Cap 10 - Estou morrendo de vontade de você

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É difícil isso, mas é valido tentar.
- Você realmente é uma pessoa ímpar.
- Estou procurando virar par, não quero ficar ímpar a vida toda. – A loirinha brincou.
- Você vai achar alguém que a faça feliz.
Aquelas palavras incomodaram Marina. Por que Lívia não poderia ser esse alguém? Ficaram um bom tempo ainda apreciando a paisagem e se curtindo, parecia até um namoro. Ao entardecer Marina disse que precisava voltar pra casa.
- Monica deve estar preocupada.
- Ela ta é com o namorado dela.
- Ah isso é.
- Está com fome?
- Um pouco, não almocei.
- Então agora é a outra parte do passeio.
As duas levantaram e entraram no carro. Antes de dar partida Lívia se virou para Marina e falou baixinho.
- Faz mais de uma hora que eu quero te dar um beijo, posso fazer isso agora?
Marina sorriu.
- Acho que estou precisando mesmo de um beijo seu.
Lívia apertou um botão no painel do carro, reclinou o banco de Marina e o dela, dando espaço para que chegasse mais perto. Segurou o rosto de Marina e a beijou com toda delicadeza que pode. Sentiu as lágrimas descerem pelo rosto dela. Parou o beijo e viu um par de olhos verdes marejados.
- Que foi meu anjo?
- Nada, ainda estou triste. Desculpa, você está fazendo tudo para me alegrar e eu aqui chorando feito uma idiota.
- Isso vai passar. Só não estou gostando de ver esse rosto lindo, vermelho. Que eu posso fazer pra melhorar essa carinha? Se eu contar uma piada, será que você vai rir?
Marina sorriu franzindo o nariz.
- Adoro quando ri assim.
- Assim como?
- Franzindo o nariz, dá vontade de morder. Pode?
Marina riu meio de lado.
- Pode.
- Hum... – Lívia mordeu o queixo, depois as bochechas, a ponta do nariz e desceu para o lábio inferior, mordendo e chupando no final.
Sem querer Marina soltou um gemido baixinho. Aquilo acendeu os instintos de Lívia. Começou a subir uma das mãos, que estava na cintura, foi até o seio, mas sentiu a mão de Marina a impedindo, então recuou. Começou a morder o pescoço da loirinha, o lóbulo da orelha, depois desceu até o colo e tentou baixar a alça do vestido, mas também foi impedida. Marina puxou seu rosto e beijou sua boca, passando a língua devagar nos lábios de Lívia.
- Você está me deixando louca. – a voz da morena saiu completamente rouca.
Marina fingiu não escutar e continuou com o beijo, agora com mais paixão. Lívia pegou os dois braços da loirinha e os levantou, segurando-os acima da cabeça. Beijou as laterais e chegou no colo. Baixou a alça do vestido, fazendo aparecer a beiradinha do seio esquerdo, ficou louca quando viu o biquinho enrijecido por baixo do tecido. Quando ia acabar de baixar a alça, Marina se soltou e a levantou novamente. - Ah, você quer acabar comigo. Só pode.
- Quero não, você que está querendo me deixar doida aqui. Não acha que aqui seria muito arriscado?
- Arriscado por quê?
- Por ser um carro ué.
- Meu carro tem insulfilm e vidros blindados, ninguém vai nos incomodar.
- Não é isso. – Marina se desvencilhou. – É que não acho que seja o lugar mais apropriado.
Lívia respirou fundo e entendeu o que Marina queria dizer.
- Tudo bem. – Lívia se ajeitou no banco e ligou o carro para saírem.
- Está brava?
- Não. – estava séria.
- Está chateada?
- Também não.
- Está o que então?
A morena parou o carro de novo e a agarrou lhe dando um beijo cheio de intenções e depois falou:
- Estou morrendo de vontade de você, mas vai passar.
Acelerou e desceu o morro. Marina sorriu timidamente enquanto se ajeitava no banco. No meio do caminho arriscou colocar a mão esquerda na perna de Lívia, que levou sua mão cobrindo a de Marina.
- O lugar que vou te levar é um dos que mais gosto de ir aqui no Rio, sempre levo minha mãe lá. Tudo que se come lá é gostoso.
- Se tiver pão com manteiga eu já vou gostar, com a fome que estou.
- Também estou morrendo de fome. – apertou a mão de Marina. A loirinha se limitou ao silêncio.
Chegaram ao local e Marina ficou maravilhada.
- Eu sempre quis vir aqui. Já tinha lido sobre ela na internet.
- Então já conhecia a Confeitaria Colombo?
- Só pelo computador, é mais linda ao vivo.
- Então vamos entrar.
Foram direto para o segundo andar, sentaram-se e pediram um café completo. Enquanto comiam Marina falava sobre o lugar.
