CAPÍTULO VIII

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O capítulo removido.

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Mr. Frank Churchill voltou finalmente. Se o pai atrasou o jantar para esperá-lo ninguém ficou sabendo em Hartfield, pois Mrs. Weston desejava que ele caísse nas graças de Mr. Woodhouse, e não mencionava nenhum defeito dele que pudesse ser escondido.
Ele voltou com o cabelo devidamente cortado, e riu de si mesmo com muita desenvoltura, não parecendo de fato envergonhado pelo que havia feito.
Não tinha motivos para manter o cabelo longo, nem para evitar alguma confusão, se houvesse; também não tinha razão nenhuma para economizar dinheiro, se isso melhorasse sua disposição. Estava tão destemido e animado como sempre, e quando o viu Emma deu uma lição de moral a si mesma:
“Não sei se é assim ou não, mas com certeza as coisas bobas deixam de ser bobas quando são feitas por pessoas sensíveis de forma destemida. A maldade é sempre maldade, mas a tolice nem sempre é tolice. Depende do caráter de quem a pratica. Mr. Knightley, ele não é um rapaz tolo e frívolo. Se fosse, teria feito isso de outra forma. Teria se vangloriado do fato, ou se mostraria envergonhado. Seria a ostentação de um vaidoso, ou a evasão de uma mente fraca demais para sustentar sua própria vaidade. Não, tenho certeza absoluta que ele não é bobo nem frívolo”.
Com a terça-feira chegou para Emma a agradável possibilidade de vê-lo novamente, e desta vez por um tempo mais longo que antes. Esperava poder julgar melhor suas maneiras de forma geral, e em especial as maneiras dele para com ela. Poderia também imaginar quanto tempo levaria para dissipar a frieza dele, e observar as reações das outras pessoas em relação aos dois, já que era a primeira vez que os veriam juntos.
Ela desejava divertir-se bastante, apesar do cenário não ser muito
bonito na casa de Mr. Cole. Também não era capaz de esquecer que, entre as falhas de Mr. Elton mesmo nos seus dias favoráveis, nada a incomodava mais do que sua propensão a jantar com os Coles.
O conforto de seu pai estava amplamente assegurado. Tanto Mrs. Bates, quanto Mrs. Goddard foram passar o serão com ele. A obrigação mais prazerosa
de Emma, antes de sair de casa, foi cumprimentá-las respeitosamente, enquanto
as duas damas sentavam-se juntas após o jantar. O pai, encantado, elogiava a beleza do seu vestido, enquanto Emma fazia todas as recomendações ao seu alcance, ajudando-as a servir-se de grandes pedaços de bolo e a encher os copos de vinho. Estas recusavam contra a vontade, pois precisavam cuidar-se depois do que haviam comido ao jantar. Emma providenciara um jantar completo, queria ter certeza de oferecer-lhes uma boa refeição.
Ao chegar à porta de Mr. Cole viu uma carruagem à sua frente, e ficou contente ao ver que se tratava da carruagem de Mr. Knightley. Uma vez que ele não possuía cavalos, gastava menos dinheiro, além de aumentar sua saúde, atividade e independência. Estava bastante apto, na opinião de Emma, a caminhar para onde quisesse, e não usava sua carruagem tanto quanto se esperaria do proprietário de Donwell Abbey. Ela tinha agora uma oportunidade de manifestar sua aprovação e seu carinho, pois ele estendera a mão para ajudá-la a descer.
– O senhor sempre deveria chegar assim, como um cavalheiro – disse ela. – Estou muito feliz em vê-lo.
Ele lhe agradeceu, observando:
– Que sorte chegarmos juntos! Pois se nos encontrássemos na sala de estar duvido que tivesse me considerado mais cavalheiro do que o normal. Não saberia, pela minha aparência ou modos, como vim para cá.
– Saberia sim, claro que saberia. Há sempre um ar de consciência ou de agitação quando uma pessoa chega de um jeito que todos sabem ser superior a eles. O senhor pensa que disfarça muito bem, mas ouso dizer que com o senhor se trata de um tipo de bravata, um ar de delicioso pouco caso que sempre observei quando o encontro nessas circunstâncias. Agora o senhor não tem mais o
que provar. Não teme que possam achar que se sente envergonhado. Não precisa
lutar para parecer maior do que os outros. Agora me sinto realmente contente de entrar com o senhor na mesma sala.
– Menina absurda! – foi a resposta dele, mas não estava zangado.
Emma tinha razão para estar tão satisfeita com os demais convidados como estava com Mr. Knightley. Foi recebida com um cordial respeito e todas as honras que poderia desejar, o que só podia agradá-la. Quando os Weston chegaram, os olhares mais cálidos, a mais forte admiração foram todos para ela, vindos tanto do marido quanto da esposa. O filho aproximou-se com entusiasmada alegria, o bastante para indicar que ela era a razão das suas atenções. Frank sentou-se ao seu lado durante o jantar, o que deve ter lhe custado algum esforço, como ela acreditava firmemente.
