O trem para. Fecho meu livro e olho para o lado. Olhos azuis me fixam e é como se o mundo parasse me deixando em êxtase. O barulho das borrachas das portas se abrindo ecoam e os passos das pessoas desembarcando começam.
-Com licença- Diz a pessoa ao meu lado para conseguir passar e desembarcar.
Meus olhos desgrudam dos do garoto que me encarava e olha para a moça ao lado. Dou um passo para frente pra ela passar e olho novamente para onde o garoto estava, mas a cadeira está vazia. Como ele sumiu tão rápido?
Desembarco na estação Pinheiros e começo a descer as escadas rolantes para ir para outro metrô da linha amarela. Eu poderia ir direto para cidade universitária onde eu faço faculdade, mas fiquei de encontrar o José no Butantã para irmos discutindo sobre os conflitos no oriente médio. Ele está com dificuldade na aula e eu gosto de ajudar as pessoas que estão no primeiro semestre. Deve ser uma tremenda loucura ir direto do ensino médio para a faculdade como ele fez. Já eu tive um longo ano de cursinho pré-vestibular para conseguir isso.
Quando chego na estação Butantã o José está me aguardando depois da catraca.
- Olá Sabrina, ou melhor, Carlos Andrade Jr. - Ele diz num tom de brincadeira.
Meu pai é um importante repórter que divide seu trabalho em colunas para a GloboNews e comentários mais incisivos em um site particular onde ele mostra uma verdade mais nua e sem floreios. Particularmente ele não gosta muito de trabalhar para emissoras pois colocam muitas restrições em seu trabalho, mas o faz pois sabe que nossa família precisa de um ganha pão mensal e com o trabalho independente ele não consegue garantir um salário fixo. O site ficou muito conhecido ano passado por descobrir um esquema de desvio de dinheiro de milhões no nordeste fornecido pelo governo. Foi então que as emissoras não puderam restringi-lo tanto e ele ficou mundialmente conhecido por seu trabalho excepcional nas investigações independentes que fez. Ganhou alguns inimigos no caminho, mas isso é algo comum na vida de um repórter.
Mantenho meu pai como fonte de inspiração todos os dias e decidi também fazer jornalismo para seguir seus passos.
-Um dia quem sabe chego lá. - Digo sorrindo.
José é particularmente bonito e confesso que talvez essa seja uma das motivações para eu querer ajuda-lo. Olhos castanhos claro um pouco puxados e a pele numa cor de chocolate linda. Um físico que se aproxima de alguém que pratica esportes, mesmo sendo um NERD/GEEK assumido com suas camisetas de personagens de vídeo games e bandas indies. Não tenho tanto interesse assim, mas é aquilo, se surgir oportunidade eu não tenho nada a perder.
Entramos no ônibus e eu começo a explicar pra ele sobre as religiões do oriente médio e o quanto isso influencia as guerras. José anota tudo atentamente no bloco de notas do celular enquanto eu continuo falando. Só para de digitar quando não entendeu algo e levanta o rosto para me perguntar.
Decidimos descer no CRUSP, onde os alunos que ganharam moradia na Universidade ficam, para encontrarmos a Talita que estuda com José. Ele precisa entregar um material para ela "aprovar" antes que ele entregue ao professor. Quando me levanto do banco do ônibus e caminho em direção a porta, o meu coração gela novamente. Os mesmos olhos azuis do trem me encaram, mas agora estão de frente comigo. Fico no meio do corredor do ônibus então José toca meu ombro.
- Você está bem Sabrina?
- Sim, eu... - Não consigo pensar em alguma coisa. O garoto continua me encarando.
- Você estuda aqui? - José diz e os olhos do garoto desviam do meu e vão para o meu amigo.
- Não, eu estou só conhecendo o campus. - Diz o garoto casualmente.
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Contos do Instituto
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