Capítulo um

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— Chegamos, querido! — Fala minha mãe, com um sorriso tão grande que chega a dar nojo!

Tiro meus fones de ouvido, e olho para o horizonte, olhando os raios de sol batendo na areia daquela praia. Adoro praia. É o meu lugar preferido no mundo. Sei lá, eu acho que me identifico com tudo aquilo. Não sei explicar direito a sensação.

Ouço uns barulhos de crianças cochichando, viro um pouco a cabeça para trás e as vejo brincando de telefone sem fio. Fico pensando o quanto essa brincadeira é legal, pra quem pode brinca-lá, claro. Nunca brinquei disso. Nem imagino como é viver uma brincadeira dessas. Vejo aquelas crianças, tão entusiasmadas, que chego a pensar o quanto sou sortudo de nunca ter visto aquela cena com 7 anos de idade. É que nessa época eu choraria, passaria dias e dias triste, com uma dor no coração imensa, um sofrimento só! Hoje, eu nem ligo muito! Talvez seja por quê eu já me conformei a respeito da minha vida.

Você não deve estar entendendo nada! Mas okay, eu vou te explicar tudo, só não sei por onde começar!

Tudo começou há 13 anos, quando eu tinha 2 anos de idade. Eu não conseguia me comunicar usando as palavras. Eu simplesmente não as conseguia falar nada! O médico me diagnosticou com um defeito raro nas cordas vocais, o que me impossibilitava de falar. Não havia tratamento para a doença, ou seja, eu ia morrer mudo! No início eu aceitei, até eu ir pela primeira vez na escola. Me senti estranho. Quando a professora desejava bom dia, todos desejavam de volta. Menos eu. Eu era o único que não desejava bom dia para a professora. Podia ser uma besteira para quem consegue falar qualquer coisa. Mas para mim não era! Eu odiava aquilo. Odiava não poder dizer oi para as pessoas. Odiava quando as pessoas chegavam me perguntando alguma coisa e eu não conseguia responder. Eu odiava tudo isso. Eu chorava, queria morrer, fazia de tudo para falar alguma coisa, mas de nada adiantava. E foi assim até meus 9 anos.

Hoje, como eu falei, já me conformei. Já aceitei minha condição de mudo.

Que tipo de pessoa fala toda sua história — ou quase toda — sem ao menos dizer o nome?!

Sou Leandro, tenho 15 anos e moro em Fortaleza, Ceará. Gosto de música de todo jeito (Quando se trata de escolher um ritmo musical preferido, eu sou meio bipolar). Sou filho de Lúcia e Alexandre Monte. Tenho 2 irmãos. Um mais velho — Mário — e uma caçula, Jéssica.

Não sou uma pessoa otimista ou visionária. Na verdade, me considero bem pessimista. Não sei se isso tem haver com a minha vida resumida em poucas palavras. Já enfrentei diversos psicólogos para tentar me deixar um pouco mais otimista, de bem com a vida, mas o resultado não apareceu. Não sou daqueles que tem milhares de amigos. Tenho uns cinco, na verdade. São poucos, mas são fiéis. Odeio esportes. Um dia perfeito para mim seria uma praia com um bom livro, junto com uma coca-cola bem gelada, num sol ardente com um óculos de sol.

Faço o 9º ano do ensino fundamental numa escola militar. As pessoas acham que escola militar é sinônimo de tortura, castigos impiedosos e etc... Mas não... Não chega a ser uma escola normal, mas é bem parecida. É um lugar bem disciplinado e organizado. Talvez um dia eu conte com mais detalhes de como é minha escola. Só posso dizer que é bem de boa. Eu gosto daqui. Me sinto bem. Não sei explicar sensações.

— Sorri pra selfie, deixa essa cara de mal um pouco e dá um sorriso! — Diz Jéssica, o anjinho da família.

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