- Meus compositores prediletos vinham aqui, Chiquinha Gonzaga e Villa Lobos. Quando cheguei ao Rio, dentro do ônibus ainda, comentei com Monica que queria vir aqui qualquer dia desses.
- Aqui está então.
- Obrigada por me trazer. – disse sorrindo.
- Não me agradeça linda, quero é ver você sorrindo de novo. Isso já é um agradecimento. “Mas o que eu estou dizendo?! Lívia, quer parar de ser romântica!”
Marina olhava atenta ao lugar e ficava mais admirada. Quando terminaram de comer Lívia fez uma ligação para o escritório, depois disse que ia ao banheiro. Quando estava voltando encontrou com Bianca.
- Querida, está viva! Quanto tempo?
- Que isso Bianca? Parece que não nos vemos há anos.
- Em relação à frequência que nos víamos, tem tempo que não te vejo. Que faz por aqui?
- Vim tomar um café.
- Sozinha?
- Não. Já estavam se aproximando da mesa onde Lívia estava e Bianca pode ver Marina.
- Ah sim, trouxe sua sobrinha. – disse em tom meio sarcástico.
- Não, essa é Marina, uma amiga minha.
- Ah sim. Prazer Marina. – Bianca sorriu.
- Oi, prazer.
- Pedofilia dá cadeia e sem fiança, você deveria saber disso melhor do que eu. – Bianca cochichou no ouvido da morena. Não passando despercebido por Marina.
- Deixa de ser ridícula.
- Bom meninas, vou indo tenho muito que fazer hoje ainda. E Lívia... me procure quando sair do jardim de infância.
Marina ficou possessa, quase não acreditou no que ouviu. Apesar de Bianca ter dito em voz baixa, não tinha como não escutar. Quando Lívia se sentou a loirinha estava emburrada. Sabendo o motivo, tentou descontrair.
- Terminou de comer?
- Já.
- Você viu que eles têm um piano aqui? De vez em quando tem alguém tocando, venho pra cá só pra ouvir às vezes.
- Deve ser bonito.
- Quer tocar lá?
- Lá em cima?
- É.
- Pra que?
- Queria te ver tocando, eu adoro.
- Já me viu tocando em outros lugares. Não vou me expor aqui nesse lugar só porque você acha bonito. – Marina falou mais ríspido do que imaginou.
Lívia estranhou a resposta, mas não falou nada. - Me desculpe, não queria ser grossa.
- Mas foi.
- Desculpe, é que não gosto desse tipo de exposição. Em casa eu toco sempre que me pedem, mas acho uma exposição sentar num lugar público e tocar sem motivo. Você pode me ver tocando em outras ocasiões.
- Tudo bem.
Quando estavam saindo Lívia pediu que Marina esperasse do lado de fora e entrou novamente, pegou um embrulho no balcão.
- Isso é pra você levar.
- O que é?
- Uma torta de morango com amêndoas que eles fazem aqui. Um presente pra você.
- Não precisava. – Marina agora ficara sem graça, havia sido grossa e Lívia atenciosa.
Quando chegaram em frente ao prédio onde Marina morava Lívia somente se despediu, não ia subir.
- Queria agradecer pelo passeio, eu adorei tudo.
- Que bom, fico feliz por isso.
- Desculpe novamente pelo que falei na confeitaria, não tinha necessidade daquilo.
- Não tem problema, eu compreendo.
- Quero te pedir uma coisa, posso?
- Fale.
- Pode me dar um beijo? – Marina sorriu.
- Isso nem precisava pedir.
Lívia a puxou beijando-a com vontade, quase colocando Marina em seu colo. Quando se afastou a loirinha ainda tinha os olhos fechados. De repente os abriu e o verde se encontrou com o azul. - Às vezes tenho a impressão de que já te conheço. – Marina falou mais para si mesma.
Lívia sorriu, mas não falou nada.
- Obrigada mais uma vez pelo passeio. Fica com Deus e vai...
- Já sei, vai com calma pra casa.
- Isso.
- Ah, espere. Quero que fique com meu cartão, aqui tem meus telefones do escritório, da minha casa e celular. Se precisar de qualquer coisa me ligue.
- Pode deixar.
Beijaram-se de novo e se despediram. Quando Marina entrou no apartamento Monica estava no quarto estudando.
- Oi, trouxe uma coisa que você vai adorar.
- O que?
- Comida! – a loirinha sorriu.
Marina foi até a cozinha e abriu o embrulho mostrando a torta.
- Nossa isso deve ta muito bom.
- Então aproveita.
- Onde comprou?
- Não comprei, ganhei. Lívia me deu, é da confeitaria Colombo.
- Uia! Você era doida pra ir lá.
- Pois é, tem que ver como é bonito.