O grupo era bastante grande, pois incluía outra família – uma correta e irrepreensível família residente no campo, de quem os Coles tinham a honra de serem amigos – e a parte masculina da família de Mr. Cox, o advogado de Highbury.
As senhoras menos importantes iriam chegar para o serão, entre elas Miss Bates, Miss Fairfax e Miss Smith. Durante o jantar, porém, já havia convidados em número suficiente para evitar que qualquer assunto se tornasse geral. Enquanto falavam de política e de Mr. Elton, Emma pode dedicar sua total atenção ao agradável vizinho. O primeiro som mais distante que ela viu-se obrigada a ouvir foi o nome de Jane Fairfax. Mrs. Cole estava contando algo sobre ela que parecia muito interessante. Emma ouviu e achou que valia a pena prestar atenção, pois sua imaginação, parte mais querida do seu ser, recebia um divertido suprimento. Mrs. Cole dizia que fora visitar Miss Bates, e logo que entrou na sala ficou espantada de ver um piano – um instrumento muito elegante – não era um piano de cauda, mas do tipo quadrado e bastante grande. A essência da narrativa – o fim de toda conversa que começara com a surpresa, as perguntas, os parabéns da parte dela e a explicação de Miss Bates – era que o piano havia chegado da Broadwood’s no dia anterior. Fora um grande choque
para a tia e a sobrinha, algo totalmente inesperado. A princípio, segundo Miss Bates contara, a própria Jane ficara perdida, pensando em quem poderia tê-lo mandado, mas agora estavam perfeitamente satisfeitas em pensar que só poderia vir de um lugar – é claro que fora o coronel Campbell quem o enviara.
– Não há outra hipótese – acrescentou Mrs. Cole – e fiquei surpresa de que houvesse alguma dúvida a respeito. Mas parece que Jane recebeu uma carta deles recentemente, e não havia uma palavra sobre isso. Ela os conhece melhor do que eu, mas não acho que seu silêncio seja razão para que não mandassem o presente: talvez quisessem surpreendê-la.
Havia muitas pessoas dispostas a concordar com Mrs. Cole. Todos que comentaram o assunto disseram que devia ter sido mesmo enviado pelo coronel
Campbell, e ficaram igualmente felizes por ela ter recebido tal presente. Como havia várias pessoas falando sobre o assunto, Emma pode dar asas à imaginação,
enquanto ouvia Mrs. Cole.
– Confesso que não sei quando foi a última vez que ouvi uma notícia que me desse mais satisfação! Sempre lamentei que Jane não tivesse um piano... ela toca tão bem! Parece-me até vergonhoso, quando penso na quantidade de casas onde existem belos instrumentos totalmente desprezados. É um tapa de luvas, com toda certeza! E pensar que ontem mesmo eu estava dizendo a Mr. Cole o quanto fico envergonhada de olhar para o nosso novo piano de cauda, que está na sala de visitas, enquanto eu mesma não faço distinção de uma nota e outra, e as nossas meninas recém começaram a aprender, talvez nem venham a tocar. E a pobre Jane, que é mestra em matéria de música, não tem nada que se pareça com um piano, nem mesmo a mais velha e lamentável das espinetas[1] do mundo para se distrair. Eu estava dizendo isso a Mr. Cole ontem, e ele concordou
totalmente comigo; o fato é que meu marido adora tanto a música que não pode resistir à compra do piano, na esperança de que algum dos nossos bons vizinhos seja amável o suficiente para fazer melhor uso dele do que nós. E foi para isso mesmo que o compramos, do contrário ficaríamos envergonhados.
Temos esperança de que Miss Woodhouse seja persuadida a experimentá-lo esta noite.
Miss Woodhouse concordou da forma apropriada, e vendo que nada mais poderia ser extraído da comunicação de Mrs. Cole, voltou sua atenção para
Frank Churchill.
– Por que o senhor está sorrindo? – disse ela.
– Por nada. E a senhorita?
– Eu?... Suponho que seja pela satisfação de ver que o coronel
Campbell é tão rico e tão generoso... O presente é muito bonito.
– Muito, de fato.
– Eu me pergunto por que não fizeram isso antes.
– Talvez porque Miss Fairfax nunca tenha ficado ausente por tanto tempo antes.
– Ou porque ele não permite que ela use seu próprio piano... que agora deve estar na casa deles em Londres, sem ser tocado por ninguém.
– O piano deles é de cauda, ele deve achá-lo grande demais para a casa de Miss Bates.
– O senhor diz o que é apropriado, mas o seu semblante indica que seus pensamentos a respeito do assunto devem ser parecidos com os meus.
– Não saberia dizer. Prefiro acreditar que a senhorita está concedendo mais crédito à minha perspicácia do que eu mereço. Estou sorrindo porque a senhorita sorri, e pode ser que esteja suspeitando do que a senhorita suspeita; mas no momento não vejo nada para questionar. Se o presente não é do coronel, de quem poderia ser?
– O que acha de Mrs. Dixon?
