Woshi e Luís desceram a escada curva até o andar térreo, a sua direita estava uma cozinha espaçosa com detalhes prateados, limpíssima. Adentraram e sentaram-se ao lado do grande balcão, onde provavelmente eram preparadas as refeições, no centro do cômodo.
— Já adianto que não consigo comer nada... — Woshi adiantou.
— Tudo bem. Vamos continuar a conversa. Pode ser?
Woshi confirmou com a cabeça, suspirando ao mesmo tempo. Entender a situação e os fatos que Luís tem adicionado estavam fazendo uma sopa de letrinhas com os seus neurônios.
— Eu posso perguntar qualquer coisa?
— Claro e eu responderei dentro do que possível... Existem fatos que são irrelevantes pro seu futuro, e isso eu não vou gastar tempo dizendo ou explicando. — Luís parecia mais sério a medida que falava.
— Eu vou ter família? Não que isso seja um desejo, mas tenho curiosidade...
Na verdade, Woshi queria construir uma família, já que era filho único, no fim queria ter alguém por perto quando não tivesse mais sua mãe. Para não externar esse lado, nunca comentava sobre o assunto e o ignorava quando questionado pelos poucos amigos que tinha.
— Sua mãe se foi, vocês casou e tem dois filhos, mas escolheu não conviver com eles. — Luís respondeu com um ar de... reprovação?!
— Como... Nossa. Eu os deixei? — Perguntou reconhecendo que talvez pudesse ter feito algo do tipo.
— Depende do que chama de deixar. Você casou por conveniência, teve filhos por conveniência, nunca os deixou desamparados financeiramente, mas nunca esteve presente também... Eles mal te conhecem.
A frieza com que Luís terminou a frase talvez fosse a mesma com que a pele de Woshi teve arrepios depois da informação de que ele tinha filhos, mas ESCOLHEU não se relacionar com eles.
— Eu tenho uma esposa então... — Acrescenta ainda muito curioso.
— Muito bela e extremamente esperta. Sabe o que você faz seus negócios e não aprova. Por isso, passa o máximo de tempo longe com as crianças.
— Então eu fico aqui sozinho?
— Sim. Você mesmo gosta de dizer que interferências indesejadas são mantidas afastadas, mas acredito que fala isso pra se sair por cima, já que quem mora fora é a sua esposa.
— Mas, eu adoeci. Ela não vem nem cuidar de mim? — Eu ia ser tão ruim assim?, pensou.
— Ela vem mensalmente, deixa tudo em ordem e vai embora. Você é acompanhado por enfermeiros toda hora. Não entenda mal, mas ela não sabe bem o que fazer... O casamento servia como alavanca social e só.
A vida dele parecia ser infeliz, todos estavam afastados... NÃO, Woshi pensou, olha tudo isso que vou ter, não vou ser infeliz, vou ser muito rico!
— Sabe Woshi, a sua fortuna é como um oceano... — Luís consegue ler mentes?! — Não existe linha física que delimite um oceano do outro, não existe limite entre o que é seu e o que foi roubado do povo.
Pensou naquele fato agora explícito: Woshi seria corrupto até o pescoço, não, até o último fio de cabelo. Então naquele futuro ele teria tido realmente o sangue frio para fazer os "jeitinhos" que assistia o Dep. Mateus Polo fazer naquelas reuniões não registradas tarde da noite.
— Mas este sistema existe a tanto tempo... Não há outro modo de se fazer política no Brasil! A culpa não é só minha... Olhe só, me responsabilizar por algo-...
— Não estamos aqui pra discutir os erros da política brasileira. Percebo que gosta muito do assunto, mas aqui não há interesse algum nisso. — Interrompeu rapidamente. — O que nos importa aqui é sua participação nisso, a sua vida.
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EFÊMERO
Fiksi UmumConheça Woshi, um cara que tem a oportunidade de ver seu futuro. Sua mente ecoa pensamentos comuns a todos nós: Como será ver a sua vida passar na sua frente? Será que essa a única forma de crescer e ser o que sempre quis? Vale a pena seguir seu son...