[a certain romance - arctic monkeys]

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Eu estava lá sem motivo algum. Tinha ido sozinho. Talvez alguma parte de mim quisesse muito se divertir, mas assim que eu pisei no salão de festa, meus olhos procuraram uma cadeira. Logo veio o pensamento que estava ficando velho. Velho eu não estava, mas ainda era indisposto para tudo. Ou pelo menos para festas. Sozinho, desanimado. O que todos esperavam de mim?

Meu espírito jovem podia ouvir o som a quarteirões de distância. Eu sabia disso, tinha ido andando. Consegui apreciar uma ou duas músicas enquanto caminhava. Eram bandas que eu não gostava. Músicas que eu não ouvia. Gente que eu não conhecia.

Eu podia sentir o suor nas minhas costas, mas não sabia se era ansiedade ou cansaço, talvez os dois. Mas eu nem me importava mais. Eu só queria voltar para casa cada vez mais. Dar as costas e ir dormir. Porém, alguma coisa me chamava pra lá. Eu estava sendo atraído sem motivo aparente. E eu queria ir, no fundo.

Eu estava na frente da casa onde ocorreria tudo. As pessoas entravam e saiam segurando copos de cerveja e bebidas que eu prefiro não saber qual eram. Estavam sorridentes e por um momento eu desejei ser eles, claramente felizes. Ou bêbados.

Agradeci por eles esterem nesse situação, assim, eles nem me notariam. E eu sabia que teria pessoas que eu não queria ver ali.

Peter e Alice formavam o casal perfeito. Sabe, tinham até o mesmo estilo, os Converses acabados de tanto serem usados, as calças rasgadas ridiculamente enfiadas dentro das meias. Eram claramente estranhos visto de longe, daquele tipo que sua mãe avisa para ficar longe e que mesmo assim você sonha em crescer igual.

Não eram más pessoas, só tinham um estilo de vida peculiar. Posso te dizer que eles são os melhores amigos que eu já tive em bastante tempo. Um casal e tanto. Mas se pudesse vê-los por um momento, eu juro, veria que não existe mais amor por aí.

Eram daquele tipo que faziam tudo juntos, iam para todas as baladas, festas e eventos. Era difícil ver um sem o outro. Alice se pendurava no braço direito e dificilmente o soltava.

Naquela noite, Alice traiu Peter, e vise-versa. Algo me diz que não foi a primeira vez. Mas acho que concordavam que se haviam bebido algumas latas, não havia problema em agir como um idiota.

O problema é que eu era o amante.

Caminhei lentamente para a porta, tentando desviar de todas as pessoas que ainda insistiam esbarrar no meu ombro, andando tortas. Eu vi o garoto da banda da cidade beijando uma garota de cabelo colorido na janela e dois marmanjos brigando - poderia jurar que um deles estava com o nariz quebrado, porque jorrava sangue, o outro segurava um taco de sinuca.

Dentro da casa, não preciso ser nenhum Sherlock para saber que tinha algo de errado com aquelas pessoas. Parecia que eram bêbados comuns, mas eu sabia que tinha algo mais ali, um motivo escondido. Um coração perdido, uma mente bagunçada, parafuso fora do lugar, pais que brigam.

Não preciso ser nenhum Sherlock para saber que cada pessoa ali passava por uma batalha interna que eu não sabia nada sobre.

Fui direto ao bar. Ou, para o que parecia ser um bar. Devia ser a cozinha da casa cheia de latas de todos os tipos, com marcas de cerveja que eu nunca ousaria provar. Tentei procurar o olhar de Alice e Peter. Eles não estavam ali, pelo menos. Mas eu ainda os encontraria por aí.

Procurei por alguma latinha de Pepsi por toda a parte, devia ter uma em algum lugar. No fundo da geladeira, provavelmente. E claro que, por sorte, tinha.

Eu continuava esperando algum sinal de vida do meu casal preferido. Talvez estivesse trancados num quarto da casa, talvez estivessem por aí.

Até eu ver Alice num canto. E aquele definitivamente não era Peter. Afinal, Peter teria um pouco mais tatuagens e um cabelo colorido. Ele não seria tão normal assim, francamente.

Meu cérebro demorou para processar aquela cena, o que estava acontecendo naquela casa? Mesmo que ela estivesse aparentemente bêbada, mesmo que o cara só estivesse se aproveitando da situação, por que aquilo estava acontecendo? Como... as coisas tinham chegado até esse ponto?

Foi quando eu precisei tomar um ar que eu me arrependi totalmente.

As coisas já estavam girando, mas eu não conhecia o motivo pra tal cois.

Quem Canta um ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora