Recomeços/Pedaços

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Nasci em uma família importante porém muito reservada, de poucas conversas e muitos segredos. Segredos pelo qual exigem transformações que antes do meu vigésimo aniversário não faziam parte de quem eu era. Por vezes duvidei. Tentei por várias vezes fugir. Tentei despistar. Tentei dizer que quis, mas não quis tanto assim. Havia algo maior acontecendo ali e eu não podia ter o controle, simplesmente não podia. A minha verdadeira história começa no inverno de 1999 em Winchester,Virgínia onde os meus avós de ambas as partes moravam, e a cada dois invernos o terceiro sempre passávamos lá. Era como um ritual, toda família se juntava e passava o mês inteiro contando como tinham sido os dois últimos anos, quem tinha casado e tido filhos e quem eram os próximos a completarem vinte anos. Meus primos e eu ficavámos reunidos na biblioteca longe das conversas dos adultos pois eles diziam que nós iríamos ficar entediados com quaisquer que fosse o assunto. A cada dois anos era sempre a mesma coisa, todos se reuniam e após o mês acabar cada família voltava pra sua cidade ou país de origem. Mas naquele inverno que por sinal foi o mais rigoroso em 50 anos, tudo mudou. Estava na biblioteca como sempre conversando com dois de meus primos o Leonel e o Miguel.

Eles tinham características distintas e em nenhuma circunstância pareciam ser primos. O Leonel era italiano, tinha 18 anos e morava com sua mãe,a tia Karine em Milão. Já o Miguel era mexicano, também com 18 anos e morava com os pais em Mérida na capital do estado do Lucatã. Nós três somos próximos até hoje e a única coisa que nos liga como uma família é o sangue, mesmo sendo de partes diferentes do mundo, éramos ligado por uma força ainda maior.

Estávamos falando sobre todos aqueles livros grossos que nunca iriamos precisar mas que toda família fazia questão de manter todos ali, alinhados​ em ordem alfabética. Quando de repente por volta das 23 horas do último dia do mês alguém bate na porta e como todos estavam no porão, eu e meus primos fomos ver quem era. Antes de abrir a porta senti que do outro lado tinha alguém que estava muito ofegante e tossia muito, então me preparei para atender um viajante ou um mendigo. E ao abrir finalmente, vejo um homem de estatura mediana, moreno e todo ensanguentado caindo aos meus pés e imediatamente meus pais chegaram por trás de mim me tirando de perto e pedindo para levar meus primos lá pra dentro. Eu não fazia ideia do que estava por vir e quando finalmente tudo se acalmou e todos estavam sentados em volta do homem já enrolado num cobertor, ouço tons de vozes trêmulas e desacreditadas, se perguntando a todo instante. Quando surge meu pai, dizendo que íamos pra casa e que não iríamos esperar amanhecer. Ele pegou todas as nossas coisas em questão de minutos e minha mãe e eu entramos no carro sem falar uma palavra. No caminho ouço eles cochichando e olhando pra mim o tempo todo, como se a culpa fosse minha ou algo relacionado diretamente a mim. Foi quando eu tomei coragem pra perguntar o que estava acontecendo, e então meu pai olha pelo retrovisor e fala:
- Está na hora de saber quem realmente você é.

Algumas Luas ( Primeira temporada ) Onde histórias criam vida. Descubra agora