Passaram-se dois meses desde que Carter foi embora. Nunca mais o vi, nem o chamei. Em todo esse tempo, pude perceber o quão covarde e infantil estava sendo. Eu visualizei Carter como um príncipe que deveria me salvar e me proteger assim como nos livros que já li. Mas as coisas não são assim.
Eu preciso de Carter, mas sou eu quem deve salvar e proteger a mim mesma.
Esses dias que passei sozinha também foram muito difíceis. Eu ainda tenho a comida de alguns mercados pelo caminho, mas faz muito frio, eu estou longe de casa e as criaturas estão sempre por perto. Não importa o quão bem eu me esconda, elas sempre me rondam, como se me rastreassem.
Eu só tomo banho de água fria, também nos mercados, já que a eletricidade muitas vezes falha.
Nesses dois meses tudo o que fiz foi sobreviver. Eu preciso aprender a matar esses bichos.
Eu tenho um plano, e se não der certo, provavelmente resultará em minha morte. Uma vez, Carter me disse que viria, caso eu estivesse em perigo. Meu plano é me colocar em perigo.
Tá bom, não soa como uma boa ideia, mas preciso tentar. Saí da pequena caverna em que havia me escondido e gritei com toda a minha força. Não demorou dez segundos e eu vi uma criatura se aproximando em cada lado. Corri como nunca antes, desviando de qualquer obstáculo.
Assim que olho para trás novamente, vejo no minimo cinco criaturas. Avistei uma montanha após o riacho e disparei naquela direção. Atravessei o pequeno rio e comecei a subir a montanha. Não foi uma boa ideia, a coisa é muito mais rápida em relação a mim, eu tropecei e caí. Na intenção de cair o mais longe deles, me joguei para o lado, mas não percebi que ali havia uma queda.
Eu rolei uns quarenta metros até chegar no chão, com coisas batendo em mim, meu pé bateu em uma árvore e doeu muito.
Não consigo levantar. Me preparo para lutar no chão assim que vejo uma criatura se aproximar, mas Carter aparece do nada e em frações de segundo acaba com a coisa. Ele me ajuda a levantar e me leva até uma pedra, para que eu pudesse me sentar. Ele examina meu tornozelo, que está roxo e sangrando.
- Olha só aquele pássaro esquisito lá em cima!- Carter diz, me fazendo olhar para o céu.
Sinto um puxão na perna e então meus olhos se enchem de água.
- AI! - Gritei assim que Carter colocou minha perna no lugar. Nem tinha doído!
- Esse negócio do pássaro sempre funciona com as crianças!- Ele diz, se sentando ao meu lado.
- Mas eu não sou criança. - Me viro de frente para ele.
- Você faz birra como uma.
- Não, eu não faço! - Carter riu, pois eu realmente estava fazendo birra.
Depois de um tempo me encarando ele resolve falar.
- Felícia, você precisa ter mais cuidado. - Ele estava preocupado.
- Pode conversar comigo agora?
- Vou lhe contar o que quer saber. - Ele para e me olha com atenção. - Cuide dessas informações, seja madura para lidar com elas e não surte!
Eu balanço a cabeça em aprovação e ele continua:
- O que vou te contar, são coisas que não mudam apenas a sua vida, mas a de um povo. Vamos começar pelo seu nascimento.
"Seu pai era apenas um jovem, descobrindo tudo o que podia fazer e ele gostava de transitar entre os dois mundos, ele adorava viajar para a terra. Sua mãe era uma boa jovem, mas sempre foi muito ambiciosa. Nosso mundo é dividido em dois. De um lado os Shields, a parte mais ''limpa'' do nosso mundo. E de outro lado os Murderers, a parte ruim, mas mesmo assim, somos um mundo só, uma espécie só! Eu sou um dos Murderers, nasci daquele lado. - Ele faz uma pausa e baixa o olhar. - Seu pai era um Shield. Ele era um bom soldado, um dos melhores."
"Um dia, em uma dessas viagens de seu pai ele conheceu sua mãe. Ele a visitava constantemente. Certa vez seu pai a trouxe para o nosso mundo, mostrou-lhe tudo o que havia de bonito, e ela se encantou com o castelo. Ela pediu pra olhar e ele deixou, acompanhando-a, claro."
"Mas então, depois de já terem ido ao castelo algumas vezes, ela quis ir sozinha. Sua mãe já estava se misturando com o nosso povo, então seu pai não viu problema. Mas depois de ter ido sozinha várias e várias vezes, seu pai decidiu observa-lá. Ele seguiu sua mãe sem que ela percebesse e viu quando ela entrou diretamente no cômodo do rei. James ficou muito preocupado, pois no meio do povo sua mãe era só mais uma, não parecia ser diferente de nós."
"Nós somos de carne e osso também, o que nos diferencia é o fato de que vivemos mais, somos quase imortais, não sangramos, viajamos entre os mundos e todo esse blá blá bá!"
"Seu pai sabia que se sua mãe cometesse qualquer ato meramente humano diante o rei, ela sofreria as consequências. Quando estava prestes a entrar na sala do rei, ele ouviu murmúrios, então, abriu a porta devagar e espiou. Ele viu o que nenhum parceiro gostaria de ver."
"Sua mãe traiu seu pai com o Rei Raul."
"Seu pai terminou o relacionamento com sua mãe, no entanto ela alegou estar grávida, e seu pai jurou proteger vocês. Mas o rei descobriu que sua mãe era humana e baniu seu pai."
"Ele viveu com a sua mãe na terra e sempre cuidou de vocês, mesmo não amando mais a sua mãe. Mas quando você nasceu , ele viu que você não era filha dele. Como ele soube? A marca que você tem no pescoço. Apenas reis e filhos de reis a possuem."
"James cuidou de você, mesmo não sendo seu pai legítimo. No seu primeiro aniversário, sua mãe pediu a seu pai para que fossem escondido até Marina, nosso mundo. No começo ele resistiu á ideia, mas acabou cedendo."
"Assim que chegaram, sua mãe procurou o rei e lhe mostrou. Ele se encantou por você, mas o rei dos Murderers, Léo - Carter suspirou e me olhou - Meu pai, assistiu toda a cena e mandou que matassem você. James não deixou, ele se ofereceu para ir no seu lugar e servir ao rei."
"Sua mãe te escondeu na terra, e seu pai me pediu para proteger vocês. E é o que tenho feito até hoje."
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Felícia
Teen FictionE se o mundo ficasse deserto por sua causa? E se restasse apenas você? Bom, talvez não só você. Na luta constante por sua vida, Felicia se vê perdida, e tendo alucinações com um "anjo"- nem tão anjo. Ela é perseguida por um animal misterioso, que...