Depois de todo estranhamento das primeiras semanas, Woshi está mais acostumado com o modo de vida dentro da rotina do Dr. Polo. Esses últimos dias foram como uma montanha-russa, talvez com muito mais loopings do que o que se espera...
— Mainha, eu tô bem! Eu juro! — Ligar para sua mãe era, talvez, a tarefa mais árdua do seu dia... Finalmente um dia de "folga".
— Não me faça ter que ir ver com meus próprios olhos, Woshinton! — Sim, esse é o nome de Woshi, que ele evita ao máximo, até em apresentações oficiais prefere cumprimentar usando o apelido.
— Calma, não precisa. Me deixe ir agora, preciso escrever algumas coisas, ainda arrumar a casa... Sabe, adiantar a vida.
— Tudo bem, mas me ligue mais. Tenho tanta saudade.
— Também, mainha. Um cheiro.
— Cheiro. — Desligou o celular já com o coração apertado.
Então, organizou as pilhas de papéis em montes, colocou sua caneca de café sobre a mesa e partiu a anotar, editar, colar post-its e tudo que seu trabalho demandava. Woshi acabou descobrindo que seria mais um "faz-tudo administrativo" do que somente um assessor.
Lembrando de seu começo de seu trabalho, percebeu que o mais estranho de tudo era todo aquele discurso com que o deputado o recebeu no seu primeiro dia. Havia seguido tudo a risca, e realmente, tinha valido muito a pena. As reuniões nunca tinham hora certa, podiam ser de manhã no escritório oficial ou durante a madrugada na casa de algum político aliado. Tudo suspeito? Com muita certeza. Divagar sobre aconduta do seu patrão não pode fazer parte de seu dia, não hoje, pois uma crise de consciência é tudo que Woshi não queria.
Espantando as divagações de sua mente, Woshi pega sua caneta favorita, um presente de seu pai. Aperta o botão acima, tenta escrever com ela. Nada.
— Ué.
*PLIM*
Chegou a hora.Mais uma apertada no botão. Clique.
Nada.Woshi aperta mais uma vez e com muita força.
...
Seu corpo parecia ter dobrado de peso, tudo na sua sala girava loucamente. A caneca ainda cheia de café desliza e cai no tapete redondo da sala. Tudo começa a escurecer. Isso acontece em um giro seguro e interminável.
— Mas, que porra é essa? — Woshi pensa exasperado. Tocando seu corpo como se procurando alguma ferimento, sua visão começa a voltar.
Não estava mais na sua sala, isso era óbvio. Um salão rodeado de estantes de mogno era o seu cenário agora. Ainda sem entender muita coisa, Woshi começa a circular colocando a mão nos livros que são muito bem ordenados e limpos. Todos em áreas próximas a política brasileira, coincidentemente.
Vai até a mesa que se encontra em frente à duas janelas verticais enormes.
— Quê? — Sobre a mesa, um porta-retratos com uma foto dele com o Dep. Polo abraçados segurando uma grande bandeira sobre um palanque. Parecia até que eles eram... amigos? — Meu café tem drogas?
— Doutor? — Uma voz se eleva na porta no canto direito de onde Woshi se encontrava.
— Será que você pode me explicar o que está acontecendo? — A pessoa que entrou era um homem com uns 60 anos usando um terno muito bem engomado.
— Certamente, doutor. — Entrou e fechou a porta atrás dele.
— Pare de me chamar de doutor! — Woshi quase gritou. Percebendo que não sabia com quem estava falando, resolveu tentar ser mais calmo. — Então, onde estou?
— Onde? — O senhor respirou fundo. — O senhor está na sua casa, ora. Mais precisamente, na sua casa de Brasília.
— Brasília? — Seu coração se acelerou. — Casa DE Brasília?
— Sim, o senhor mora aqui há alguns anos. Já está no terceiro mandato como deputado fed...
— COMO? — Woshi começa a hiperventilar. — Terceiro? Hãm? Que dia é hoje?
— 14 de maio de 2022.
— Não! Estamos em 2017! Que brincadeira é essa?
— Acalme-se, senhor. Deseja um chá?
— Pode ser. — Então o senhor virou-se para um aparador na parede lateral, preparou um chá e entregou a Woshi. Quando terminou, Woshi já tinha várias possíveis respostas para o que estava acontecendo. Mas precisava saber com toda certeza. — Desculpe-me por ter começado tão mal, qual é o seu nome?
— Tudo bem. Meu nome é Luís. Eu sou uma projeção que lhe mostrará o que o futuro lhe reserva.
— Alguém mexeu no meu café?! Tô alucinando!
— Eu vou explicar tudo. Você está tendo a oportunidade de visitar o seu futuro, um futuro dependente de como você vive seu presente, da forma atual.
— O que você quer dizer: se eu continuar trabalhando com Dr. Mateus, eu vou ser dono disso tudo?
— Exato. Mas você não seria dono só de bens materiais... teria influência, poder, pessoas que fariam de tudo só pela sua aprovação.
— Então finalmente estou fazendo a coisa certa, isso é tudo que eu sempre quis. — Woshi sentia se extasiado. Se aquilo tudo que estava ao seu redor era seu, ansiava mais do que nunca pelo futuro.
— Essa oportunidade não é dada à toa. Depois dessas experiências, você vai ter que decidir o que quer fazer: se vai continuar com seus hábitos, ou se vai mudar, pra melhor ou não...
— Claro, claro... — Porém, ele só pensava em tudo que teria, mal ouvindo a explicação de Luís.
— Está viagem tem uma regra.
Woshi interrompeu seus pensamentos depois do silêncio enfático que Luís deu a essa frase.
— Qual?
— Você nunca poderá contar sobre isso a ninguém.
— Combinado.
— Você ainda não conheceu seu eu futurista, não é mesmo? Vamos a sua primeira parada.
— Com certeza.
— Então prepare-se. — Saíram do salão, que agora sabia que era seu escritório, caminharam por um longo corredor com algumas peças artísticas e mais livros. Pararam em frente a uma porta dupla, um salão social. Palavras não descrevem o espanto de Woshi assim que Luís abre a porta.
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EFÊMERO
General FictionConheça Woshi, um cara que tem a oportunidade de ver seu futuro. Sua mente ecoa pensamentos comuns a todos nós: Como será ver a sua vida passar na sua frente? Será que essa a única forma de crescer e ser o que sempre quis? Vale a pena seguir seu son...