Primeiro Contato

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A cada passo que eu dava dois eram tropeços. Estava assustada mas não com medo. Me sentia observada minuciosamente pela escuridão, como se cada gesto meu fosse premeditado. A neblina começava a tomar conta de todo lugar, estava ficando sem opções. Quando então passei a ouvir uma forte respiração, que parecia estar com muita raiva e rapidamente vindo em minha direção, então, parei. Respirei fundo e decidi encarar o que quer que fosse aquele animal.

- Lyall!!! - falou a voz se misturando aos rosnados
- APAREÇA!
- Entenda. Você não faz parte desse mundo. Você não está pronta para o que irá acontecer. Mas não podemos fracassar novamente. Quando esse dia chegar virei atrás de você e então sofrerá por cada morte que já causou.

Aquela voz se misturava aos rosnados mas cada palavra dita era uma sensação de que haviam facas entrando em meu corpo. Fiquei alertava em todo momento para saber quem estava por ali, me vigiando mas eu não conseguia ver nada. E quanto mais a neblina ficava densa mais as facas entrava em meu corpo.

Que sensação era aquela? Porque eu não conseguia me mexer?

Ouvi os cachorros do bairro começarem a latir então tomei uma direção, fui seguindo o som dos latidos até chegar no portão do Park West. Estava desorientada e não sabia que horas eram, mas para mim, tinham se passado muitas.
Ao chegar em casa parecia que nada havia acontecido, tudo muito calmo e tranquilo. Meus pais estavam na sala de estar e eu tinha entrado pela porta dos fundos, com os sapatos melados de lama e ofegante demais para falar onde estava ou dar explicações. Por não querer levantar suspeitas do meu estado então naquele momento decidi tomar um banho calmo e demorado, tentar me orientar e perguntar sobre alguns dos segredos de família.
Aquela voz não parecia estar fisicamente ali. Tinha certeza de que a neblina poderia disfarçar se alguém tivesse mas não tinha. Seria coisa da minha cabeça? Em parte eu gostaria que tivesse alguém ou algo ali. Somente assim eu não ia parecer louca.

- Lya? você está ai em cima? - peguntou minha mãe
- Sim, sou eu. Estava com os sapatos sujos então entrei pela porta dos fundos, já vou descer..

Para muitos a família é sinal de fraqueza, quando você faz algo muito arriscado você põe todos em risco também. Quando você se enche de coragem para amar todos em sua família. Não se engane ao achar que vai te fortalecer. O amor irá lhe deixa vulnerável, querendo ou não. E aquela voz no bosque havia me alertado, sobre algo que estaria prestes a acontecer. Minha família e eu estávamos em perigo mas eu não conseguia achar maneiras de explicar como tudo aconteceu, ia parecer coisa da minha imaginação.
Resolvi agir normalmente, só que dessa vez passei o jantar inteiro calada.

- Filha aconteceu alguma coisa? Está tão quieta..-perguntou meu pai
- Humm.. não. É só cansaço mesmo pai. Depois do jantar eu vou direto dormir, amanhã tenho uma coisas dá universidade pra resolver e já tinha marcado de ir com o João e a Nina.. - falei revirando a comida no prato
- Você não vai considerar o que sua mãe lhe pediu? sobre passar um tempo em casa, se organizando melhor..
- Até consideraria se eu soubesse do que essa organização se trata.
- Já conversamos sobre isso, Lyall.
- Fui informada. Mas tudo bem, vou pensar com calma mas antes de tomar qualquer decisão vou precisar que sentem e me falem sobre o que estão me pedindo e podem arrumar uma boa desculpa pra eu acreditar.

Mais tarde naquela noite ouvi barulhos na porta da frente e cuidadosamente levantei da cama para ver quem era. Logo depois de abrir a porta do meu quarto ouço gritos vindo de fora da casa. Não pensei duas vezes em pegar o telefone para ligar pra polícia.

- Lya!! vai lá pra cima AGORA! -falou minha mãe desesperada e toda suja.
- O que está acontecendo mãe? porque ouvi gritos?
- Vai lá pra cima, seu pai está cuidando disso, agora suba!!

Eu não obedeci. Não daquela vez.
Ao invés de subir fui pela porta dos fundos e dei a volta por fora e ao chegar na frente de casa vejo um homem com vestimentas pretas atacando meu pai. O céu parecia estar se preparando para uma enorme tempestade. Raios e luzes estava tomando conta de todo o céu somente no terreno da minha casa, toda vizinhança parecia nem notar. Olhei em volta para ver se alguém estava indo ajudar os meus pais e não via ninguém, eles só tinham a mim, e o que eu faria?

Aquele homem nem parecia humano..

- FILHA SAIA DAQUI AGORA!! - gritou meu pai

Mais uma vez eu não obedeci e pulei em cima do homem que brigava com meu pai. Aquilo foi surreal.
Então no último minuto do meu vigésimo aniversário o homem notou minha presença, e todo o seu foco havia mudado completamente pra mim. Ele me pegou pelo pescoço e olhou diretamente em meus olhos. Com seus olhos azuis brilhantes e com a voz grossa e ríspida falou:

- Então você é a herdeira..- E riu. - Foi difícil encontrar você novamente, está crescida porém frágil. Um saco de ossos em minhas mãos.
- LARGA MINHA FILHA!! - falou meu pai
- Você vai precisar de tudo que tenho pra entregar a você mas não pense que estou lhe ajudando. Infelizmente tenho que cumprir a parte do meu trato.

E então meu corpo inteiro havia sido consumido pela dor que aqueles olhos tinham. Ele me arremessou pra longe como se eu fosse um travesseiro, e antes de desmaiar vi meu pai de joelhos no chão implorando por algo.

O relâmpago cai no homem misterioso e o leva embora num piscar de olhos.

O que lembro daquela noite são flashs. O que senti correndo em meu corpo era a consequência de ser uma Herdeira.

Algumas Luas ( Primeira temporada ) Onde histórias criam vida. Descubra agora