E13 - Purificação na Floresta

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  Estou em cima de uma árvore faz sete horas, e eles ainda não apareceram. Não sei quantos estou a ponto de apagar mas se o Instituto solicitou então deverá ser feito. Foi assim que fui ensinado por toda minha vida, com punições e ultrapassando limites do meu corpo e mente, enfrentando a morte a cada dia para conseguir ser o que sou hoje. Um Purificador.

  Como o próprio nome diz, eu purifico as coisas. Purifico o mundo de seus defeitos, que a Instituição possui o dever de nos mostrar quais são.

  Ouço um ruído e me viro instantaneamente para o local de onde veio o barulho. Uma coruja me fixa com seus olhos amarelos perfeitos. Ela não deve ser muito habilidosa por fazer barulho, afinal, seu vôo é o mais silencioso entre as outras aves, e é por isso que a admiro tanto. Mas talvez seu barulho foi mínimo, e minha audição apurada que me fez identificar seu toque na madeira, da mesma forma que conseguia me comunicar com R43 todas as noites com Morse.

  Será que ele está indo bem agora que está sem mim para auxiliá-lo? Nesse momento ele deve estar estudando Ação Retardadora ou Perseguição. Tomara que não erre nada e não receba nenhuma punição. Mas pensando bem isso não vai acontecer, pois mesmo ele não sendo tão empenhado como eu fui no desenvolvimento de atividades físicas ele ainda sim é um ótimo Pupilo.

  Uma voz ecoa pela mata, mesmo que quase inaudível. Deve estar a cinquenta metros longe de onde eu estou e se aproximando cada vez mais.

  Fecho meus olhos pensando na precisão que preciso ter e faço paredes entre minhas memórias e consciência para sobrar somente o instinto que desenvolvi com tanto sucesso todo esse tempo.

   A ferida não foi curada. Para ser cicatriz deve ser purificada.

  Penso. Esse é o meu lema, o nosso lema. O lema do Instituto, e com ele eu continuo mantendo minha força de vontade e sentido da minha vida.

  Os passos se aproximam e idêntifico o alvo. Alto, forte com cabelos ruivos, sardas no rosto com olhos verdes como um espelho cintilante de tão claros. Dois outros homens o acompanham e eles também possuem porte atlético, um de pele escura com a cabeça raspada e o outro com a pele vermelha por queimaduras de sol e cabelos pretos encaracolados. Eles serão os telespectadores. Não pode haver telespectadores. A voz do Irmão Carmem é instantânea em minha mente.

  Todos são muito saudáveis então terei de ter muito cuidado. Tenho somente treze anos e um metro quarenta e sete. Qualquer movimento em falso pode ser fatal.

  Não sei se executo a ação aqui de cima com as facas de arremesso ou com as flechas. Com munição de fogo não será uma boa, pois terei de tirá-las do seu corpo para limpar os registros de assassinato. Acho que posso fazer com que seja identificado como uma briga entre eles. Ou simplesmente eu enterro os corpos junto com fezes de animais para que sejam consumidos pela decomposição de maneira mais rápida.

  Terei de ir no armazém e trazer  sacos de adubos pois a busca  pelos corpos será grande por ele ser filho de um senador que está exigindo maior investigação em um caso de lavagem de dinheiro em órgãos públicos. Ou seja, seu pai aparece no mínimo umas sete vezes por dia nos noticiários. 

  Armo três facas de arremesso e me levanto no galho da árvore. Como eles estão caçando- ou pelo menos eles acham que sabem fazer isso de maneira plausível- possuem somente facões, facas pequenas e uma espingarda. O de pele escura possui um arco com somente duas flechas que ele carrega na própria mão. Amadores. Mesmo assim terei de ter cuidado com ele. Será o primeiro. O ruivo por último. Estou cinco metros do chão, e mesmo o galho abaixo sendo muito fraco, ele será o suficiente para amortecer minha queda não me fazendo ferrar com o meu joelho.

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