Cap 04 - Uma ajuda

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As duas foram dormir. Marina sonhou a noite toda com Lívia, acordou até confusa. Foi ao banheiro e tomou um banho frio para espairecer. As duas passaram o domingo em casa descansando e estudando pra uma prova que teriam no meio da semana.
Logo na segunda cedo Eduardo foi até a faculdade falar com Marina.
- Hei menina, precisamos conversar. – ele estava sério.
- Sim, o que foi?
- Bom, temos show na sexta e precisamos ensaiar umas músicas.
- Tudo bem, mas pela sua cara não é só isso.
- Temos um problema. Como você sabe, dispensamos nosso tecladista.
- Sim.
- Ele é dono do teclado. Aquele que você usou nas duas apresentações.
- Entendo, e ele o quer de volta não é?
- É. Precisamos de outro e eu não sei com quem pegar. Quase ninguém gosta de emprestar.
- Bom, eu não conheço muita gente ainda, mas posso perguntar ao Marconi.
- Já falei com ele, mas não tive sucesso. Ficaria muito difícil você comprar um teclado, mesmo que simples?
- Nossa. Bom eu não sei, porque estou aqui faz pouco tempo e o dinheiro que ganhei das duas apresentações eu estou usando para despesas. – Marina explicou toda sua situação e de sua família.
- Como vamos fazer? – Eduardo parecia aflito.
- Calma, vou conversar com Monica, ela conhece bastante gente.
- Me liga então amanhã.
Em casa, mais a noite, as duas conversaram.
- Eu te empresto, falo com meu pai e você vai me pagando devagar. Não precisa comprar um top de linha, pode comprar até usado. Já vi até anúncios de venda de teclados na faculdade.
- Será que isso vai dar certo?
- Claro que vai amiga.
No dia seguinte as duas olharam os anúncios e pegaram os endereços e telefones. Foram a alguns lugares e os teclados melhores estavam muito caros e os mais em conta não estavam bons.
- Achei aquele penúltimo o melhorzinho. – Marina falou meio desanimada.
- É, o cara disse que divide.
- Vou falar com Eduardo.
Marina ligou para o rapaz e falou sobre a compra. No dia seguinte os dois foram até o local para que ele olhasse também o instrumento.
- Não é lá grande coisa, mas acho que quebra o galho.
Compraram e levaram para o ensaio. Funcionou muito bem, Marina conseguiu com Marconi um pedal de volume e sustain para dar mais expressão às músicas.
- Acho que vou perder minha aluna para o popular. – Falou o professor desolado.
- Que isso Marconi. Estou feliz porque to trabalhando.
- Eu sei minha querida, mas quem entra nesse mundo dificilmente sai ileso.
- Seu bobo. Com o teclado, poderei treinar mais exercícios de mecanismo em casa. Ficarei mais rápida.
- Se seus dedos ficarem mais rápidos, as teclas vão correr de você. – brincou.
Na sexta-feira estavam todos prontos para começar, menos Marina, pois seu teclado não queria ligar. - Acho que o problema está no plug.
- Vamos olhar. – Eduardo examinou e viu que tinha um mau contato. Passaram uma fita e voltou a funcionar.
Aquilo deixou a loirinha insegura, pois se balançasse muito, poderia soltar novamente. Passou o show tensa e quando acabou a primeira coisa que falou.
- O moço me enganou, disse que o teclado estava em perfeitas condições.
- Eles sempre falam isso.
- Calma amiga, daqui a algum tempo você terá um novinho.
Lívia que desta vez estava em uma mesa ao lado, não quis se juntar aos músicos para não dar bandeira. Escutou mais ou menos a conversa e perguntou a Fabrício o que era.
- Parece que Marina teve que comprar um teclado às pressas e o dinheiro só deu praquele ali.
- Sei...
- Que cara é essa?
- Nada. Fabrício quer parar com isso! Não fiz nada!
- Ainda né.
Quando o show acabou Lívia já tinha saído. Marina quase não conseguiu esconder a decepção. Voltou para casa pensativa.
No dia seguinte a loirinha acordou cedo para olhar o problema no teclado. Mexeu, fuçou, mas não quis insistir com medo de piorar ainda mais. À noite quando chegou ao bar estavam todos esperando com umas caras animadas.
- Que caras! Alguém ganhou na loteria? - Não! Você ganhou! – Eduardo sorria.
- Eu? Por quê?
Eduardo se afastou mostrando a Marina o teclado novo já colocado no palco.
- Que é isso?
- Ué, achei que soubesse o que era.
- Besta! Eu digo, porque tem um teclado novo ali?
- Não sabemos, diz o dono do bar que fizeram essa entrega hoje à tarde em seu nome. Marina Calleguer é você, não é?
- Sim. Mas...
- Graças a Deus, eu estava com medo daquele outro teclado.
Marina não entendeu nada. Queria saber se Monica tinha algo a ver com aquilo, mas ela não tinha chegado. Estava tocando em um casamento e de lá iria para o bar. Meio desconfiada, subiu ao palco para olhar
o instrumento e o ligou. Testou os sons, os pedais, também novos e sorriu. Não sabia por qual motivo aquele teclado estava ali, mas aproveitou pra usufruir, afinal era novinho.
Ao telefone Fabrício, do lado de fora do bar, falava com sua prima:
- Até onde você está metida nisso?
- Do que se trata?
- Não se faz de boba. Você está apelando.
- Não sei do que você fala.
- Lívia, você está na profissão certa, pois nunca vi ninguém mentir com tanta facilidade.
- Não estou mentindo, só não sei do que você está falando.
- Desse teclado novinho que deu de presente pra Marina. A morena se limitou a rir ao telefone e desligou.