– Mrs. Dixon, de fato. Não havia pensado em Mrs. Dixon. Ela deve
saber, assim como o pai, o quanto esse piano seria apreciado. E talvez a maneira
como foi presenteado, a surpresa, o mistério, seja mais própria de uma mulher
jovem do que de um homem mais velho. Com certeza deve ser de Mrs. Dixon.
Eu lhe disse que a sua suspeita iria guiar a minha.
– Se assim for, o senhor deve estender as suas suspeitas de modo a incluir Mr. Dixon.
– Mr. Dixon. É claro... Bem, estou percebendo que deve ter sido
um presente conjunto de Mr. e Mrs. Dixon. Estávamos falando no outro dia, acho que a senhorita se lembra, do quanto Mr. Dixon admira as execuções musicais de Miss Fairfax.
– Sim, e o que o senhor me contou a respeito veio confirmar uma ideia que já tinha me ocorrido... Não pretendo duvidar das boas intenções, nem de Mr.Dixon nem de Miss Fairfax, mas não consigo deixar de pensar que ele pode ter tido a infelicidade de se apaixonar por ela, após ter pedido a amiga em casamento. Ou talvez tenha percebido certo sentimento da parte de Miss Fairfax.
Podemos pensar em mil coisas, sem saber o que houve de fato. Mas imagino que tenha sido uma decisão difícil para ela vir a Highbury, ao invés de ir para a Irlanda com os Campbells. Aqui ela vai viver uma vida de pena e privação, lá tudo seria alegria. Quanto ao motivo de sua vinda, para recuperar-se com o ar de
sua terra natal, acho que foi uma mera desculpa. No verão até seria aceitável, mas que bem o ar desta terra natal poderia fazer nos meses de inverno? Boas lareiras e carruagens fechadas podem fazer muito mais pela maioria das pessoas que tem saúde delicada, especialmente no caso dela, devo dizer. Não acho necessário que o senhor compartilhe de todas as minhas suspeitas, apesar de ter feito a nobre promessa de segui-las, mas lhe contei honestamente o que sinto.
– Dou-lhe minha palavra que suas suspeitas tem grande probabilidade de se revelarem verdadeiras. A preferência de Mr. Dixon pela música de Miss.Fairfax, ao invés de preferir a da noiva, acho que é muito sugestivo.
– Além disso, ele salvou a vida dela. Ouviu falar disso? – Era uma festa num barco, ao que parece, e por um acidente qualquer ela estava quase caindo na água quando ele a salvou.
– Ele salvou, sim. Eu estava lá, fazia parte do grupo.
– Estava realmente? Bem!... Então não deve ter visto muita coisa, pois essa ideia parece ser nova para o senhor... Se eu estivesse lá tenho certeza de que teria feito algumas descobertas.
– Imagino que faria, sim. Mas eu, simplesmente, não vi nada além do fato: que Miss Fairfax estava a ponto de ser arremessada do barco quando Mr.Dixon segurou-a... Foi coisa de um momento. E apesar de que o consequente choque e alarme foram muito grandes e duraram bem mais tempo... na verdade acho que se passou meia hora antes que qualquer um de nós se sentisse tranquilo outra vez... bem, ainda assim a sensação de alarma foi tão geral que não deu para observar nada de peculiar. Não quero dizer, no entanto, que a senhorita não teria feito descobertas.
Neste ponto a conversação foi interrompida. Os dois tiveram
que participar daquele estranho intervalo que acontece entre dois
pratos, e obrigados a agir de modo tão formal e ordeiro quanto os outros. Mas quando a mesa foi novamente coberta com a toalha, cada travessa disposta na forma correta, e todos voltaram a se ocupar com a comida, Emma disse:
– A chegada desse piano foi decisiva, no meu entender. Eu pretendia saber um pouco mais, e esse fato veio dizer-me quase tudo. Pode contar que logo vamos ouvir que foi um presente de Mr. e Mrs. Dixon.
– E se os Dixons negarem saber qualquer coisa sobre o assunto
devemos concluir que veio dos Campbells.
– Não, tenho certeza que não foi mandado pelos Campbells. Miss
Fairfax sabe disso, senão ela teria adivinhado logo. É evidente que não ficaria confusa se tivesse pensado neles. Posso não ter conseguido convencê-lo, mas eu mesma estou perfeitamente convencida que Mr. Dixon é o personagem principal nessa história.
– A senhorita na verdade me ofende, ao supor que não estou
convencido. Suas razões levaram meu julgamento consigo inteiramente. A princípio, quando imaginei que estivesse satisfeita em considerar o coronel Campbell como o responsável pelo presente, eu o vi apenas como bondade paternal, e achei a coisa mais natural do mundo. Mas quando mencionou Mrs.Dixon achei muito mais provável que fosse o tributo de uma amizade feminina. E agora só posso considerar o presente à luz de uma oferenda de amor.
Não houve mais oportunidade para que continuassem a discutir o assunto. Ele parecia estar convencido, pelo menos tinha o ar de quem acreditava nisso. Ela não disse mais nada e passaram a tratar de outros assuntos.
