Uma Emergência (+18)

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1 mês se passou...
Janeiro passou rápido, Fevereiro chegou com tudo. Mas o meu "tudo" não fala mais comigo. Saí da casa do Obegran sem dizer nem uma palavra sequer, apenas fugi daquilo que me pareceu o pior dia do ano. E realmente foi!
Giovanni trabalha na manutenção, então basicamente, não o vejo a não ser no refeitório. Mas até o horário de pausa, ele trocou...
Me evitar seria a chave pra curar as minhas duras palavras? Talvez.
São 20:00 , resolvi deitar um pouco no dormitório para plantonistas, está tudo bem calmo e sinceramente : que sono...

-SAVINON, SAVINON, ACORDE! - sou acordada por uma enfermeira em desespero.
-O que...foi? - respondo ainda coçando os olhos.
-É uma emergência! Uma moça foi atropelada a duas quadras do Hospital! O coração dela está com problemas, não sabemos o que fazer!
Sim, eu fui tirar um pequeno cochilo e sou acordada nesse alarde todo. Mereço!
Corro para o pronto-socorro, já pensando no que fazer para salvar a... MIA?!
-MIA?!- meu Deus, eu não esperava por isso - O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?!
Ela está irreconhecível, o rosto não lembra a branquela com cabelos castanhos que eu conheci na infância!
-Eu...vim...te...fazer...uma...surpresa - com dificuldade ela consegue me dizer o que aconteceu - Um...carro...eu...não...vi...

Como assim, meu Deus?! Ela veio sem me avisar nada, eu não estava crente nisso.

-MIA, VOCÊ É LOUCA?! OLHA SÓ PRA VOCÊ! - me descontrolei.
-Me...desculpa...Hill... eu...te....amo...
E ela desfaleceu na maca.
-MIA, NÃO! POR FAVOR, NÃO FAZ ISSO COMIGO!
Puxei o desfibrilador mais próximo da sala e tentei reanimar aquele coração tão bom que já tinha feito tudo por mim!
280...300...420...
-Mianny, por favor! - me deitei por cima do corpo dela - Eu preciso de...de você comigo, Mianny!
Tarde demais... Me afastei dela devagar, observando os enfermeiros cobrirem o corpo. Não pude aguentar : era minha amiga, quase irmã.
A enfermeira que havia me acordado estava chorando, com as mãos no rosto.
Não, meu Deus, a Mia não...
Saí correndo para fora do Hospital, olhei para os lados. Minhas lágrimas já pingavam na roupa, eu não conseguia mais raciocinar.

"Tia Anne, você deixa a Hill brincar comigo hoje?"
"Hill, olha a boneca que eu ganhei"

Minha cabeça me lembrou da infância, da Mia brincando comigo, pedindo a minha querida mãe, Anne, para me deixar brincar com ela.
Porque, minha irmã? Porque não me avisou que vinha? Eu podia ter feito mais por você, se não estivesse dormindo na porra do dormitório!
Fui para o ponto de táxi que fica na frente do Hospital e peguei o mais acessível. Nem ao menos olhei para trás, era muito sofrimento.

Em casa, 23 horas...

"Você podia ter salvo a Mia! Inútil, só sabe dormir no momento que mais precisam de você!"
Meu subconsciente gritava comigo, me espancando com palavras amargas : não foi totalmente minha culpa. Ou talvez tenha sido e eu não queira admitir...
"Dra. Soraya, estarei afastada do Hospital por 1 semana. Uma grande amiga faleceu na minha frente hoje no pronto-socorro. Espero que possa compreender. Ass : Savinon"
Pelo menos dei satisfação a minha chefe. A única coisa que eu posso fazer agora é tomar meus remédios e dormir.
Meia cartela de Xanax com mais 2 pílulas de Sonata : eu espero que ajude.
E assim, num único suspiro, o sono chega...

08:30 do dia seguinte...
*Campainha toca*
Quem veio me visitar logo a essa hora? Tá tão cedo... Não tenho amigos para se preocupar comigo tanto assim. Levanto da cama, passo pelo espelho : olhos inchados, boca levemente esbranquiçada, ainda são os efeitos do remédio.
Destranco a porta e...
-GIOVANNI?! - é, eu realmente não esperava por isso.
-Me diga que está bem, por favor! - ele está com uma cara de assustado.
-Entre! - logo tomo de volta a minha cor normal - O que aconteceu com você?
Ele entra e me envolve num abraço. O silêncio teima em aparecer nesses momentos.
-Eu vi, pela janela do meu escritório, você sair do Hospital às pressas e pegar um táxi. Depois eu soube da Mia...
Mais uma vez desabei em lágrimas e senti ele me apertar forte.
-Shhh, vai ficar tudo bem! - Giovanni me abraça enquanto acaricia os meus cabelos.
Fazia muito tempo que eu não me sentia protegida, acho que desde a minha vinda a Seattle.
-Se importa que eu fique aqui? - ele separa o abraço e me olha com uma olhar doce, diferente dos outros olhares que ele havia dado.
-Claro que não, pode ficar! Eu durmo no sofá, a cama está a sua disposição.
-Não, vamos ficar na mesma cama, como da última vez.
Giovanni? Pedindo pra dormir comigo? Ok, isso não acontece todo dia.
-Se você quer assim, mas minha cama não é muito confortável como a sua.
-Meu conforto é te ver tranquila. Foda-se a qualidade do colchão! - ele nunca consegue passar muito tempo sem ser bruto mesmo.
Então, resolvemos sentar no sofá por um tempo :
-Você não teve culpa e sabe disso, Hill.
-Como você descobriu? - pergunto com certo receio.
-Dra. Soraya me ligou logo cedo hoje, me mandando dar baixa no seu pedido de afastamento. Desconfiei e vim correndo te encontrar, procurar saber como estava se sentindo.
Eu o abraço, nunca estive tão triste. Esse foi o segundo pior dia da minha vida, depois da descoberta de que Noan era doente. Assim nesse carinho, adormeci em seus braços...

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