Líder Forte - os segredos da liderança à prova de crise

Aspectos da liderança

ASPECTOS DA LIDERANÇA

Para tirar melhor proveito deste livro é importante identificar qual é o nosso foco na abordagem da liderança. Aqui iremos tratar de uma liderança com "personalidade", sem bom mocismo e ambientada no olho do furacão de uma crise. O líder e o sistema de liderança forte descritos nas próximas páginas têm como foco a superação de crises, portanto esqueça a ortodoxia ou os esforços para ser simpático. Sem abrir mão da ética, a liderança abordada aqui subverte alguns mitos, costumes e práticas para deixar claro que você deve ser forte para fazer o que precisa ser feito na hora oportuna.

Mas o que, afinal de contas, é liderança? Como você entende liderança?

De maneira simplificada, podemos entender liderança como o processo através do qual se influencia pessoas para realização de determinados objetivos. OK! Mas pare e pense, o quanto, mesmo que intuitivamente, fazemos algo parecido todos os dias. Quem nunca ouviu aquela frase? "A palavra convence, mas o exemplo arrasta!" Pois é, ela traz uma série de conceitos que fazem parte de nossa rotina. Isto porque liderar é algo natural e dissociado do formalismo funcional ou mesmo institucional. Outrora algumas organizações pretenderam impor a liderança na forma de cargos, obviamente este modelo fracassou. Liderança está muito mais próximo do subjetivo jogo de percepções do que da cartesiana lógica de cargos e hierarquia.

Tradicionalmente, quando falamos em liderança, existe uma forte associação com o exercício das atividades de uma única pessoa: o líder. Assim, o foco de preparo e desenvolvimento está sobre a pessoa, suas habilidades e atitudes. Todo o esforço de orientação gira em torno apenas do líder e do comportamento dele nas mais diversas situações ou ambientes.

Mas existe, também, uma outra maneira de abordar o assunto. Analisando, de forma mais ampla, liderança pode ser compreendida como um sistema. Algo muito maior e interessante do que a existência e atuação de uma única pessoa. Entendida assim, liderança pode ser, com maior propriedade, tratada como fenômeno social. Seu desenvolvimento, de maneira inteiramente saudável, requer práticas e crenças de origem cultural. Desta forma, o sucesso de uma liderança está intrinsecamente ligado à cultura organizacional. Cultura que deve motivar o trabalho em equipes e prepará-las para maximizar as ações de seus líderes, de maneira sistematizada.

Na primeira abordagem, a mais comum, o exercício da liderança pode ser anulado pela ação (reação) do grupo ou pela inexistência de um sistema capaz de oferecer o suporte necessário a atuação do líder. Acreditar na figura do líder como a de uma pessoa completa, especial, concorre para o surgimento de expectativas irreais.

A própria liderança, quando exercitada sob um enfoque tão personalíssimo, pode contribuir para desempenhos aquém do necessário. Pois ao disseminar, em uma dada equipe, a crença de que o líder é o detentor das qualidades únicas para a solução dos desafios, existe o risco de enfraquecimento do sistema de liderança. Pessoas facilmente deixam de se comprometer com resultados caso percebam que o sucesso ou o fracasso não se deverá ao sistema, do qual fazem parte, mas sim exclusivamente ao líder.

Outro transbordamento danoso da abordagem personalíssima, capaz de afetar o grupo e também os resultados de longo prazo, é que a crença em líderes salvadores facilita a ascensão de pessoas comprometidas apenas com seus interesses. A nossa história está repleta de "líderes" carismáticos, pessoas que se autoproclamaram salvadores, mas que, de fato, estavam apenas guiados pela própria vaidade, ganância ou amor ao poder.

O exercício de poder destas pessoas está distante de ser um exemplo de liderança genuína. Invariavelmente, não existe preocupação com o coletivo, compromisso de longo prazo, muito menos o desenvolvimento da cultura que fundamenta e perpetua um sistema de liderança forte. Em muitos casos, o exercício da liderança dissociado de abordagem sistêmica causa um grande esvaziamento na estrutura de saber da organização a cada troca de líder.