O resto do jantar transcorreu normalmente, a sobremesa foi servida, as crianças vieram à sala e foram objeto de comentários e admiração no meio da conversação geral.
Foram ditas algumas poucas coisas inteligentes, outras completamente tolas, mas a maior parte da conversa não se constituía nem de uma coisa nem de outra, nada pior do que os comentários comuns, repetições aborrecidas, velhas novidades e anedotas pesadas.
As senhoras não se encontravam há muito tempo na sala de estar,
quando as outras damas chegaram, cada uma com seu grupo. Emma observou a
entrada da sua querida amiguinha e, se não exultou com sua dignidade e graça, não pode deixar de admirar sua meiguice juvenil e modos ingênuos, assim como pode regozijar-se do fundo do coração com a luminosidade, a alegria e o temperamento sereno de Harriet, que lhe permitiam ter algum alívio em meio aos sofrimentos de uma decepção amorosa. Ali estava ela sentada... e quem poderia adivinhar quantas lágrimas havia derramado ultimamente? Para a felicidade de Harriet naquele momento bastava estar na companhia de amigos, muito bem vestida e vendo outras pessoas elegantes também, sentar-se, sorrir, parecer bonita e não dizer nada. Jane Fairfax olhava e andava de modo superior, mas Emma imaginava que ela ficaria contente de trocar confidências com Harriet, muito feliz de ter se permitido a mortificação de haver amado
– sim, ela também amara Mr. Elton em vão – para submeter-se ao perigoso prazer de saber-se amada pelo marido da amiga.
Em uma festa com tantas pessoas não havia necessidade de Emma
aproximar-se de Jane Fairfax. Ela não desejava falar do piano, imaginava saber demais sobre o segredo para achar justo manter uma aparência de curiosidade ou interesse, por isso guardou distância da jovem. As demais pessoas, no entanto, entraram quase imediatamente no assunto, e ela viu o rubor da consciência pesada com que ela recebia as congratulações, e o rubor da culpa que acompanhava o nome do “meu excelente amigo coronel Campbell”.
Mrs. Weston, bondosa e amante da música, estava particularmente interessada pela circunstância, e Emma não ajudava, mostrando-se divertida com sua insistência no assunto. Ela tinha tanto a perguntar e a dizer sobre coisas como o tom do piano, o toque e os pedais, que nem sequer suspeitava do desejo de falar o menos possível sobre isso, desejo que Emma leu claramente no semblante da bela heroína da festa.
Logo alguns dos cavalheiros juntaram-se a elas, e o primeiro de todos era Frank Churchill. Era o cavalheiro mais importante e o mais bonito, e depois de cumprimentar de passagem Miss Bates e a sobrinha, dirigiu-se ao extremo oposto do círculo, onde estava Miss Woodhouse. Não se sentou enquanto não pudesse arranjar um lugar ao lado dela, e Emma adivinhava o que todos os presentes estavam pensando. Ela era o alvo das atenções dele, e todos podiam perceber isso. Emma o apresentou à sua amiga Miss Smith, e mais adiante, no
momento oportuno, ouviu o que cada um pensava do outro. “Ele nunca havia visto um rosto tão adorável, e estava encantado com sua ingenuidade”. E ela “com certeza ele lhe fazia um grande cumprimento, mas achava que ele tinha uma expressão um pouco parecida com Mr. Elton”. Emma conteve a indignação e apenas voltou-se para ela em silêncio.
Emma e o cavalheiro trocaram sorrisos de cumplicidade, quando pela primeira vez dirigiram o olhar para Miss Fairfax, mas era mais prudente evitar comentários. Ele contou-lhe que estivera impaciente para deixar a sala de jantar, detestava ficar sentado muito tempo, sempre era o primeiro a levantar-se assim que fosse permitido fazê-lo. O pai dele, Mr. Knightley, Mr. Cox e Mr. Cole permaneceram sentados, bastante ocupados em discutir assuntos da paróquia e,
enquanto ele esteve ali tivera muito prazer com a conversa,
considerava a todosverdadeiros cavalheiros e homens muito sensíveis.
Falou de forma tão bonita
sobre Highbury em geral – achava que tinha tantas famílias agradáveis – que Emma começou a sentir que talvez o desprezo que ela costumava ter pelo lugar
fosse excessivo. Emma perguntou-lhe sobre a sociedade em Yorkshire – a extensão e o tipo de vizinhança que tinham em Enscombe, e pôde descobrir pelas suas respostas que, no que dizia respeito à Enscombe havia pouco movimento.
Seus visitantes pertenciam a algumas poucas e destacadas famílias, nenhuma residindo muito perto. E mesmo quando marcavam a data e os convites eram aceitos, Mrs. Churchill nem sempre estava com saúde ou disposição para ir. Os Churchills haviam decidido não visitar nenhuma pessoa recém conhecida, e isso oferecia algumas dificuldades, apesar dele ter suas próprias amizades; precisava de muita habilidade para poder sair algumas vezes, ou apresentar algum amigo que viesse visitá-lo.