O show começou e notava-se à distância a felicidade de Marina. Estava contente pelo instrumento novo, mesmo não sabendo de onde viera. No intervalo Fabrício chamou Eduardo para conversar.
- Já sei de onde veio esse teclado.
- De onde?
- Lívia.
- Por que será que não estou surpreso? Eu a vi conversando com Marina na semana passada, senti que estava interessada.
- Era bom avisar a menina, você sabe como Lívia é. Marina vem do interior, não sabemos o que se passa naquela cabecinha. Podia falar sobre nós, depois fale sobre Lívia.
- No intervalo vou ver se consigo conversar com ela.
- É melhor.
Nesse instante Lívia apareceu. Estava lindíssima e chegando do trabalho, vestida impecavelmente.
- Um suco de limão, por favor.
- Não prefere algo mais doce? – Marina se aproximou sorrindo.
- Claro que prefiro. – olhou a loirinha de cima a baixo. - Mas limão acalma e refresca minha cabeça. Não vi a primeira parte do show, mas cheguei a tempo para a segunda.
- Que bom, daqui a pouco voltamos.
- Sente-se. Está com um brilho nos olhos, o que aconteceu?
- Bom, eu estou feliz mesmo. Parece que as coisas estão dando certo pra mim.
- Fico feliz.
O papo engatou e rendeu. Marina falou das músicas que gostava e Lívia também.
- Marina, preciso falar com você. – Eduardo se aproximou. – Oi Lívia. – saiu puxando a loirinha com ele.
- Que foi? Ta com pressa?
- Senta aqui, vamos conversar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não, mas vai. Marina, preste bem atenção no que vou te falar. Você sabe que em cidade grande se vê de tudo, não é?
- Sim.
- Então, há relacionamentos um pouco diferentes, como...
- Relacionamentos gays?
- Isso, boa menina.
- E daí?
- E daí que eu queria falar sobre Fabrício e...
- E você. Que são namorados.
- Como é que você sabe?
- Eduardo, só um cego não vê. Aliás, só Monica que não viu, porque é sonsa demais. Eu notei no dia que conheci Fabrício.
- Nossa, achei que essa conversa ia ser mais difícil.
- Era sobre isso que queria conversar?
- Também, a outra coisa é sobre Lívia. Eu a conheço desde que comecei a namorar Fabrício e isso tem certo tempo. Ela é uma excelente pessoa, mas não esquenta cadeira. Você me entende?
- Não. – a loirinha parecia confusa.
- Ela não mantém um relacionamento por muito tempo. Sempre está com uma pessoa diferente, Lívia não se envolve. O que vale pra ela é apenas a conquista, depois disso ela descarta.
Marina o olhava de olhos arregalados.
- Não te conheço ainda, nem sei das suas preferências  sexuais, mas sei que Lívia joga pesado quando quer conquistar alguém. E não sei por qual motivo, você caiu nas graças dela.
- Mas eu não... – Marina estava confusa.
- Só estou avisando para tomar cuidado com ela. Lívia come pelas beiradas e quando a pessoa vê já se envolveu. Quem você acha que colocou aquele teclado novinho ali?
- Foi ela?
- Foi e isso é um jogo para te conquistar.
- Então vou devolver. Ninguém me conquista com presentes. De fato estou precisando, mas não é bem assim que as coisas funcionam comigo.
Quando Marina ia falar com Lívia, Hugo apareceu dizendo que era pra voltar a tocar. Então ela ponderou e deixou a conversa para depois.
Estavam pelo meio da apresentação quando Monica chegou e procurou uma mesa para sentar, não achou, foi então que avistou Fabrício a chamando e sentou-se à mesa com ele e a morena.
- Quase não chego. O casamento atrasou, ô noiva folgada.
Os dois acharam graça da menina.
- Você conhece Marina desde quando? – Lívia perguntou curiosa.
- Desde que começamos a estudar música, com sete anos.
- Nossa, desde a infância juntas.
- Sim. Marina é minha companheira de todas as notas. – Monica brincou.
- Ela parece ser muito legal. – Fabrício falou olhando intencionalmente para Lívia.
- É sim. Marina é uma pessoa muito boa, ingênua às vezes. Tem um coração de ouro, toda a família dela é assim. O pai dela é uma das melhores pessoas que conheço.
- Ele faz o que?
- Eles têm sítio, mas Marina mora na cidade com a mãe e o irmão mais velho.
Lívia ouvia a história e ficava mais encantada.
- É impressão minha ou aquele teclado é outro?
- Não é impressão, é outro mesmo. – Fabrício falou olhando feio dessa vez para Lívia.
- Ué, não entendi.
- Fabrício me falou sobre o problema com o outro teclado e resolvi ajudar. Foi um presente para a banda. – Lívia inventou essa de última hora.
- Nossa que maravilha. Marina deve estar radiante, ela sempre quis ter um teclado, mas são caros e nunca dava pra comprar. No seu último aniversário, seu pai lhe prometeu um de presente, mas tiveram problemas com o irmão mais velho e o dinheiro que era para o instrumento, teve que ser usado para pagar contas atrasadas do irmão.
- Nossa que chato.
- Ah, ela aceitou na boa.
Lívia se comoveu, percebeu então que tinha feito a coisa certa.
Quando o show acabou Monica subiu ao palco para ver
o teclado novo.
- Ma, é fantástico. Deve ter sido caríssimo.
- Provavelmente. – A loirinha estava séria.
- Lívia disse que foi uma ajuda para a banda, que gosta muito de Eduardo e quis dar uma força. Belo presente.
Aquilo desconsertou Marina. Ficou mais confusa ainda.

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