Por outro lado, a segunda abordagem, na qual liderança pode ser compreendida como um sistema, oferece diversas vantagens para todos os interesses envolvidos. Quando exercitada assim, os colaboradores conseguem perceber que são parte da solução, a liderança situacional é estimulada e o comprometimento com o sucesso decorre da natural identificação de cada um com a cultura organizacional. Uma cultura que assegura ao próprio sistema sua devida importância.

Nas organizações com sistema de liderança forte a permanente ampliação dos níveis de competência, decorrente da busca pela excelência, repercute em diversas camadas da própria organização e do meio em que ela atua. Desta maneira o sistema, fundamental para dar suporte ao líder, fica mais fortalecido à cada nova intervenção. Tal dinâmica de poder concorre para o desenvolvimento de um ambiente produtivo, além de seletivo o suficiente para expurgar comportamentos díspares. Sob tais condições, o líder dispõe dos instrumentos para compor cenários visando o desenvolvimento de planejamento estratégico de longo prazo. Mais do que apenas solucionar questões, impasses ou crises de momento, a liderança assim exercitada consegue atuar com proatividade. Liderar desta maneira é reunir as vantagens de uma abordagem global, dinamicamente contextualizada, com o elevado poder de reação obtido pela antecipação dos fatos advinda, espontaneamente, de cada integrante da equipe.

As vantagens de entender liderança da maneira como abordamos aqui são muitas. Observe que um sistema de liderança forte viabiliza uma atuação proativa, mais alinhada às expectativas dos stakeholders. Ao logo do tempo os colaboradores, mercado, Estado e demais setores da sociedade percebem estes diferenciais, atuando naturalmente para um movimento que, se bem administrado, fortalece os interesses da liderança e desenvolve uma nova dimensão para projeção de poder: uma espécie de soft power, ou seja o poder exercitado com sutileza, capaz de influenciar e obter resultados com mínimo impacto.

Organizações com líder e sistemas de liderança forte agregam ao seu capital os recursos oferecidos pelo exercício do soft power. Vivemos em um mundo no qual Estados, ONGs e empresas aprendem, todos os dias, novas formas de emprego desta dimensão de poder. Uma liderança forte também deve entende-la e conhecer as oportunidades decorrentes de seu exercício.

Trabalharemos, então, ao longo deste livro em consonância com uma abordagem sistêmica de liderança. Acreditamos que a existência do líder só se justifica quando espelha valores e práticas arraigadas em toda a equipe e não apenas em uma pessoa. Ao líder cabe a responsabilidade de decidir, compartilhar uma visão, assumir compromisso com o sucesso e, principalmente, emprestar identidade ao desenho do sistema de liderança da organização. Portanto, mesmo nos capítulos em que você, líder, for diretamente citado tenha em mente o aproveitamento daquele tema para a consolidação de um sistema de liderança forte.

O líder precisa ser também o facilitador, aquela pessoa que fará os profissionais de sua equipe brilharem. Ele motiva e desencadeia o interesse pelo desenvolvimento continuado em seus liderados. Um líder atua de maneira a despertar a percepção de cada pessoa para importância de seu comprometimento com o sistema no qual estão inseridos.

Também esperamos despertar algo mais em você! Esperamos despertar a consciência da importância que um determinado conjunto de habilidades, percepções e competências, tem para o desenvolvimento do perfil de um líder. Tratamos aqui de uma liderança sistêmica, diferenciada, capaz de interagir ou atuar em sinergia com qualquer outro sistema de liderança existente. Portanto, estar consciente da necessária manutenção deste sistema de liderança, como parte indissociável de sua ação e de seus liderados, é muito importante. Desta forma, quando a situação exigir, por maior que seja o desafio, haverá o suporte necessário para o desempenho da liderança forte. Uma liderança capaz de fazer toda diferença.