Emma percebeu que Enscombe não podia satisfazê-lo e que Highbury, no que tinha de melhor, podia agradar de forma razoável um jovem cavalheiro que era retido em casa mais do que gostaria. A importância dele em Enscombe era bastante evidente. Frank Churchill não se vangloriava, mas traiu-se naturalmente ao dizer que podia persuadir a tia quando o próprio Mr. Churchill nada conseguia. Diante do riso de Emma ao saber disso, afirmou acreditar que (exceto em um ou dois pontos) ele poderia, com o tempo, persuadi-la de qualquer coisa. Mencionou então um dos pontos em que sua influência falhara. Desejava muito viajar para o exterior – tinha insistido muito, de fato, que lhe fosse permitido viajar – mas a tia não queria ouvir falar no assunto. Isso acontecera no ano anterior. Agora, dizia ele, seu desejo não era mais tão intenso.
Não mencionou qual era o outro ponto em que não conseguira
persuadi-la, e Emma adivinhou tratar-se do pai dele.
– Fiz uma triste descoberta – disse ele, após uma curta pausa. –
Amanhã vai fazer uma semana que estou em Highbury – a metade do tempo que disponho. Nunca pensei que os dias passassem tão depressa. Uma semana, amanhã! E eu mal comecei a me divertir, recém comecei a ficar amigo de Mrs.Weston e das outras pessoas! Detesto me lembrar disso.
– Talvez agora o senhor comece a lamentar por ter perdido um dia
inteiro apenas para cortar o cabelo, já que dispõe de poucos dias.
– Não – disse ele, sorrindo.
– Não me arrependo disso, absolutamente.
Não tenho prazer em ver meus amigos se não me sentir em condições de ser visto.
Os demais cavalheiros chegavam agora à sala, e Emma foi obrigada a desviar sua atenção por alguns minutos e dedicá-la a Mr. Cole. Quando Mr.Cole afastou-se e Emma voltou-se para ele, viu Frank Churchill olhando intensamente para Miss Fairfax, que estava sentada do outro lado da sala, exatamente em frente a eles.
– Qual é o problema? – ela disse.
Ele teve um sobressalto:
– Obrigada por me despertar – ele respondeu. – Acho que fui muito rude. Mas estava observando que Miss Fairfax arrumou seu cabelo de um jeito tão esquisito – muito esquisito mesmo – que não pude deixar de olhá-la. Nunca vi nada mais antiquado!... E aqueles cachos!... Deve ter sido ideia dela. Não vi nenhuma outra jovem com um penteado parecido! Acho que vou perguntar-lhe se isso é moda na Irlanda, acha que devo?... Sim, eu vou... Afirmo que vou... e a senhorita poderá observar como ela reage, se vai ficar ruborizada.
Ele foi imediatamente e Emma logo o viu de pé junto a Miss Fairfax, falando com ela; no entanto, Emma não pode ver nada da reação da jovem, pois ele postou-se entre as duas.
Antes que ele pudesse retornar ao seu lugar, Mrs. Weston sentou-se na cadeira ao lado de Emma.
– Este é o luxo de uma grande festa – disse ela – podemos nos sentar perto de qualquer pessoa e dizer o que quisermos. Minha querida Emma, há algum tempo que venho querendo falar-lhe. Fiz algumas descobertas e elaborei alguns planos, como você sempre faz, e quero lhe contar enquanto as ideias ainda estão frescas na memória. Você sabe como Miss Bates e a sobrinha vieram para cá?
– Como? Elas foram convidadas, não foram?
– Oh, sim. Mas como foram transportadas até aqui?... De que modo vieram?
– Caminhando, eu imagino. De que outro modo viriam?
– É verdade. Bem, há pouco me ocorreu como seria triste se Jane
Fairfax tivesse que voltar andando para casa, tarde da noite, e com o frio que está fazendo. E quando olhei para ela, apesar de nunca tê-la visto melhor, me ocorreu que ela está tão bem porque está aquecida, por isso mesmo estaria mais exposta a pegar um resfriado. Pobre menina! Não posso suportar essa ideia e, assim que Mr. Weston voltou à sala, aproximei-me dele e lhe falei sobre a carruagem. Ele
prontamente concordou, como pode adivinhar, e contando com sua aprovação fui direto a Miss Bates avisá-la que a carruagem estaria à disposição delas antes de nos levar para casa. Achei que assim ela se sentiria mais confortável. Que boa alma! Ela ficou tão agradecida, pode ter certeza!
Agradeceu muito, muito
mesmo e disse que “ninguém era tão afortunada como ela, mas não havia razão para nos incomodar, pois a carruagem de Mr. Knightley fora buscá-las e estava à disposição para levá-las para casa”. Fiquei totalmente surpresa – bastante feliz, com certeza, mas muito surpresa. Que atenção da parte dele... E tão conveniente! O tipo de coisa em que poucos homens teriam pensado. E, em suma, por conhecê-lo tão bem, acho que foi só por causa delas que ele usou a carruagem esta noite. Suspeito que não teria mandado atrelar um par de cavalos só para ele, era apenas uma desculpa para servi-las.
– Muito provável – disse Emma – nada mais provável. Não conheço nenhum outro homem, além de Mr. Knightley, capaz de tomar semelhante atitude. É algo tão bondoso e útil, um ato de consideração e benevolência. Ele não é um homem galante, mas é muito humano. E essa situação, considerando a saúde delicada de Jane Fairfax, deve ter-lhe parecido um caso de humanidade.
Só posso pensar em Mr.Knightley para agir de forma tão bondosa sem ostentação. Vi que ele chegou de carruagem, pois chegamos juntos, e eu ri dele por causa disso, mas não falou uma palavra que pudesse trai-lo.
– Bem – disse Mrs. Weston, sorrindo – você lhe dá mais crédito por esse ato de bondade, simples e desinteressado, do que eu. Pois enquanto Miss Bates estava falando, passou-me uma suspeita pela mente, e não fui mais capaz de me livrar dela. Quanto mais penso nisso, mais provável me parece. Em resumo: imaginei um casamento entre Mr. Knightley e Jane Fairfax. Viu o que me acontece por estar sempre em sua companhia? O que pensa disso?
– Mr. Knightley e Jane Fairfax! – exclamou Emma. – Minha querida Mrs. Weston, como pode pensar em uma coisa dessas?... Mr. Knightley !... Mr.Knightley não pode se casar!!... A senhora gostaria de ver o pequeno Henry impedido de herdar Donwell?... Oh, não! De jeito nenhum! Henry tem que ser o dono de Donwell. Não posso aceitar de modo algum que Mr. Knightley se case, e tenho certeza que isso não vai acontecer. Estou espantada que a senhora tenha pensado em uma coisa dessas.
– Emma, minha querida, apenas lhe disse o que me levou a pensar
nisso. Não que eu queira o casamento... não tenho a menor intenção de ofender o pequeno Henry, mas a ideia me veio em vista das circunstâncias. E se Mr.Knightley realmente quiser se casar, Emma, você não pode esperar que ele deixe de fazê-lo por causa de Henry, um garoto de seis anos que nada sabe do assunto.
– Posso, sim. Não suporto a ideia de ver Henry prejudicado... Mr.
Knightley casar-se!!... Não, jamais essa ideia me passou pela cabeça,
e não vou aceitá-la agora. E logo com Jane Fairfax, entre tantas
mulheres!
– Não sei por quê... Ela sempre foi a preferida dele, você sabe disso muito bem.
– Mas seria um casamento muito imprudente!
– Não estou falando de imprudência, apenas considero a probabilidade.
– Não vejo nenhuma probabilidade, há menos que a senhora tenha razões melhores do que essas que apresentou. Ele pode ter cedido a carruagem apenas por sua boa natureza e humanidade, como eu lhe disse. Mr. Knightley tem muita estima pelas Bates, a senhora sabe, independente de Jane Fairfax... e está sempre pronto a ser atencioso com elas. Minha querida amiga, não tente fazer casamentos, pois faz isso muito mal. Jane Fairfax senhora de Donwell Abbey !... Oh, não, não! Fico revoltada só de pensar em tal coisa! Pelo próprio bem dele, espero que não cometa uma loucura dessas.
– Imprudente até pode ser... mas não é nenhuma loucura. A não ser pela desigualdade de fortuna e talvez uma pequena diferença de idade, não vejo nada inconveniente.
– Mas Mr. Knightley não deseja se casar. Tenho certeza que nem
sequer pensa nisso. Não ponha essa ideia na cabeça dele. Por que ele se casaria?... Está muito feliz consigo mesmo: tem sua fazenda, seus carneiros, sua biblioteca e toda a paróquia para administrar. Além disso, ele adora os filhos do irmão. Mr. Knightley não tem motivos para se casar, seja para preencher seu tempo ou seu coração.
– Minha querida Emma, enquanto ele pensar desse modo, que assim seja. Mas se ele realmente amar Jane Fairfax...
– Que tolice! Ele não se importa com Jane Fairfax. Não no sentido de amor, tenho certeza. Ele faria qualquer coisa de bom para ela ou sua família, mas...
– Bem – disse Mrs. Weston, sorrindo – talvez a melhor coisa que ele possa fazer por elas seja dar a Jane um lar respeitável.
– Se isso for bom para ela, tenho certeza que seria o pior para ele; um casamento muito vergonhoso e degradante. Como Mr. Knightley suportaria ter Miss Bates morando com ele?... Vê-la assombrando Donwell Abbey e lhe agradecendo o dia inteiro por sua grande bondade em casar-se com Jane?... “Tão amável e atencioso!... Mas ele sempre foi o melhor dos vizinhos”. E então mudar de assunto de repente, no meio de uma frase, para a saia velha da mãe. “Não que seja uma saia assim tão velha, ainda deve durar um bom tempo... e, na verdade, tinha que agradecer por suas saias serem todas muito duráveis”.
