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Era segunda-feira.
O clima estava frio e nublado, assim como o entre Hui e Hyojong.
A tempestade que se aproximava da cidade, gerava corredores de ar que levavam tudo o que encontravam. As ruas estavam vazias, comércios fechados, todos haviam se recolhido por conta do mal tempo.

Os garotos, extraordinariamente, não acordaram cedo.
Ensaiaram apenas 4 horas na parte da manhã e aproveitaram a tarde para suas atividades pessoais.

Após o ensaio, Hui foi imediatamente para seu quarto — o que não era comum. Os outros membros encararam aquilo com estranheza, mas não se preocuparam, afinal, como líder, ele tinha muitas responsabilidades e talvez só queria um tempo pra si.
Hyojong, por sua vez, sentou no sofá cor azul petróleo na sala principal do prédio, onde todos geralmente se reuniam, esperando a hora da próxima refeição.

"Dawnie, você pode emprestar seu carregador, rapidinho?" - uma voz suave surgia por trás do garoto.
"Que?" - disse, sem dar muita importância.
"Emprestei meu carregador pro Shinwon e ele simplesmente não sabe aonde colocou." - Kino, explicara.
"Ah, sim... Ele perde tudo mesmo." - retirou o cabo que estava conectado na tomada próxima, sem nenhum aparelho, e alcançou para o menor. "Aqui."
"Valeu! Devolvo mais tarde." - agradeceu com um sorriso largo — que Hyojong não viu — e se retirou.

Minutos depois, alguém gritava eufórico da cozinha, que ficava ao lado do cômodo aonde Hyo estava, avisando que a comida estava servida.
Os oito garotos entraram todos juntos no ambiente, indo diretamente à mesa, fazendo Hongseok — "o cozinheiro" — sorrir com satisfação.

"Calma, tem comida pra todos." - o garoto de avental florido tentou apaziguar o tumulto.
"Meu Deus, hyung, isso tá maravilhoso!" - Wooseok, o mais novo do grupo, disse antes de enfiar um bolinho de arroz inteiro na boca. "Já pode casar!" - ergueu as sobrancelhas em direção à JinHo — o mais velho —, por algum motivo.
"Eu podia passar a vida inteira comendo só essa sopa de algas... Nossa!" - Shinwon se deliciava com tudo o que havia na mesa. "Mas, cadê o Hui-ya?" - perguntou, passando as costas da mão na boca, limpando o caldo que havia escorrido.
"Ele se trancou no quarto, já faz umas duas horas... Provavelmente tá dormindo." - Yeo respondeu.
"Alguém precisa avisar que estamos comendo já." - Hongseok retirou o avental, sentando-se na mesa junto aos outros. "Dawnie?" - olhou expressivo para o outro garoto.
O mesmo fingiu não ouvir.
Todos notaram que havia algo errado, não somente com Hui, mas também com Hyojong.
"Vamos separar uma porção pra ele, depois ele come então." - Yeo levantou do assento em que estava, providenciando a refeição para Hui.

Hyo permaneceu calado o tempo todo.
Apesar de notarem a distância dos dois membros, os outros preferiram não questionar naquele momento, afinal, poderia realmente não ter acontecido nada.

A tempestade, enfim, caía.
A atmosfera tranquila e preguiçosa no local contagiava os garotos, que revezavam entre tirar breves cochilos e assistir a programação da televisão.
Já eram quase 18 horas quando Hui finalmente saiu do quarto.
Andou apressado até a cozinha, onde encontrou Hongseok terminando de lavar a louça.

"Hong, você viu o Dawnie?" - perguntou afoito. "Eu preciso muito falar com ele." - claramente agitado, Hui apressava a própria fala, movimentando as mãos sem objetivo.
"Eu não sei aonde ele tá..." - respondeu confuso. "Tá tudo bem, hyung?" - disse, secando as mãos em um pano de prato.
"Tá, tá tudo bem sim, mas eu precisava dele agora... Urgente." - o mais velho deu meia volta, ficando entre a passagem da cozinha e o começo do corredor.
"Eu aviso à ele que você está o procurando, caso apareça por aqui." - sorriu, ainda confuso.
"Isso! Por favor! Enquanto isso, vou tentar achar ele." - saiu rapidamente do local.

Hui passeou o prédio todo em busca de Hyojong, que parecia ter desaparecido.
Procurou nos dormitórios, banheiros, salas de recepção e estar, foi até à sacada, aonde a chuva caía insistentemente, mas, nada.

A noite alta chegara, o dia estava quase terminando seu ciclo, quando Hyo voltou para seu quarto.

"Oi, Hong..." - comprimentou sem entusiasmo.
"Dawnie, nossa, finalmente você apareceu!" - o mais velho exclamou da beliche de cima. "Aonde você tava, cara? O Hui tá te procurando faz horas..." - avisou.
"Hm." - murmurou.
"Acho melhor você mandar uma mensagem pra ele te encontrar aqui. O assunto parecia ser urgente."
"Foda-se." - disse curto, dando de ombros.
"Ok, ok. O que tá acontecendo?" - Hongseok desceu imediatamente da beliche, com o semblante preocupado. "Nenhum dos dois estão normais hoje. Me diga, talvez eu possa ajudar."
"Existe um problema, mas só ele pode resolver." - o menor se jogou sobre o colchão, olhando para o vão entre a lateral da cama de cima e a parede. "E eu não quero comentar sobre isso, desculpa."
"Dawnie, eu te conheço o suficiente pra diferenciar quando o problema é ou não o Hui. E posso até imaginar o motivo desse afastamento de vocês..." - a voz de Hongseok era acolhedora, reconfortante. O mais velho era o "conselheiro" do grupo, pois tinha uma mente muito madura e um senso de compreensão muito grande. "Você tem receio de perder o hyung pra qualquer um que ele dê atenção, mas, principalmente, de não poder controlar seus sentimentos. Você começa à perceber que as coisas estão tomando um rumo diferente do qual você quer, e então você sucumbe. Você pira, cara." - o garoto se ajoelhou ao lado da cama de Hyojong, repousando uma de suas mãos sobre o antebraço do mesmo.
"Mas, caralho... É tão difícil pra ele tentar ser menos... gay, com todo mundo? Porra, ele sabe que eu tenho ciúmes, que eu odeio isso!" - cobrindo o rosto com as mãos, ele continuou: "Ele acha absolutamente normal agir da mesma forma que age comigo, com qualquer outra pessoa... Mas ele é meu namorado, MEU!" - o choro engasgava na garganta do garoto, fazendo-o perder o ar.
"Você não pode impedir que ele seja o ele que é, Dawn... Faz parte da personalidade dele e você precisa amar seus defeitos também." - o mais velho entrelaçou o braço do outro garoto ao seu, puxando-o para si. "Se você continuar agindo assim, com insegurança, talvez seja tarde demais pra voltar atrás. Ele também vai se cansar uma hora." - finalizou.
"Eu só queria que ele... ah..." - Hyojong tentou, mas não pode conter a compulsão que o choro causara, tocindo fragilmente por conta do nó que parecia ter formado na sua epiglote. "Eu queria que ele fosse meu o tempo todo, sabe... Quando eu vejo ele com outra pessoa, cara, sei lá, eu tenho vontade de explodir!"
"Calma..." - Hongseok tentava consolar o menor, abraçando-o carinhosamente. "Chame ele pra uma conversa, agora. Resolva isso antes que as coisas piorem." - aconselhou.
"Eu não sei se ele viria... Eu realmente o tratei mal." - secando as lágrimas com a ribana do moleton, Hyojong sentou na cama de qualquer jeito, procurando o celular nos bolsos. "Que merda, esqueci de carregar essa porra." - exaltou-se.
"Relaxa, pega o meu." - o garoto entregara seu iphone quase intacto para o mais novo, junto de um sorriso solidário.
"Caralho!" - gritou, dando um pulo sobre a cama. "Não tem sinal!" - Hyojong olhava para a tela do celular, desesperado. "Tinha que cair a maior tempestade do ano justamente hoje..." - batia com os dedos no aparelho,  tentando reestabelecer o sinal, sem sucesso.
"Eu vou procurar ele!" - Hongseok saiu do quarto em disparado, sem ao menos perceber que estava vestido somente com suas roupas íntimas.

De repente, as luzes desligaram. O prédio todo ficou no mais absoluto silêncio e escuro.

"Puta que pariu..." - disse Hyojong.

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