- Gostou do passeio?
- Sim, fomos até a Pedra Bonita.
- Saltou de paraglider? – Monica riu.
- Não bobona, só conheci. A vista de lá é linda. – Marina se lembrou dos momentos com Lívia.
- Essa moça parece ter gostado de você. - É. – a loirinha sorriu. – Ela é legal, muito educada.
- Bonita ela não? – Monica jogou verde.
- É né? Ela chama a atenção onde passa. Bom, vou tomar um banho e estudar. Tem concerto essa semana.
- Estava estudando também, pode ouvir depois? Quero saber se estou indo bem.
- Claro.
Marina entrou no banho e quando saiu, sentou na sala pra ouvir Monica. Realmente estava ótima. Monica podia não acreditar, mas tinha talento nato para música e uma facilidade incrível de tocar qualquer instrumento. Tocava piano também, além de contrabaixo, violão e saxofone. Resolveu se dedicar à flauta transversa, pois era o sonho de seu pai.
A semana correu bem, Marina contou a seus pais o episódio do assalto e ele disse que mandaria dinheiro para ela. Nem que fosse o da passagem. Ela não aceitou dizendo que se precisasse pediria. Não viu nem falou mais com Lívia durante aqueles dias. Sexta-feira de manhã Monica andava de um lado para outro na sala:
- Que foi Monica? Ta gastando o chão. – Marina brincou.
- Não tenho roupa.
- Como não tem roupa? Achei que estivesse nervosa por conta da apresentação.
- Não! Sabe que não ligo, mas não sei o que vou vestir.
- Quer ver se tenho alguma coisa que te sirva?
- Não. Você coloca roupas muito estilo menininha. – debochou.
- Hein? – Marina se indignou. – Não coloco nada.
- Coloca sim. Faz parecer que tem até menos idade.
Aquilo foi quase um tapa na cara, fez Marina lembrar o episódio com Bianca na confeitaria. - Ah, eu gosto.
- Eu não acho feio, só acho que você poderia se valorizar mais como mulher.
Marina foi até seu quarto e olhou para o vestido que estava em cima da cama, o que iria usar na apresentação. Era banco com detalhes de florzinhas verdes, realmente não era o estilo mais adulto de se definir. Achou que Monica poderia estar certa.
- Acha que esse está muito infantil? – mostrou o vestido.
- Acho.
- Mas o que eu vou vestir então?
- Pronto, já não bastasse eu na dúvida, agora você.
Monica entrou no quarto da amiga e abriu o guarda roupa, revirou as gavetas e tirou os cabides e achou uma saia preta mais curta e de cintura alta. Pegou uma blusa branca sem mangas e colocou como se montasse um manequim.
- Aí, fica mais elegante. Coloque um cinto, eu tenho um. Vai ficar ótimo, ta usando cintura alta.
- E o que eu iria calçar?
- Salto.
- Não gosto de salto para tocar.
- Você vai tocar uma música. – enfatizou o uma. – E isso não vai te matar.
Marina vestiu as roupas e realmente ficaram boas. Penteou os cabelos e fez duas tranças nas laterais as prendendo atrás da cabeça. Parecia outra mulher. Ajudou Monica a escolher o que vestir. Optaram por uma calça reta social e uma blusa salmão mais larga com um decote na frente. Saíram e foram para a escola. Chegando lá havia certa movimentação na porta, as duas viram Marconi, que logo as encaminhou até o teatro.
- Concertistas na frente, daquela fileira ali em diante são pra convidados. Gente, que monte de pastas são essas? – perguntou aos alunos.
- Partitura ué. – um deles respondeu.
- É Marina, só você me mata de orgulho. Vai tocar sem ler. – saiu apressado para terminar de ajeitar outras coisas.
Os garotos da banda chegaram pouco depois acompanhados de Lívia e sua mãe.
- Mãe, senta aqui, a visão é melhor.
- Nossa que bonito esse lugar.
- Sim, vai ficar mais lindo ainda quando começarem a tocar. – Lívia pensou em Marina.
O concerto começou e aos poucos os alunos foram se apresentando. Quando Monica subiu ao palco os garotos aplaudiram animados, principalmente Hugo que fez a graça de assobiar chamando a atenção. Aquilo deu mais motivação à garota que tocou entusiasmada. De piano só havia quatro alunos e Marina seria a penúltima. Quando chegou a sua vez, se levantou e subiu ao palco. Lívia olhou para a programação e olhou para a moça que estava sentada em frente ao piano.
“Ué?! Erraram?”
Só depois viu que era Marina quem estava sentando para tocar.
“Meu Deus como está linda!”
Não só pensou como falou, fazendo sua mãe perguntar:
- O que foi?
- Nada, estou fazendo uma observação aqui.

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