Pra você, de mim.

um

Era começo de verão, eu tinha acabado de entrar na faculdade de jornalismo, 18 de fevereiro, pra ser exata. Eu ainda me lembro. Na verdade, nunca consegui esquecer. Foi naquele verão que você chegou pra virar minha vida de ponta-cabeça.
Eu estava sentada em uma mesa da biblioteca do campus com Mariana, ela falava sobre o novo namorado enquanto eu tentava ler o manual do meu curso. Mariana cursava moda, era seu segundo semestre na faculdade, ela trajava um vestido verde-água florido, com saltos baixos bege, com certeza, não poderia vê-la cursando outra coisa. Já eu, nunca liguei muito pra essas coisas, você sabe, eu trajava um simples short jeans, uma regata estampada e tênis Vans azuis.
Tomava um café quando te vi entrar na biblioteca com sua roda de amigos, senti meu corpo se eletrizar, eu sabia quem você era, todos sabiam, Lucas, você era famoso no campus pela sua fama de galinha e eu sabia disso.- Júlia? Você tá me ouvindo? Eu tô anos falando sozinha aqui!- Mariana reclamou, eu realmente não estava ouvindo, você tirou toda a minha atenção.
- Claro que eu estou te ouvindo, Mari!- Menti, ela seguiu o meu olhar e olhou pra você. - Foi ele quem me tirou a tua atenção? Júlia, não perca seu tempo, Lucas Ramos pode ser um rosto bonito, mas não vale o que come. Você é linda, merece mais que isso. - Mariana disse calmamente, mas eu sabia que por dentro ela estava indignada.- O quê? Não, Mari, eu não estava olhando pra ele, estava olhando pro balcão.- Menti outra vez, eu não costumava mentir, mas desde que você chegou, as mentiras pra disfarçar meus olhares à você se tornaram mais frequentes, mas eu estava mentindo pra mim mesma.
E foi aí que meu olhar encontrou com o seu, e eu me arrepiei, acho até que todos notaram, você sorriu, deu um lindo sorriso aberto com suas covinhas, mas eu não sorri. Eu virei o rosto, Lucas, eu não queria sorrir pra você, eu não podia sorrir pra você, nós sabíamos disso.
Depois que você se sentou e voltou a não perceber a minha existência, eu voltei para o dormitório com Mari, estava exausta, tinha acabado se arrumar a mudança naquela manhã. - O que você acha de a gente pedir algo pra comer? Sou capaz de comer um leão de tanta fome! - Mari disse espalhada na cama. - Eu acho uma boa, que tal você pedir uma pizza e eu vou ao mercado comprar um refrigerante?!- A olhei.- Acho uma ótima, vou ligar.
Calcei uma sandália e fui ao mercado. Peguei um refrigerante e um sorvete, pois sabia que íamos terminar a noite no sofá, assistindo filme e tomando sorvete. Mas sempre fui desastrada, me embaralhei e deixei o sorvete cair, mas quando me abaixei, você já tinha juntado o pote e eu te olhei, naquele momento eu senti tanta vergonha, que era como se eu pudesse enxergar o quão vermelha estava. Você sorriu e me entregou. - Qual o seu nome? Eu sou o Lucas, acho que nunca te vi por aqui...- Eu peguei o pote e respirei fundo.- Sou Júlia, cheguei ontem, sou nova por aqui.- E então você me abraçou, você era alto e consideravelmente forte, eu era baixinha, então você praticamente me cobriu. Eu estava com as mãos ocupadas, não retribuí o abraço, sei só um sorriso sutil.- Bom, eu preciso ir, a gente se vê por aí, Lucas.- Não esperei sua resposta e fui em direção ao caixa, mas você me puxou. - A gente se vê, Júlia, foi um prazer te conhecer.- Eu sorri e segui meu caminho. "A gente se vê". Eu queria não estar ansiosa com a nossa afirmação, mas eu estava e nem sabia o porque.
Cheguei no dormitório, não consegui prestar atenção no filme, eu só pensava no garoto moreno, covinhas e cabelos pretos.

Eu não sabia, mas aquele dia era somente o primeiro em que você tomou conta dos meus pensamentos. O primeiro de muitos.

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