– Que vergonha, Emma. Não a imite! Você me faz rir, mesmo contra a minha consciência. E posso assegurar que Mr. Knightley não ficaria muito perturbado com a presença de Miss Bates. As pequenas coisas não o irritam. Ela poderia falar sem parar, e se ele quisesse dizer alguma coisa bastaria apenas falar mais alto, e a voz dela sumiria. Mas a questão não é se essa ligação seria ruim para ele, mas se ele a deseja. Eu sempre ouvi Mr. Knightley falar muito bem de Jane Fairfax, e você também ouviu. O interesse que tem por ela, a ansiedade que demonstra pela sua saúde, a preocupação de que Jane não tenha boas perspectivas na vida! Sempre o ouvi falar com tanto ardor a respeito dessas coisas. Além disso, ele admira tanto a execução dela ao piano e a sua voz! Eu o ouvi falar que poderia escutá-la para sempre. Ah, ia me esquecendo de outra ideia que me ocorreu: esse piano, que foi mandado por alguém... Apesar de ficarmos todos contentes em pensar que foi um presente dos Campbells, não poderia ter vindo da parte de Mr. Knightley ? Não posso evitar essa suspeita. Acho que ele é o tipo de pessoa que faria isso, mesmo sem estar apaixonado.
– Então não existe argumento algum para provar que ele está
apaixonado. Mas não acredito que ele tenha feito isso. Mr. Knightley não faz nada escondido.
– Eu o ouvi lamentar que ela não tivesse um piano para tocar
diariamente. E falou tantas vezes que eu pensei que, no curso natural das coisas, tal ideia pudesse ter lhe ocorrido.
– Muito bem. Mas se ele pretendesse dar-lhe um piano, teria contado a ela.
– Poderia haver escrúpulos de delicadeza, minha querida Emma. Tenho quase certeza que foi ele quem mandou. Pelo menos ficou particularmente silencioso quando Mrs. Cole contou-nos durante o jantar.
– Quando a senhora tem uma ideia, Mrs. Weston, segue em frente com ela, como tantas vezes me reprovou por fazê-lo. Não vejo sinal nenhum de afeição, não creio na história do piano, e as provas só me convencem de que Mr.Knightley não tem a menor intenção de se casar com Jane Fairfax.
Elas discutiram o assunto ainda por algum tempo, da mesma maneira; Emma parecia ganhar um pouco de terreno sobre a mente da amiga, pois, entre as duas, era Mrs. Weston quem estava mais acostumada a ceder. Uma pequena agitação na outra sala indicou-lhes que o chá fora servido, e que o piano estava sendo preparado. No mesmo momento Mr. Cole aproximou-se para pedir a Emma que lhes desse a honra de ouví-la tocar. Mr. Frank Churchill, a quem no calor da discussão com Mrs. Weston ela não vira mais, e apenas notara que ele encontrara um lugar ao lado de Miss Fairfax, seguiu Mr. Cole para juntar suas súplicas às dele. E como Emma gostava mais de liderar, em qualquer coisa que fosse, concordou amavelmente.
Ela conhecia bem demais suas próprias limitações, o suficiente para não tentar ir além das músicas que conseguisse executar com perfeição. Não lhe faltava gosto nem disposição para as pequenas coisas que eram agradáveis a todos, e pôde acompanhar com sucesso sua própria voz. Emma teve uma surpresa ao ouvir outro acompanhamento para sua música – uma segunda voz foi
feita com suavidade e correção por Mr. Frank Churchill. Ao fim da execução ele pediu-lhe perdão, educadamente, e seguiram-se as manifestações usuais. Todos o cumprimentaram por ter uma bela voz e perfeito conhecimento de música. O cavalheiro negou apropriadamente, dizendo não conhecer nada de música e não
possuir uma boa voz, em hipótese alguma. Cantaram juntos mais uma vez, e Emma então podia ceder o lugar para Miss Fairfax, cuja execução, tanto vocal quanto instrumental, era infinitamente superior à dela, o que Emma não podia esconder nem de si mesma.
Com sentimentos contraditórios, ela sentou-se um pouco distante das pessoas que rodeavam o piano para ouvir melhor. Frank Churchill cantou novamente, parece que já haviam cantado juntos uma ou duas vezes antes, em Weymouth. A visão de Mr. Knightley, entre os ouvintes mais atentos, logo prendeu metade da atenção de Emma. Ela viu-se a pensar sobre as suspeitas de Mrs. Weston, e o suave som das belas vozes unidas apenas propiciava interrupções momentâneas. Suas objeções ao casamento de Mr. Knightley não se sustentavam mais, mas ela só podia ver mal nisso. Seria um grande desapontamento para Mr. John Knightley, e logo para Isabella. Uma verdadeira afronta às crianças... uma mudança atroz e uma grande perda para todas. Seria um motivo de desconforto diário para seu pai, e quanto a ela, não podia de jeito nenhum suportar a ideia de Jane Fairfax em Donwell Abbey. Uma Mrs.Knightley para se sobrepor a todos eles! Não... Mr. Knightley nunca deveria se casar. O pequeno Henry deveria continuar sendo o herdeiro de Donwell.
