Capítulo IV

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Eu estava com tanta dor, me sentia absurdamente sozinha naquele supermercado vazio e gelado.
Já faz quase uma hora que eu fui atacada por uma criatura desconhecida.
Carter não veio me ajudar.
Não espero que cuide de mim, até porque ele é o ser mais áspero que já conheci, mas aguardava uma ajuda, eu não sei o que fazer e a idéia de sair pra dormir fora de casa foi dele.
De qualquer forma, minha perna doía tanto, e tinha tantas lágrimas em meus olhos que não consegui dormir.
Não tinha remédios para dor, então improvisei com um pano molhado de álcool.
Meus gritos ecoaram no vazio da noite.
Nada de Carter.
Precisava de pontos, então simplesmente peguei agulha e linha.
Talvez tenha sido a pior ideia da minha vida. Eu pensava que estava gritando alto antes, porém agora, eu berrava de uma maneira que meus próprios ouvidos ardiam.
Der repente, sinto uma presença ao meu lado e minha visão ficou embaçada.
No mesmo momento minha audição se transformou em nada. Eu apenas via a sombra de Carter fazer um curativo em minha perna. Após isso eu apaguei.
Devo ter acordado poucas horas depois, pois podia ver Carter parado em frente a porta. Com um pouco de dificuldade, fui caminhando em sua direção e antes mesmo que eu chegasse, ele se virou para mim.

- Está melhor? - Ele perguntou com a mão na minha cintura disfarçando em seguida.

- Estou! - Eu não estava bem, mas era o que me cabia responder no momento. Tinha tantas perguntas que gostaria que ele me respondesse. Por que ele não veio me ajudar? O que era aquilo que me atacou? Por que ele estava tão próximo de mim? Decidi fazer apenas uma por vez. - O que era aquilo? Digo, a criatura?

- Tudo o que precisa saber é que são seus inimigos!

- Por que você não veio me ajudar? - Ele parou por um instante. Eu conseguia ver a sua hesitação, sua boca abriu e fechou por varias vezes, como se quisesse me dizer algo. - Diga, Carter!

Sua expressão mudou, se tornou mais fria.

- Eu tentei, porém tive alguns imprevistos!

Minha vez de mudar de expressão. Fiz silencio por um tempo.

- Tudo bem, não esperava muito de você, de qualquer forma. E obrigado pelo curativo.

Assim que terminei a nossa conversa, me retirei para um canto do mercado.

Já era noite, eu estava dormindo quando sinto a presença de Carter, junto a minha dor no pescoço. Ele senta ao meu lado e passa suavemente a mão em meu cabelo. Então ele começa a falar, sua voz calma, leve como eu nunca tinha ouvido antes.

Era para eu ser seu inimigo. Não é ironico? Você tem que matar a pessoa que você quer proteger pelo resto de sua existência. Além de tudo, somos da mesma espécie. Nós temos a marca.
Talvez essa seja uma história para um outro dia, mas eu sei quando está em perigo, e eu me importo! Você está sofrendo um castigo. Sua própria espécie deseja te ver morta... Foi por isso que decidi sair, talvez me revoltar. Seu pai me procurou quando você ainda era um bebê, e foi alí mesmo que senti que você um dia seria parte de mim.
Mas não dá para abandonar a nossa família, principalmente quando se tem um cargo importante. Minha familia governa nosso mundo e eu sou o unico herdeiro, não podia deixar que soubessem de você. Te matariam!
Seu pai fez uma coisa que foi comsiderada traição, porém dessa traição saiu você. Ele conseguiu te esconder como uma pessoa normal até agora, mas você não é uma pessoa normal.
Acho que já te contei o suficiente por hoje. Durma bem, Felicia!

Assim que acordei no outro dia, as palavras de Carter me subiram na cabeça.
Será que foi tudo um sonho?

FelíciaOnde histórias criam vida. Descubra agora