Vestígios do Primeiro Mundo

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      Descobrir que eu era uma herdeira, foi demais pra mim. Ouvir as explicações dos meus pais sobre a existência dos dois mundos, me fez questionar em que tipo de mentira vivemos, ou eu vivi. Tudo o que eu vivi, resumido em uma mentira, em uma enorme e gigantesca. Todo aquele papo de vigésimo aniversário, dos acontecimentos na reunião em família, das dores, da voz no bosque e do homem com capuz..tudo estava começando a fazer sentido. Fui presenteada no último minuto do meu aniversário, e não podia devolver o presente.
     Todas as explicações dos meus pais não se encaixavam em mim, pois eles não sabiam o porquê que fui escolhida. Os meus pais eram lobos e eu tinha recebido todos os poderes de um feiticeiro. Então quem sou eu? Qual a minha função? Depois de alguns dias a rotina ia voltando ao normal, a sensação que toda aquela energia causava dentro de mim, foi se estabilizando, tomando lugar. Definindo que eu era.

— Mãe?
— Fala filha..
— Eu não fazer parte da forma de vocês, significa alguma coisa ruim?
— Pra nós não.
— Não que isso seja normal, nem que eu queira isso pra minha vida mas porque a minha forma não é como a de vocês?
— Lembra que seu pai falou sobre seu avô Steven?
— aham..
— Quando íamos na casa dele víamos fotos antigas e ele sempre tinha o mesmo rosto? as mesmas características?
— Sim. Sempre achei estranho..mas o que tem haver?
— No primeiro mundo isso é chamado de vida eterna.
— Então eu terei vida eterna?
— Pelo que parece sim
— Qual é mesmo sabendo que isso parece loucura não é tão ruim..ao menos não parece ser
— Porque não está assustada?
— No dia do meu aniversário, eu tinha ido estrear minha Harley, e no fim da rua no cruzamento dei de cara com um cara estranho, alto, loiro, olhos azuis e todo misterioso..eu não sei quem ele era e estou sem saber ainda, mas senti que conhecia ele de muito tempo. Ai mais tarde fui caminhar no bosque e havia sentido algumas dores, mas ignorei e continuei. Nisso tudo começou a ficar estranho o clima sabe? Tinha neblina por todo canto, e de repente uma voz chama meu nome. Duas vezes, grossa e ríspida. Resolvi correr mas não estava com medo só assustada, e teve uma hora que encarei mas não via ninguém lá, só ouvia. Comecei a sentir dores, como se fossem mil facas entrando quando ele falava comigo, ele ou ela ou o quê, não sei. Depois do que vi no braço do papai, não fiquei com medo só um pouco assustada mas então contudo de alguma forma fez mais sentido que minha vida inteira. Então não, não precisei ficar muito assustada..
— Tivemos receio em contar tudo a você. Era tão pequena e frágil.
— É mãe..mas sempre me senti incompleta. O que esconderam de mim me fez ser alguém cheias de fragmentos.
— Sinto muito. Nós sentimos muito por tudo isso. Sabe Lya, contudo que houve, eu nunca vi seu pai daquele jeito.
— Como?
— Sendo direto com  você, sem arrodeios. Ele falou tudo sem falar nas regras.
— Eu percebi que a voz dele estava trêmula ao me explicar as coisas..a propósito, que regras são essas?
— É simples. É como chegamos aqui até hoje.
— Mãe..acabei de acordar de um coma de duas semanas..
— Na verdade foram dois meses, filha. – disse ela baixando a cabeça
— Como? dois meses? mãe..
— No primeiro mundo, foram 20 anos e 2 meses. Quando escolhemos te proteger de tudo, foi como se você não existisse lá.
—  E de repente.. BOOMM!!! e quais as regras?
— Não contamos de nós a ninguém. Por exemplo, se seu pai fosse um humano, ele não poderia se envolver com o nosso mundo, nossas vidas. Não podemos mostrar nossa verdadeira forma pra ninguém.
— Nem mesmo pra quem confiamos?
– De maneira alguma, isso é quebrar as regras, nos expor é isso pode levar a nossa extinção..
— Então, se eu escolher viver normalmente neste mundo, não poderei contar sobre mim a ninguém?
— Isso. A ninguém ..

     Agora que sabia de meias verdades, a vontade de saber mais sobre minha origem me despertava curiosidade. Eu precisava conhecer o primeiro mundo. Precisava saber como funcionavam as regras e nada melhor que a família para contar histórias. Aquela altura meus pais já tinham em mente o que tinham que fazer. Estava na hora de reunir toda família e contar quem eu era.

Algumas Luas ( Primeira temporada ) Onde histórias criam vida. Descubra agora