Capítulo 5

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{⭐⭐⭐} 

— Bom dia, Vernon. Você parece melhor hoje, bem, pelo menos melhor que ontem.

— Bom dia, Ana. Sim. Agora consigo falar um pouco melhor... Ainda com grandes pausas... Mas estou melhorando.

— Está na hora de suas vitaminas. Depois eu volto para trocar seus curativos.

— Por quanto tempo terei de tomá-las?

— Até você ficar mais forte.

— E quando vou poder respirar sem a ajuda dessa coisa?

— Coisa... Coisinha... Isso tem nome, sabia? — brincou. — Não sei.

— Como assim, não sabe?

— Você tem uma doença nunca antes vista. Não sabemos como tratá-la ou se há um tratamento.

— E agora, o que mais virá? Um raio?

— Não diga isso!

— Estou cansado, Ana.

— Você tem que usar. Caso contrário, o pior pode acontecer.

— Posso te pedir um favor?

— Pode me pedir qualquer coisa.

— Enquanto eu estiver dormindo, desligue o aparelho. Deixe-me ser livre.

— Não! Qualquer coisa menos isso!

— Eu estou implorando.

— Isso seria errado com você, com sua família e amigos.

— Por favor, Ana.

— Não tenho uma história de Cinderela para poder te dar uma grande lição de moral. Meus pais aceitaram o fato de eu ser feliz com uma mulher, mas, bem... As pessoas ainda me olham estranho ao me ver de mãos dadas a ela e nosso filho. Isso é bem constrangedor e desconfortável. Já estou acostumada ao saber que nunca me enquadrarei aos padrões que a sociedade quer impor e...

— Você já passou por alguma situação ruim por ser homossexual?

— Sim, principalmente quando eu era mais nnova  Não deixe seu filho ser como essas crianças, está me ouvindo?

— Eu nunca deixaria! — ri baixo de sua postura autoritária, e, voltei a perguntar: — Mas... Você gostaria de fazer parte desses padrões?

— Não, prefiro fugir dos padrões e ser uma pérola negra, não uma branca!

— É... Eu conheço essa história... Li todos os livros.

— "Se o final forem rosas, ...

—... O caminho de espinhos não importa." —  completei. —  As dificuldades que enfrentara te tornaram mais fortes...

— Exatamente. Essa é a minha essência. Sabe, pelo menos por uma vez, gostaria de ver a sua. A única coisa que posso ver é uma pessoa fraca, com medo de viver.

— Eu quero ser forte por todos e por mim.

— Então, tome suas vitaminas! — exclamou, de uma forma engraçada, fazendo-me rir. — Seu neurologista pode me matar se você não estiver pronto para cirurgia dentro de menos de dois meses.

— Matar? Oh, ele não faria isso com uma pessoa maravilhosa como você!

— Eu tenho meus segredos! Nao sou um anjo.

— E que segredos são esses?

— São segredos, bobo!

— Você não presta!

— Você também não, mas eu não falo isso na sua cara!

— Não posso rir, por favor, pare de falar coisas engraçadas!

— Tudo bem, tudo bem! Perdoe-me.

— Por que as vitaminas têm que ser tão ruins? —  perguntei, ao tomar aqueles comprimidos.

— Porque são para te fazer melhorar, não para serem saboreadas!

— Ah, Ana, por favor, nunca mude! Obrigado por me fazer rir todos os dias!

— Você foi o melhor paciente que já tive. Nunca vou me esquecer de tudo isso.

— Não me faça chorar de novo!

— Às vezes eu acho que você é uma mulher na TPM, Vernon. Ou você chora muito, ou você está bufando de raiva! E tudo isso acontece num espaço de menos de quatro horas.

— Aish... Fique quieta!

 
  Passamos mais algum tempo conversando enquanto ela limpava meus machucados. Ana sempre foi tão boa e atenciosa comigo... Sinto-me bem por conseguir demonstrar toda gratidão e amor que sinto por ela.

   
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Carpe Diem: Wings [pt.2] EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora