Cap 08 - Não sei dizer...

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- Oi. Já voltou?
- Era só um banho rápido.
- Está cheirosa. – Marina falou passando a mão nos cabelos de Lívia que caíam em seu rosto.
- A música estava tão boa que você dormiu.
- Não dormi, apenas recostei aqui, estava relaxando. Faço isso às vezes.
Lívia deu a volta e sentou ao lado de Marina. Ficou olhando para ela e devagar se aproximou para lhe dar um beijo. A loirinha quis abaixar a cabeça, mas foi impedida pelas mãos da promotora.
- Gostei tanto daquele beijo que ele não saiu da minha cabeça. Queria repetir a dose. Posso?
Em resposta Marina tomou a iniciativa e a beijou segurando o rosto da morena delicadamente. Lívia não se conteve e puxou Marina contra seu corpo, apertando a cintura dela num gesto apaixonado. Parou de repente e olhou nos olhos de Marina que se mostrava totalmente entregue.
“Calma Lívia, muita calma!”
Lívia respirou fundo e falou calmante, ou tentando parecer calma.
- Menina, você me deixa louca. Tem noção do quanto estou me segurando pra não te agarrar com vontade?
- Não precisa se apavorar, eu não vou sair correndo. – Marina disse acariciando o rosto dela e sorrindo ternamente.
- Estou acesa!
- Shii... Calma!
Marina colocou a mão nos lábios de Lívia e depois os beijou com carinho.
- Acho que nunca beijei uma mulher tão bonita. – confessou.
- Já beijou outras mulheres? – Lívia ficou surpresa.
- Já. Tive uma namorada, na verdade não foi bem um namoro. Ficamos algumas vezes, logo depois que terminei com meu ex, mas durou pouco.
- Você gostava dela?
- Éramos muito amigas antes do relacionamento começar, não sei se gostava a ponto de amar. Foi só uma experiência.
- E você gostou?
- Olha, confesso que me senti diferente. Relacionar-se com mulher é mais intenso que com homens, mas eu gostei sim.
- Você tem pressa de voltar pra casa hoje? – mudou de assunto.
- Bom, na verdade tenho, porque não sei que horas Monica vai chegar e ela vai achar bem estranho eu estar fora até tarde da noite.
- Hum...
- Por quê?
- Não pode ligar pra ela?
- Não temos telefone em casa e ela não tem celular, assim como eu também não tenho.
- Incrível no século vinte e um você não ter um celular.
- Eu tenho um, mas está em São Paulo, deixei com minha mãe. Preciso ver um pra mim aqui, mas me faltou oportunidade ainda.
- Queria que passasse a noite aqui comigo. – Lívia tentou.
- Não! Monica vai ficar preocupada.
- Só por isso?
- É que acho estranho, vir aqui pela primeira vez e passar a noite. Não acho isso certo.
- Hum. “Tomei um toco!” – A morena fez um bico.
- Ah que é isso, que bico é esse?
- Achei que poderia ficar aqui comigo.
- Não posso. Quem sabe outra oportunidade.
- Pode ficar só mais um pouco então?
Marina pensou e achou que não teria problema.
- Posso. – Sorriu franzindo o nariz, gesto que deixou Lívia mais encantada.
- Então senta assim. – Lívia virou-se para Marina e a fez passar as pernas por trás da sua cintura, ficando uma de frente para a outra. Como a loirinha estava de vestido, ficou um pouco sem jeito e acanhada. – Calma, não vou olhar sua calcinha. – riu.
- Boba. Esse vestido é largo, da pra cobrir tudo.
Entre uma conversa e outra, sempre vinha um beijo roubado por Lívia. Apesar de todos os avisos de Eduardo, Marina não conseguia enxergar nada de ruim na mulher que estava a sua frente. Bem sabia que Lívia era do tipo conquistadora, jogava charme, cantadas, mas não via mal nisso. Afinal, quando se queria conquistar, era esse tipo de coisa que se fazia mesmo.
- Já está ficando tarde, preciso ir. – Marina falava com muito custo, pois Lívia estava com a boca colada em seu pescoço fazendo coisas com a língua que a estava deixando desnorteada.
- Fica mais um pouco. Por favor!
- Pedindo desse jeito como é que eu vou resistir.
