Capítulo 4

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{⭐⭐⭐}

 

~•~ No dia seguinte, algumas horas depois ~•~

—  Como está, campeão? — perguntou Ana, ao me ver acordar.

— Campeão? Estou mais para um perdedor.

— Você já passou por tanta coisa com só vinte anos... Por que se chama de algo tão baixo?

— Por muito tempo achei que a melhor forma de fazer todos felizes era esquecer de mim mesmo... Eu menti, Ana. Menti para os meninos, para minha S/N, para os fãs e meu filho terá um pai mentiroso e... Morto.

— Pensamentos negativos atraem coisas negativas.

— Mas contra fatos não há argumentos.

— Que droga... Vou mesmo ter que fazer isso? —  exclamou, apontando para um aparelho que indicava meus sinais vitais.  — Olhe para isto! Está vendo? Seu coração ainda bate! Você está vivo! Por favor, pare de tanta... Tanta... Melancolia!

— Perdoe-me...

— Não é a mim que deveria pedir desculpas. — suspirou e completou: — Você vai morrer algum dia. Pode ser hoje, amanhã, daqui a vinte, quarenta ou sessenta anos. Um dia todos nós vamos morrer.

— E...?

— E é por isso que temos que viver como se estivéssemos em nossos últimos dias. Vamos lá, Carpe Diem!

— Sabe o que eu gostaria de fazer agora?

— O quê?

— Gostaria de poder andar até o lado de fora para admirar o pôr-do-sol. Será confortável já que ninguém não sabe que estou aqui.

— Tem certeza? Você ainda está tão fraco...

— Tenho. "Aproveitar como se estivéssemos em nossos últimos dias", certo?

— Então deixe eu te ajudar a levantar!

  Ela passou meu braço sobre seu pescoço e apoiei-me nela para conseguir levantar.

— Tenho que ir com essa coisinha no nariz?

— Vernon, essa "coisinha" está te ajudando a respirar.

— Mas eu consigo fazer isso sozinho. Já estou melhor.

— São ordens médicas.

— Ah, tudo bem, sua chata!

— Deveria reclamar com seu médico, não comigo! — exclamou, rindo.

  Com a ajuda de algumas muletas e a Ana, andei por aqueles corredores. As pessoas eram gentis comigo. "Boa tarde", diziam sempre que viu alguém passar por elas. "Como foi seu dia?".

  Deparamos-nos com alguns lances de escadas, uns cinco, talvez. Ana olhou para mim, esperando eu dizer algo.

— O que foi?

— Acha que consegue descer isso tudo? Podemos procurar um elevador ou algo assim.

— Claro que eu consigo! Sabe quantas danças temos que realizar por show? Essas escadas não são nada!

— Tudo bem. Se algo acontecer, se você sentir algo, por favor, avise-me!

  "Ah, isto me incomoda tanto.", pensei, em relação à "coisinha" no meu nariz, que me ajudava a respirar. "Ana não vai notar se eu tirar isso só por alguns minutos."  

  Quanto mais eu descia, parecia que mais degraus apareciam. Faltavam apenas mais três lances de escadas, e minha respiração, repentinamente começou a ficar mais e mais ofegante.

  No quarto lance, quando Ana soltou meu braço por descuido, minha visão escureceu, e a única coisa que consegui sentir foram os degraus batendo em todas as partes do meu corpo. "Pelo menos chegamos ao estacionamento.", pensei, ao, mesmo com a visão turva, ver o pôr-do-sol. 

  Ana gritou por mim. Um segurança do estacionamento acudiu-me. Tudo escureceu novamente.

Eu estava tão cansado dessas escuridões que vinham repetidamente. Quando que tudo seria eterno?

                            {•••}

  Quando acordei, novamente em meu leito, um representante da empresa, Min Taehyun, estava ao meu lado, com um semblante preocupado e triste.

— Como está?

— Pior... — sussurrei, fraco. Falar fracamente e ainda ter uma máscara de ventilação sobre meu rosto só dificultava mais ainda Taehyun ouvir minhas frases.

— Não se esforce muito para falar. Sei que está muito fraco. — disse. — A... A S/N já sabe de tudo.

— Não...

— Ela está preocupada. Os meninos devem ter contado. Imagine como S/N estava... Eles não podiam recusar isso.

— S/N virá aqui.

—  Cheol não irá contar.

— Então ela descobrirá.

— O que faremos com ela?

— Não a deixe entrar.

— Por quê?

— Se ela me ver assim...

— Tudo bem. Eu entendo. Vou avisar aos seguranças.

  Taehyun começa a andar de um lado para o outro, estressado, enquanto conversava com alguém pelo celular. À minha frente, havia um espelho. Ao ver meu reflexo, pude ver o quão machucado eu estava. Meus braços, pernas e rosto com manchas vermelhas, roxas e muitos machucados.

— Desculpe-me. É o CEO da empresa. Tenho que atender esta ligação, Vernon. — disse ao seu celular tocar.

— Obrigado por vir.

  Quando a porta fora aberta, ouvi S/N gritar, chorando com os seguranças. "Deixem-me entrar! Por favor!", pediu ela.

— Não posso deixar você passar desta porta. Desculpe-me, são ordens dele. — respondeu Min Taehyun.

— Diga-me ao menos se ele está bem.

  Tudo tomou um silêncio preocupante. Não pude mais ouvir a voz de nenhum dos dois. Minhas lágrimas caíam, eu estava chorando como nunca chorei antes.   

— Vernon, sou eu, S/N, está me ouvindo? — perguntou, batendo com força na porta. — Por favor, Você precisa sair bem desse hospital. Se chegou até aqui, é porque você ainda não alcançou o seu limite.

    "Não chore por mim.", pensei.
                   
— Por favor, faça isso por nós.

  Sabendo que ela não sairia dali até uma resposta minha, com muita dificuldade, levantei meu braço até um pequeno criado-mudo que havia ao lado de meu leito. Peguei meu celular e, com minhas últimas forças, mandei uma mensagem a ela:

"Enquanto houver você desse lado, aqui do outro eu consigo me orientar."

  Seu celular apitou assim que a enviei.

—  Então deixe-me te ver. Eu sinto sua falta. Querido, estou tão sozinha. Por quê? Por quê foi embora sem me contar nada? Por favor, volte para casa.

  "Solte-me. Você pode voltar para casa."

— Fique bem logo. Eu te amo. — despediu-se.

  Soltei meu celular, deixando-o cair no chão, respirei fundo e comecei a chorar ao som de todas aquelas fãs na rua que gritavam "Fighting, oppa!"*

{*Força, oppa!}

Cantarolando minha música favorita - a que eu sempre ouvia em qualquer momento, seja ele triste ou não -, ouvi-as do lado de fora e pensava no futuro.

  Nunca me senti tão preso em um filme de romance dramático como agora.

  {⭐⭐⭐} 

Carpe Diem: Wings [pt.2] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora