruth dirigiram até Boston e

buscaram Sênior para a última parte da viagem. Apesar da relativa falta de

envolvimento em sua vida, o pai de Frankie não perderia a oportunidade de dar

uma volta no velho campus e relembrar seus dias de glória. Ele e Ruth

mantiveram uma atmosfera de gentileza falsa e tensa enquanto o carro seguia

em direção a Massachusetts.

Enquanto dirigia, Sênior ia falando sobre patinar na lagoa e ir a jogos de

futebol.

— Estes serão os melhores anos da sua vida — ele declarou. — É agora que

você vai fazer as amizades que vão durar para sempre. Essas pessoas vão te

conseguir empregos, e você vai conseguir empregos para elas. É uma rede que

trará oportunidades, princesinha. Oportunidades.

Ruth suspirou.

— Sênior, fala sério. O mercado de trabalho é mais democrático agora.

— Se está mudando — resmungou Sênior —, por que eu estou pagando pela

Alabaster?

— Para que ela tenha uma boa educação?

— Não estou pagando pela educação. Isso ela poderia ter gastando dez mil

dólares a menos por ano. Estou pagando pelos contatos.

A mãe de Frankie deu de ombros.

— Só estou dizendo para aliviar um pouco a pressão. Deixe a princesinha

encontrar seu próprio caminho.

— Alô, mãe — disse Frankie, do banco de trás. — Eu posso responder por

mim mesma.

Sênior tomou um gole do café que estava numa garrafa térmica.

— Estou sendo realista, Ruth. É assim que o mundo funciona. Você entra no

clube, se dá bem no clube, e isso torna sua vida mais fácil. Depois disso é moleza

conhecer as pessoas certas para fazer qualquer coisa que você quiser.

— Nepotismo.

— Não é nepotismo; é como o universo funciona. As pessoas contratam

pessoas que elas conhecem, escolas admitem pessoas que elas conhecem. É

natural. Frankie está criando vínculos, e as pessoas estão criando vínculos com

ela.

— Pai, já faz um ano que eu estudo lá. Você está falando como se eu nunca

tivesse ido à Alabaster.

— O segundo ano foi quando as coisas realmente começaram a acontecer

para mim.

Frankie pensou: Pobre Sênior. Ele não tem vida. Só a lembrança de uma vida.

É patético.

Então ela pensou: Eu não tenho amigos na Alabaster de quem eu goste tanto

de ter por perto quanto Sênior gosta dos amigos dele do ensino médio.

Talvez eu seja patética.

E então ela pensou: Toda essa história de clubinho é idiota.

E então ela pensou: Eu gostaria de estudar em Harvard.

E então ela pensou aquilo que não tirava da cabeça durante toda a viagem até

a Alabaster: Será que Matthew Livingston vai prestar atenção em mim este ano?  

O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks (E.Lockhart)Onde histórias criam vida. Descubra agora