{2} Family Time

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          {Sophia​}
 
  Sinto os meus cabelos louros a esvoaçarem enquanto entro a correr no mar. A minha irmã, como sempre, está ao meu lado com um sorriso capaz de lhe preencher a face, no entanto os meus pais encontram-se mais reticentes com esta entrada brusca na água. A sua temperatura é algo que os assusta e, apesar dos fatos nos protegerem de grandes choques térmicos, ainda não é altura da água estar amena.

  Toda a rotina de surfar todos os dias permite-me não sentir já este contraste tão grande. Aliás sinto-me é bem por poder mergulhar na límpida água e esquecer todos os problemas que possa ter, mesmo que por breves instantes.
 
  - Venham lá, isto hoje até está melhor! - grita Bea para os nossos pais que se riem, visto que repetimos a desculpa todos os dias.
 
  Sem olhar para trás e esperar por alguém começo a remar contra a maré até achar que me encontro a uma distância suficiente da costa. Tanto os meus amigos como os meus pais e a Bea sabem que gosto de ir logo para a parte mais profunda e permanecer lá por breves instantes, ora contemplando a imensidão de água perante mim que continua um mistério, ora fechando os olhos e sentindo toda a calma das ondas a passarem por baixo de mim. É principalmente nestes momentos que consigo descobrir o bom da vida e o que ela nos reserva. É aqui que me sinto bem, que sou eu sem obstáculos e julgamentos, apenas entrando em harmonia com a natureza que me envolve.

  - Já vi dias com água mais quente - reclama o meu pai enquanto se senta na prancha a meu lado assim como a minha mãe e irmã minutos depois.

  - Mas as ondas hoje estão boas e o vento está favorável - profiro e eles ouvem-me com atenção, sendo eu a mais entendida nesse assunto.

  - Eu vou já naquela - digo apontando com a cabeça enquanto me meto em posição de remar a tempo de a apanhar.

  Consigo sentir o meu coração a bater forte no meu peito e a adrenalina a apoderar-se do fundo da minha barriga. É esta a sensação que tenho cada vez que me meto numa prancha, é este o meu paraíso, a minha fuga... Remo com a máxima velocidade que consigo e ouço algumas palavras de incentivo e elogios dos meus familiares quando consigo ser finalmente levada pela força da onda.

  Após sentir a estabilidade necessária coloco-me de pé e começo todos os movimentos que a cada momento decido fazer. Quando comecei a surfar sentia-me bem em apenas me deixar ir por entre toda aquela espuma e água que me elevava bem alto e depois me trazia a baixo. Mas com o passar dos anos e com o acréscimo de maturidade, comecei a sentir a necessidade de explorar mais e ir para além do desconhecido. Foi aí que comecei a inventar os meus próprios movimentos e a pedir que me ensinassem todos aqueles que eu não sabia. Hoje, já me consigo considerar boa no que faço e mesmo assim, por vezes, ainda me arrisco demais.

  Infelizmente as ondas não são infinitas e não duram para sempre pelo que cheguei ao fim e, após a velocidade ser suficientemente reduzida, deixo-me cair para a água. Nesta altura do ano, e a estas horas do dia, as ondas não acabam muito perto da linha de costa, acabando em zonas mais profundas pelo que uma queda no final não custa tanto.

  - Cada vez melhor - ouço quando venho à superfície e viro-me, verificando ser a voz da minha mãe.

  - Oh nada de especial, mas obrigada... Nem te vi, como vim à frente. - digo e acompanho-a começando mais uma vez a remar contra as ondas.

  O meu pai já se encontra de pé e visualizo com atenção a sua habilidade. Eu e Bea muitas vezes dávamos conselhos e ensinávamos novos truques, para que eles também não perdessem nunca este gosto pelo mar.

  - Muito bem! Já ganhaste muito mais à vontade - grito e ele assente agradecendo enquanto se deixa cair e faz palhaçadas. - Bea vamos juntas? - pergunto.

  - Sim... Aquela ali é boa - aponta para uma lá ao fundo e concordo com a sua opinião e colocamos​-nos a jeito.