Naquele momento Mr. Knightley olhou para trás, viu-a e veio sentar-se ao seu lado. Falaram primeiro apenas da música de Miss Fairfax, e a admiração dele era certamente muito calorosa, mas ela pensou que, se não fosse por Mrs.Weston, isso não a teria impressionado. Como pedra de toque, Emma começou a falar da sua bondade em oferecer transporte para Miss Bates e a sobrinha. Achou que as respostas dele eram curtas o suficiente para acabar com o assunto, mas acreditava que isso era apenas falta de vontade de falar de sua própria bondade.
– Eu sempre lamentei – disse ela – que nossa carruagem não seja
maisútil em tais ocasiões. Não é que me falte vontade, mas sabe como papai iria considerar impensável que James fosse ocupado para tais propósitos.
– Isso está fora de questão, totalmente fora de questão – ele respondeu – mas você deve ter sentido assim, tenho certeza.
Ele então sorriu com tão aparente prazer ao dizer isso que Emma resolveu avançar mais um passo.
– Esse presente dos Campbells – ela disse – foi muita bondade deles mandarem o piano.
– Sim – respondeu ele, sem demonstrar sinais aparentes de embaraço.
– Mas acho que teriam feito melhor se a avisassem do presente. Surpresas são coisas muito tolas. O prazer de quem recebe não é maior, e a inconveniência muitas vezes é considerável. Eu esperava melhor julgamento da parte do coronel Campbell.
A partir desse momento Emma poderia jurar que Mr. Knightley não havia presenteado o piano. Mas ainda lhe restavam dúvidas sobre os sentimentos dele, se realmente estava livre de algum apego por Jane Fairfax, se não tinha uma preferência por ela. Ao final da segunda música, a voz de Jane tornou-se rouca.
– Aí está – disse ele, pensando alto, enquanto Jane terminava de cantar.
– Você já cantou o bastante por uma noite, agora pode calar-se.
Logo pediram uma nova canção. “Só mais uma canção... isso não
cansaria Miss Fairfax de modo algum, só o que pediam era mais uma”. Ouviram então a voz de Frank Churchill dizendo “Acho que a senhorita vai conseguir sem nenhum esforço, a primeira voz é muito fraca. A força do som fica com a segunda voz”.
Mr. Knightley ficou furioso.
– Esse janota – disse ele, indignado – não pensa em outra coisa além de exibir a própria voz. Isso não pode continuar.
E interpelou Miss Bates, que nesse momento passava perto dele.
– Miss Bates, a senhora está louca em permitir que sua sobrinha cante rouca dessa maneira? Vá lá e interfira. Eles não têm piedade dela.
Miss Bates, na sua ansiedade pela saúde de Jane, mal teve tempo para agradecer antes de entrar no salão e acabar com qualquer ideia de cantoria.
Assim terminou a parte da noite dedicada aos concertos, pois Miss Fairfax e Miss Woodhouse eram as únicas jovens damas que tocavam e cantavam. Mas, logo depois (cerca de cinco minutos) a proposta de dançar, surgida não se sabia bem de onde, foi tão bem divulgada por Mr. e Mrs. Cole, que logo abriram o espaço apropriado para o baile. Mrs. Weston, mestra em danças campestres, sentou-se e começou uma irresistível valsa. Mr. Frank Churchill, dirigindo-se a Emma com imensa galanteria, tomou-a pela mão e levou-a ao centro do salão.
Enquanto esperava que os outros jovens formassem seus pares, e
apesar dos cumprimentos que recebia pela sua voz e seu bom gosto, Emma achou tempo para olhar ao redor e ver o que era feito de Mr. Knightley. Isso seria uma prova cabal. Ele não gostava de dançar, mas se fizesse um esforço para dançar com Jane Fairfax agora, poderia significar alguma coisa importante. Não conseguiu vê-lo logo. Não, ele estava conversando com Mrs. Cole e olhava distraído. Jane foi convidada por algum outro cavalheiro e ele continuava conversando com Mrs. Cole.
Emma deixou de se alarmar por causa de Henry : os interesses dele estavam salvos, por enquanto. E ela liderou a dança com verdadeira alegria e prazer. Não havia mais de cinco pares, mas a raridade de dançarinos e a espontaneidade da dança tornavam-no delicioso, e Emma descobriu que tinha um par excelente. Formavam um casal que valia a pena admirar.
Infelizmente, duas danças era o máximo que lhes permitiram. Estava ficando tarde, e Miss Bates ficou ansiosa para voltar para casa, preocupada com sua mãe. Após algumas tentativas de continuar dançando, foram obrigados a
agradecer a Mrs. Weston e, com tristeza, terminar com o baile.
– Talvez seja melhor – disse Frank Churchill ao levar Emma até a carruagem dela – Eu teria que convidar Miss Fairfax, mas o jeito lânguido que ela tem de dançar não ia combinar comigo, após dançar com a senhorita.

[1] Antigo instrumento de cordas de percussão e teclado, semelhante ao cravo.

Emma - Jane AustenOnde histórias criam vida. Descubra agora