[here - alessia cara]

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— Você parece desinteressada — Lauren praticamente gritou no meu ouvido, sendo abafada quase que por completo pela música alta o bastante para todo o quarteirão ouvir.

— Desculpe — eu falei, usando o tom normal. Eu sabia que ela não tinha ouvido, então apenas torci para que pudesse ler meus lábios.

A verdade é que eu estava desinteressada até antes mesmo de sair de casa. Eu havia colocado só mais uma calça jeans e a blusa mais ousada que eu tinha - e ela não passava da regata branca mais normal de todas. Eu estava tão diferente de Lauren, que tinha insistido para eu passar no mínimo um rímel, enquanto ela tinha a maquiagem extravagante  e um vestido que quase aparecia tudo. Ela gostava de atenção e os garotos gostavam disso.

A verdade é que eu preferia estar em casa sozinha do que naquele lugar cheio de gente vazia que procurava se preencher de bebida alcoólica, com alguma esperança que os seus problemas adolescentes fossem simplesmente desaparecer no tempo em que um copo era virado.

Mas absolutamente nada naquela festa me interessava, nem os salgadinhos, nem a bebida de graça, nem os garotos, nem a música.

— Você precisa de um namorado — Lauren repetiu pela sétima vez com a voz mais embargada que antes, dessa vez, posso jurar que se não fosse pelo cheiro de cigarro vindo do cara sentado no banco ao meu lado, eu poderia sentir o odor de álcool vindo da boca da minha amiga.

E pela sétima vez eu disse que não precisava de ninguém além de mim mesma. Eu nem sabia o que estava fazendo ali com aquela garota que eu nem conhecia direito, mas havia me oferecido para ser a motorista por aquela noite.

A TV do meu lado estava ligada em um canal qualquer que passava um filme qualquer que eu tinha certeza que era mais interessante do que ver pessoas dançando e se beijando, mas o som era totalmente abafado. O cara que fumava se levantou para pegar mais um drink que ele nem conseguia mais tomar por estar tonto demais. Eu já podia visualizar o vômito bem ao lado do meu pé, com um cheiro horrível.

— Vá se divertir. — Lauren sorriu pra mim e voltou a dançar.

Mas eu não estava afim. Eu nem ao menos gostava da música que tocava escandalosamente e invadia minha cabeça sem permissão, alguém gostava daquilo? Na verdade, aquilo ainda é considerado música pelas pessoas? Porque simplesmente estava sufocando qualquer pensamento certo que eu ainda tinha, qualquer pensamento sobre a prova de química que eu teria na manhã seguinte. A fumaça me deixava tonta ao ponto de cambalear, as luzes que vareavam entre o verde, rosa e vermelho atrapalhavam a visão.

O cara que estava ao meu lado tentou me beijar. De repente. Ele estava bêbado e eu tentava fazer uma parte de mim entender isso para não ficar totalmente indignada. Ele não estava controlado e consciente. Mas não pude deixar de me afastar.

Droga.

— Relaxa aí, gatinha.

Essa frase. Alguém, por favor, explica para os homens que essa frase não vai nos fazer relaxar. Ela é simplesmente uma mistura de "deixe eu fazer o que você não quer que eu faça" com alguma espécie de insulto, porque, gatinha para de ser um elogio quando vindo de uma pessoa que você não gosta.

Me levantei, tentando inutilmente encontrar o olhar de Lauren na pequena multidão. Ela devia estar se agarrando com algum cara, dançando sem parar até o chão ou brincando de quem bebe mais tequila na cozinha da casa com algum grupo de desconhecidos que ela havia arrumado na festa. ela arrumaria um jeito depois.

A noite tinha acabado pra mim.

Quem Canta um ContoOnde histórias criam vida. Descubra agora