Marina aceitou o pedido com um beijo cheio de paixão. Momentos mais tarde, disse novamente que teria que ir pra casa.
- Ta bom, vou te levar.
- Posso ir de ônibus, não precisa se deslocar até lá.
- Não, eu te trouxe, eu te levo. Além do mais é muito perigoso e você com essa carinha de anjo solta por aí essa hora da noite não é uma boa.
Lívia a pegou pela mão e quando estavam saindo, parou na porta e a beijou de repente, abraçando Marina e a levantando do chão.
- Vou te largar senão você não sai daqui hoje.
Marina apenas sorriu.
- Ah, eu te trouxe um presente. Espere. – Lívia correu até sua bolsa e tirou de dentro um pequeno embrulho. – Abre. Marina abriu e era uma casinha de cerâmica com um escrito na frente. “Visconde de Mauá.”
- Uma lembrança da minha cidade, de coração.
- Que lindo! Obrigada, adorei. – Marina a beijou nos lábios.
Quando chegaram em frente ao prédio Lívia a beijou ardentemente.
- Isso é pra você não se esquecer de mim.
- Nem que eu quisesse. Volte com cuidado viu. Acho que você corre muito.
- Acha? Que isso, pra Rio de Janeiro ta bom.
- Não sei, mas acho que poderia ter mais cautela. Vá devagar.
- Ta bom.
Beijaram-se novamente e Marina desceu do carro. Lívia só foi embora quando viu que a garota tinha entrado e fechado o portão.
No dia seguinte Monica acordou e foi direto para o quarto de Marina.
- Quero saber onde estava que chegou tarde? – disse pulando em cima dela.
- Você estava em casa?
- Não.
- Ué, como sabe que saí?
- Eu vi você entrando no prédio, eu tava logo atrás.
- Me viu chegando? – Marina achou que Monica tivesse visto o carro de Lívia.
- Sim, subindo as escadas já.
- Ah sim. Eu fui ligar para meus pais, me bateu uma preocupação de repente e fui ligar. Não ia conseguir dormir se não falasse com eles.
- Sei. – Monica falou em tom desconfiado. - Achei que tivesse de cacho por aí.
- Que cacho Monica! Você que pelo visto vai me abandonar daqui a pouco, ta quase casada.
- Ai, ele é lindo.
- É lindo, mas você não acha que está indo muito rápido?
- Não, ta tudo certo.
- Então ta.
- Hoje vou sair pra ver um celular. Não quer ir comigo? Aproveita e veja um pra você.
- Vou com você sim, mas vou esperar para comprar o meu. Tenho que ver até quando vão durar essas apresentações com a banda. De repente dá uma parada aí vou ter que economizar.
- Marina, se você economizar mais terá de parar de comer.
- Deixa de ser boba.
- Você segura demais as coisas.
- Mas eu preciso Monica.
- Eu sei amiga, só digo que poderia relaxar. As coisas estão andando, vai dar tudo certo.
- Tudo bem, mas o celular fica pra depois.
- Ok. – Monica revirou os olhos e foi se arrumar. Marina só não sabia que ela tinha visto sim a amiga descer do carro de Lívia. Esperou pra ver no que ia dar aquilo tudo. As duas saíram para procurar um celular e só encontraram um bom que coubesse no orçamento depois do almoço.
- Nossa, graças a Deus achamos um. Minhas pernas estão doendo. E ainda tem que andar até a faculdade. – Marina reclamou.
- E assistir aula de história da arte.
- Me dê um tiro, por favor.
- Só depois que atirar em mim. – Monica fez um gesto como se desse um tiro em sua cabeça.
As duas rumaram para a faculdade e só saíram de lá quase a noitinha. Hugo estava esperando Monica na saída e foi acompanhando as duas até em casa. Subiu com elas para o apartamento e ficaram vendo TV até que Marina resolveu ir dormir.
- Boa noite pra vocês, o sono me chama.
Os dois ainda ficaram na sala e por fim foram para o quarto. Hugo acabou dormindo lá. Marina acordou com uns barulhos vindos do quarto de Monica, sabia bem o que era.
- Meu Deus, só espero que ela esteja se protegendo. – Virou para o lado, colocou o travesseiro sobre a cabeça e tentou dormir, mas custou a conseguir.
No dia seguinte estava um caco, levantou cedo para ir pra aula e pareceu ir no rumo. Chegou a cochilar no ônibus.
“Monica me paga!”
Assistiu aula a pulso, quase dormindo em cima do caderno de pauta. Quando saiu encontrou com Eduardo na entrada da escola.
- Nossa que cara é essa? – falou vendo as olheiras da menina.
- Não dormi.
- Que houve?
- Monica e Hugo.
Eduardo não se conteve e começou a rir.
- E você ri? Juro que compro um radinho hoje com um fone potente. Prefiro escutar bolero de Ravel e contar carneirinhos para dormir.
- Ai Marina, você me mata de rir.
Nesse instante chegou Fabrício num carro bem conhecido, vinha acompanhado de Lívia. Ela ia somente deixá-lo para se encontrar com Eduardo, mas quando viu Marina, resolveu encostar o carro e parar um pouco.
- Olá.
- Oi. – Os dois responderam ainda sorrindo.
- Estão rindo de que?
- Marina e suas ideias.
- Vamos almoçar? – Lívia convidou.
- Vim deixar Fabrício pra almoçar com você Eduardo, mas tive uma ideia, vamos todos juntos.
Eduardo olhou para Marina, deu de ombros e Fabrício quem decidiu.
- Então vamos que eu to cheio de trabalho hoje.
- Nem me fale. – Lívia suspirou.
Foram a um restaurante próximo dali. Não parecia muito barato, mas não era luxuoso. Serviram-se e sentaram pra comer.  - Então, qual era a graça?
- Marina não dormiu a noite. – Eduardo já falou começando a rir.
- Que aconteceu? – Fabrício perguntou.
- Monica e Hugo lá em casa. Preciso falar mais alguma coisa?
Todo mundo começou a rir.
- Ai gente, to morrendo de sono. Falei que hoje vou comprar um radinho com um fone.
- É, escutar bolero de Ravel. – Eduardo completou.
- Argh! Que horror. – Fabrício fez careta.
O pessoal todo riu.
- Tadinha. Se quiser pode dormir lá em casa.
Fabrício olhou para Lívia e estreitou os olhos em tom de desaprovação.
- Não, obrigada. O radinho já me resolve.
Continuaram comendo e conversando. Marina foi a primeira a acabar.
- Você sempre come tão pouco assim? - Lívia perguntou a Marina.
- Como, estou de dieta.
- Como sempre? Já viu Marina comer outras vezes?
- Já. Já almoçamos e jantamos juntas.
- Ah é? Que novidade, não? – Eduardo olhou para a loirinha.
- É, jantamos juntas na segunda. – disse envergonhada.
- Aliás, poderíamos marcar alguma coisa lá em casa essa semana. - Quinta-feira tem um concerto, na verdade mais um recital, só Bach. – Eduardo falou. – Você foi escalada não foi Marina?
- Fui. – disse em tom preocupado.
- Que cara é essa? Você dá conta numa boa.
- Eu posso ir nesse recital?
- Pode sim. – Eduardo falou.
- Mamãe chega quinta à tarde, ela vai gostar de assistir, vou levá-la.
Marina meio que se decepcionou, pois achava que Lívia iria para vê-la.
- Vocês tocam na sexta?
- Sim.
- Então depois do show podiam ir até minha casa. Depois junta todo o pessoal lá, ou quem quiser ir.
- Combinado.
Terminaram e foram pagar a conta. Marina levou um susto, mas não teve jeito, pagou e saiu. “Lá se foi meu radinho.” Eduardo e Fabrício sentiram o problema, mas nada puderam fazer na hora. Quando saíram Marina e Eduardo voltaram para a escola de música, Lívia e Fabrício para o trabalho.
- Você não desiste não é Lívia? – Fabrício falava enfezado dentro do carro.
- Que isso Fá. To levando numa boa e ela ta gostando.
- Claro, sei bem como é seu jogo de sedução.
- Posso te falar uma coisa? Honestamente?
- Deve.
- Eu gosto dela, é uma garota diferente. É meiga, doce, sincera e ingênua.
- Aí você gosta mais né, tem um gostinho especial.
- Não é isso, eu estou falando sério. Acho Marina uma menina boa e sinto querer ela perto de mim. Me passa uma paz. Não sei dizer...

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