  Apanhar ondas com ela e com os nossos amigos é uma paródia. Já enguli tanta água a rir-me com eles que daria para encher um garrafão. Começamos a remar e Bea faz umas caras de esforço que me fazem desmanchar a rir e quase perder a onda, mas lá fiz um esforço final que me ajudou a não perdê-la.

  - Só tu, quase que não conseguia - grito e rimos juntas enquanto que consigo distinguir as expressões felizes dos nossos pais por nos verem contentes juntas e a divertirmo​-nos.

  Aproveitamos cada segundo daquela onda que partilhávamos e acabo por cair antes do esperado por me distrair com a chegada de alguém à praia. Com a atenção que estava a dar à pessoa acabei por me desequilibrar, mas também mais uma queda para o saco não fazia mal nenhum. É preciso cair muita vez para se aprender como surfar...

  Venho à superfície e dirijo o meu olhar para o areal vendo Josh de mãos nos bolsos do casaco a rir-se.

  - Sou tão bonito que até cais para o lado - ouço e rio-me com ele.

  A Bea já tinha ido mais uma vez para longe da costa e aproximo-me do areal para falar com o meu amigo.

  - Então, por aqui? - pergunto.

  - Sim vinha ver se queriam ir dar uma volta antes de jantar, mas já vi que estão ocupadas - diz com o olhar preso no mar. - a Bea está a surfar melhor - comenta e olho para a mesma, concordando com o rapaz.

  - Pois hoje é difícil, fica para amanhã... Também já não vou ficar muito mais tempo no mar que está a ficar escuro - digo e mando um beijo no ar enquanto me volto a deitar na prancha e a remar junto ao meu pai, que cumprimenta Josh com um aceno de cabeça antes de voltar às ondas.

  - Ele hoje não vem? - pergunta-me.

  - Acho que não...  - digo e mergulho por baixo de uma onda um pouco maior.

  No final esperamos e surfamos uma última onda todos juntos com uma boa distância de intervalo entre nós para não haver nenhum acidente. Fazeres a atividade que mais gostas ao lado das pessoas mais importantes para ti tem um gosto diferente e especial. Faz com que consigas sentir a união, a força e o incentivo para surfares ainda melhor.

  - Era mesmo isto que estava a precisar - diz a minha mãe e concordo com ela.

  - Tens de manter uma postura mais direita e os pés mais afastados - comento um erro que vira frequentemente acontecer.

  - Sim chefe! - diz e desmanchamo-nos todos a rir enquanto encostamos as pranchas no seu local na entrada da casa.

  Vou para o meu quarto, que não partilho com Bea, e arrumo as coisas para amanhã. Dispo o fato que envergo colocando-o a secar e vou tomar banho.

  A água quente contrasta com o meu corpo frio e sinto cada músculo relaxar. Depois de umas boas ondas um banho quente sabe sempre bem, mesmo no calor do verão.

  - Soph despacha-te! - ouço Bea gritar da porta e rio-me fechando a água. Confesso que sou uma abusadora no que toca a banhos, mas apenas me deixo ir pelos pensamentos profundos.

  Enrolo uma toalha à volta do meu corpo, agarro na minha escova e no meu creme e saio da casa de banho, disponibilizando-a.

  - Desculpa... - profiro para a minha irmã que se ri e entra naquela divisão enquanto eu vou rápido até ao quarto.

  Acabo de me vestir e dirijo-me à cozinha ajudando no jantar para que os meus pais também podessem ir tomar banho.

  - Obrigada filha! - diz a minha mãe ao depositar um leve beijinho na minha testa.

  Ouço o meu telemóvel a dar sinal de mensagem e afasto-me por momentos do fogão alcançando-o e começando a falar com Josh por mensagem.

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1371 palavras

Olá! Bem, aqui está o segundo capítulo! Eu sei que ainda é muito cedo para perguntar, mas estão a gostar, ou parece-vos uma história interessante?

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Inês

Twin Surfers || Ashton IrwinOnde histórias criam vida. Descubra agora