CAPÍTULO QUATRO

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— Ok... Eu vou crescer na classe política, ser influente, poderoso, rico. Por que eu preciso tanto ter essa "experiência"? — Terminou fazendo aspas no ar com os dedos.

— Você não acha que precisa? — O rosto de Luís estampava incredulidade. — O ponto de ramificação é possível para pessoas que ainda não percebem o alcance que podem ter na vida dos outros, serve pra pesar as ações futuras.

— Então isso me obriga a mudar? E se eu quiser ser exatamente desse jeito... isso sempre foi tudo que eu sempre quis! Isso é tão errado? — Os sentimentos começavam a se misturar desde a vergonha que começava a florescer até a raiva borbulhante de tanta coisa que ele passou até o presente e Luís parecia não saber.

— Claro que não é errado... Faça com isso o que achar melhor. Não estou aqui pra julgar suas ações... Existem pessoas que usaram a informação pra tirar vantagem, outras entraram em estado de medo constante de fazer algo que mudasse o que viram. Cada um reage de uma forma diferente, mas a escolha sempre é pessoal.

— Eu não sei o que pensar. Vou ter tudo o que lutei pra ter, mas desse jeito? Sozinho e de uma forma errada... — As informações criavam um conflito com os valores de Woshi.

Ouvir aquelas palavras carregadas de significado fez Woshi pensar como seria realmente se tornar aquele homem estranho que Luís descrevia. Até agora, só enxergava as vantagens que viriam com a ascensão da carreira, ou só queria enxergar isso. Porém no decorrer da sua experiência começou a perceber que perderia muita coisa, como a presença dos filhos ou até da esposa que nunca conheceu, pelo jeito, em nenhuma das duas vidas.

Certo e errado, bom ou ruim, essas palavras são tão opostas para a maioria das pessoas. Mas no fim, Woshi percebeu que tudo isso não passava de ponto de vista. Olha como sua vida seria... Valeria realmente a pena?

— Luís, eu preciso de um tempo pra pensar... Posso? — Toda essa confusão deixava sua cabeça a ponto de explodir, até suas mãos já estavam um pouco suadas.

— Tudo bem, ali atrás é uma das áreas sociais da sua casa, tome o tempo que precisar e me chame quando terminar. — Disse apontando uma larga porta envidraçada com bordas metálicas.

Ao deslizar a porta de vidro na lateral oposta a que entrou, se viu sobre um deck de madeira escura com grandes cadeiras brancas estofadas e uma mesinha redonda no centro. Todo aquele espaço era ao ar livre e a lua brilhava com extrema beleza naquela noite.

Sentou-se quase que se jogando na cadeira a sua direita, colocando as mãos sobre cabeça tentando absorver todas as informações, pensando em tudo ao mesmo tempo: no seu eu inerte no quarto, na ascensão política meteórica, na "família" que construiria por conveniência e no que teria que fazer pra chegar naquele patamar, o homem que se tornaria e no fim que ia ter.

Mais do que isso, agora começou a pensar nas pessoas envolvidas, quantos depositariam sua fé nele pra que ele cumprisse as promessas feitas em tempos de eleições? Quantos estariam realmente precisando do que ele via políticos usando como barganha no escritório do Dep. Polo?

(...)

Woshi não aguentava mais aquele looping de pensamentos, tinha vontade de chorar tamanha agonia que lhe causava pensar em escolher entre lados que, na verdade, nem sabia qual eram.

Não poderia ser grandioso, rico, um político influente e, ao mesmo tempo, um homem bom, que ajuda as pessoas e ter uma familia saudável? Um tempo depois se deu conta: É ISSO!

(...)

Woshi voltou pra cozinha depois do que para ele pareciam ter sido horas, mas Luís ainda estava na bancada na mesma posição que o deixou. Aquele homem transmitia tanta calma e força no modo de falar ao mesmo tempo, seria um robô? Um anjo? Rejeitou logo o questionamento pra que não ficasse mais confuso do que estava.

— E então, Woshi? Pensou? Chegou a alguma conclusão? — Luís sempre com a mesma expressão.

— Na verdade, tenho mais uma pergunta. — Suspirou e logo engatou, voltando pra seu lugar perto da bancada. — Eu posso ter essa influência (pra não dizer riqueza), mas de outra forma, uma forma correta?

Luís riu um pouco.

— Ah! Pensei que nunca ia perguntar...

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