Reunião em Família parte II

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          Quando criança costumávamos explorar todas as partes da casa dos nossos avós. Só que éramos pequenos e deixamos passar detalhes. As fotografias, os troféus, os diplomas dos meus tios e tias, a riqueza nem se fala. É tanto que nunca liguei pro dinheiro que minha família possuía. Pra nós o que importava, era todo mundo se dar muito bem, o dinheiro era um detalhe totalmente humano que tínhamos. As pessoas sempre perguntavam "porque você não vai aproveitar a vida? seus pais são ricos", mas aproveitar a vida pra mim, estava em perceber os detalhes. Os mínimos.
         Depois de olhar algumas conquistas dos meus avós. Vi uma porta entreaberta nos fundos, e lá encontrei o Miguel sentado fumando um cigarro. Ele nunca foi muito de falar, é mais fechado na dele mas sempre andava comigo e o Leo. Em todas as reuniões de família que viemos pra cá ele ficava na dele. Quieto observando, mas nunca achei que isso fosse um problema, as vezes as pessoas só querem um espaço o tempo todo.

— Miguel?
— Oi..
— Como se sente? – perguntei sentando ao lado dele
— Quer um cigarro?
— Não, obrigada. To bem.
— ...Legal. Eu estou bem.
— Não quero ser insistente, tem certeza?
— É, por ai ..– disse ele encarando os sapatos
— Nunca pensei que fosse ser tão complicado esse lance de família.

Silêncio

– continuei — Por um lado, sempre achei que faltava alguma coisa. Uns pedaços enormes talvez, os segredos que eles escondem de nós é surreal né?!
— É..
— Deixar de sair e de socializar com as pessoas vai ser difícil.. não que sejamos obrigados a não falar mas, e se um dia aparecer alguém, como vai ser? – falei, jogando umas pedras no chão
— Não entendo.
— O que?
— Não poder contar a quem confiamos. Quem nos quer bem. Você deixa de estar feliz porque a família te obriga de alguma forma.
— Eu não sei de toda história sabe Miguel, mas, sei que a nossa família não criou essas regras. Você tem esse alguém especial?
— Sei lá. Tinha eu acho. Tive que me afastar de todos depois da minha..
— Não precisa falar.
— E você?
— O que tem eu?
— Com essa nova versão de audição, pude ouvir a conversa que teve com o Leo.. desculpe
— Tudo bem. Eu não sei como me sinto, e não tenho ninguém especial.. mas não fiquei com raiva ao saber. Na verdade não sei o que sinto por saber disso..a ficha ainda não caiu.
— Então você vai defender o primeiro mundo?
— O que? não, não. Eu não vou mudar toda minha vida pra ir defender quem eu não conheço.
— É como você me disse Lya, não depende de nós nem da família. Eles escolhem..
— Eu não irei. Não deixaria minha vida, com a minha família aqui pra morar lá. Eu nem sei se existe, você já viu algo? Já foi lá?
— Não..ninguém da nossa geração foi. Eu também não sei se acredito..
— Pois é.. não acho que eu deva ir, é uma escolha minha mesmo recebendo esse dom, e se isso for um dom.
— Não vamos colocar como um dom por favor..e então agora você é..?
— Feiticeira, eu acho.
— Sério? Feiticeira? que coisa mais desenho infantil. De agora em diante você é considerada bruxa. Do bem assim espero..
— Pode ser..mas falando desse jeito deixa tudo mais ridículo.

      Rimos e ficamos conversando sobre algumas situações que passamos antes de nós conectar com esse mundo sobrenatural. Não sei se devo falar assim, mas quando o Miguel atualizou as informações sobre quem eu sou, pareceu tudo muito ridículo. Particularmente, gostei.

Algumas Luas ( Primeira temporada ) Onde histórias criam vida. Descubra agora