Explicações

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Não demorou muito para que a vontade que eu tinha de rever meus amigos sumisse. Não me sentia bem, nada me deixava interessada a não ser uma vontade incontrolável de estar correndo. Na mesma noite, logo depois dos meus pais irem dormir, pulei a janela do meu quarto e fui caminhando até um bosque perto do Park West. Ainda não estava cem por cento mas todos os meus sentidos haviam se aguçado a medida que me aproximava do bosque. Não havia ninguém lá. Só algumas corujas e o barulho do vento nas árvores fazendo a brisa tocar levemente as minhas costas, como se estivesse me guiando, então deixei que me guiasse.
Perto dali havia uma gruta bastante conservada então me sentei, olhei para os lados e não havia nada nem ninguém que pudesse me ouvir.

Gritei.

Perguntei por várias vezes o que havia de errado comigo. Chutei pedras e mais pedras na tentativa de um "Eureka" surgir.

Nada.

Silêncio e brisa leve.

Foi ai então que lembrei das palavras que o meu pai havia dito, de que quando eu me sentisse perdida voltasse pra casa, e por um detalhe não voltei. Sentia que ali era meu lugar, sozinha, isolada, ouvia de tudo e não via nada, era somente eu. Fiquei por umas três horas sentada só ouvindo o que de longe nem sabia direito o que poderia ser. Antes que o sol nascesse voltei pra casa e me deitei, fiquei esperando alguma coisa acontecer, qualquer coisa.

- Filha posso entrar?
- Claro mãe.
- Bom.. Deve estar uma confusão em sua cabeça, depois do que houve ontem
- Tipo isso. Mas eu nunca fui de reclamar em nada então por mim tanto faz
- Olha Lya, seu pai não está totalmente certo em esconder segredos sobre nossa família que de qualquer forma são seus. Só peço que me escute com atenção.
Vivemos num mundo que se dividem em duas partes. A primeira é a que você conhece e vive. A segunda parte você só pode conhecer quando se conhecer.
- Mas eu me conheço mãe. Não vou surtar se você me disser que eu tenho uma grave doença hereditária
- Não Lya, não é uma doença. Você vai descobrir que à outras coisas nesse mundo, está prestes a fazer 20 anos e está quase se tornando..
- Me tornando..?
- Uma herdeira.
- Como assim? Por ser filha de vocês eu já não sou uma herdeira?
- Sim mas..
- Só um minuto..a não ser que eu não seja filha de algum de vocês! Era isso? mãe se era isso fique tranquila, eu..
- Calma Lyall, você é nossa filha sim. E pra deixar claro, é biológica. Não sei quando você irá se tornar uma herdeira mas será em breve, por isso te peço pra que não vá às aulas esse ano.
- Como é? como não? Ô mãe, é meu sonho ..
- Sim eu sei. Mas você vai passar por tantas coisas que a universidade não vai ter espaço em sua vida. Não agora..
- Eu posso fazer as minhas escolhas e se por um acaso eu tiver precisando de tempo, vou me dar.
- Tudo bem filha. Então você está animada pra depois de amanhã?
- Nem tanto, vou ganhar um carro?
- Talvez.
- Caraca! sério?
- Não disse nada. Agora vou pra cozinha fazer o café, seu pai disse que poderia correr com ele hoje se quiser
- Ótimo, já estou descendo

Meu pai e eu sempre fomos muito próximos, pra todos os lugares ele queria me levar e quando não podia dava um jeito de irmos tomar sorvete. Mesmo que não tivesse um filho homem, sempre dizia que eu sempre iria ser a melhor parte da vida dele do jeito que sou. Já a minha mãe sempre foi misteriosa mas nunca deixou faltar nada pra nós. Seu mistério passou pra mim geneticamente falando. As expressões faciais e o jeito como fala. Já do meu pai eu puxei a cor negra dos cabelos, os olhos marcantes e o jeito de resolver as coisas.

E dá última vez que nos vimos eu estava quase da altura dele.

Como havia dito antes, temos parentes por todo canto do mundo e a maioria estão espalhados por toda Europa. Lá vivem os mais ricos e poderosos, os que não gostam muito de dar as caras em reunião de família. O único que eu conhecia se chamava Adams, mas ainda não preciso contar sobre ele.

Com o tempo passando rápido, logo vi que faltavam poucas horas para que eu completasse 20 anos. E quis tirar a minha dúvida do porquê que só os meus vinte anos era o mais importante.

- Ô pai, pode me tirar uma dúvida?
- Claro, pergunte.
- Promete responder?
- Só pergunte Lya..
- Porquê os meus 20 anos são mais importantes que os 15?
Meu pai arqueou uma das sobrancelhas e disse:
- Porque é quando você se torna responsável diante de mais algumas outras obrigações..
- Ah é? Quais são?
- Não ser xereta é uma delas
- Isso é obrigação?
- Acabei de decretar que sim
- Qual é pai..eu sempre fui compreensiva com tudo nessa casa, custa ser franco comigo por uns minutos?
- Certo, vamos lá. Quando uma pessoa da família completa 20 anos, algo acontece. Você ganha um dom. Cada um tem um dom especial e você terá o seu. Pronto?!
- Gostei. Mas qual o seu? e o da mãe?
- O meu você viu quando olhou para os meus braços naquela noite..e o da sua mãe..Bom, porquê não pergunta a ela?

- Ô MÃE? QUAL SEU DOM? - gritei da cozinha
- Como?
- Qual é o seu dom?
- Jeremih..
- Tudo bem, querida, eu que pedi pra ela perguntar. - falou meu pai
- Certo.. você não pode rir. Promete?
- Prometo.
- Proteção. Esse é o meu dom.
- Qual é mãe!!! fala sério ...
- Eu falei sério. Só acredita vendo?
- Se me pedir pra passar um ano sem ver ninguém não for proteção, me retiro..
- OK espertinha.. você verá em breve, tomara que não precise.

Depois daquela conversa eu me sentia um pouco mais inclusa nos assuntos e fui dormir pensando. Afinal, meu aniversário era no outro dia.

Algumas Luas ( Primeira temporada ) Onde histórias criam vida. Descubra agora