CAPÍTULO II

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Nenhum infortúnio aconteceu dessa vez para impedir o baile.
O dia se aproximou e finalmente chegou. E depois de uma manhã de ansiosa espera, Frank Churchill, com toda a confiança que tinha em si mesmo, chegou a Randalls antes do jantar, e tudo ficou em ordem.
Não houvera ainda um segundo encontro entre ele e Emma. O salão do Crown deveria ser o palco desse evento – mas seria melhor que um encontro comum no meio da multidão. Mr. Weston pedira com muita insistência que ela chegasse tão cedo quanto possível, logo depois deles, para poder dar sua opinião sobre o conforto e a adequação das salas antes da chegada dos demais convidados. Emma não pôde recusar e pretendia passar algum tempo na companhia do jovem cavalheiro. Foi buscar Harriet, e ambas chegaram ao Crown na hora combinada, logo depois da família de Randalls.
Frank Churchill parecia estar à espera, e embora não dissesse muita coisa, seus olhos mostravam que esperava ter uma noite maravilhosa.
Percorreram as salas todos juntos, para ver se tudo estava como devia. Dentro de alguns minutos se juntaram a eles os ocupantes de outra carruagem. Emma ficou surpresa, pois não ouvira o barulho. Estava a ponto de exclamar “Vieram tão cedo!” quando se deu conta de que era uma família de velhos amigos que viera mais cedo atendendo ao pedido especial de Mr. Weston para opinar. E à carruagem deles seguiu-se outra, de primos, que também fora convidada a vir mais cedo distinguida com a mesma tarefa. Parecia que metade dos convidados estava chegando antes com o propósito de fazer uma inspeção preparatória.
Emma percebeu que o seu gosto não era o único com o qual Mr. Weston contava, e sentiu que ser a favorita e amiga intima de um homem que tinha tantos favoritos e amigos íntimos não era a maior distinção na escala das vaidades. Gostava de suas maneiras francas, mas um pouco menos de franqueza teria tornado seu caráter melhor. Benevolência geral, mas não amizade geral, era o que fazia de um homem o que ele devia ser. Ela podia imaginar esse tipo de homem. O grupo inteiro caminhou pelos salões, olhando e elogiando de novo. E então, como não tinham mais o que fazer, formaram um semicírculo em volta da lareira, fazendo observações sobre diversos assuntos. Mesmo sendo maio, uma lareira à noite ainda era muito agradável.
Emma descobriu que não era por culpa de Mr. Weston que o grupo de conselheiros privados não era ainda maior. Pararam à porta de Mrs. Bates para oferecer a carruagem, mas a tia e a sobrinha deviam vir com os Eltons.
Frank estava de pé junto dela, mas não parava quieto. Havia uma agitação nele que revelava uma mente inquieta. Olhava para os lados, ia até a porta, parava para ouvir o barulho de alguma carruagem, impaciente para que começasse o baile ou temeroso de ficar muito próximo dela.
Falaram de Mrs. Elton.
– Acho que ela chegará logo – ele disse. – Tenho grande curiosidade de conhecê-la, ouvi tantas coisas a respeito dela. Não deve demorar a chegar, eu acho.
Ouviu-se uma carruagem. Ele se moveu imediatamente, mas logo
voltou dizendo:
– Me esqueci que não a conheço. Nunca vi nem ela nem Mr. Elton. Não tenho motivos para ser o primeiro a cumprimentá-los.
Mr. e Mrs. Elton apareceram nesse momento, e seguiram-se todos os
sorrisos e cumprimentos de praxe.
– Mas não vejo Miss Bates e Miss Fairfax – disse Mr. Weston. – Achei que iriam trazê-las.
O engano não fora grave. A carruagem foi enviada então para buscá-las. Emma desejava saber qual seria a opinião de Frank sobre Mrs. Elton, o quanto ele seria afetado pela estudada elegância de seu vestido e seus sorrisos graciosos. Ele estava justamente formando uma opinião, dando-lhe a necessária atenção logo após terem sido apresentados.
Poucos minutos depois a carruagem voltou. Alguém falou em chuva.
– Vou ver se encontro algum guarda-chuva, senhor – disse ele ao pai. – Não devemos esquecer de Miss Bates.
O rapaz saiu e Mr. Weston se preparava para segui-lo quando foi detido por Mrs. Elton, que pretendia gratificá-lo com sua opinião sobre o filho. E começou a falar tão depressa que o jovem cavalheiro, apesar de não andar devagar, não pôde deixar de ouvir o que ela dizia ao pai.
– Um rapaz muito elegante, de fato, Mr. Weston. O senhor se lembra
que eu lhe disse que possuo minha própria opinião. E devo dizer que ele me agradou extremamente. Pode acreditar, eu nunca elogio ninguém sem motivo. É um jovem muito bonito, e seus modos são exatamente do tipo que eu gosto e aprovo. Um verdadeiro cavalheiro, sem a menor arrogância ou afetação. O senhor sabe que eu detesto gente afetada, tenho horror deles. Nunca foram tolerados em Maple Grove. Nem eu nem Mr. Suckling temos paciência com eles, e costumamos dizer coisas muito duras! Selina, que é meiga até não poder mais, lida com eles muito melhor.
Enquanto ela falava de seu filho a atenção de Mr. Weston estava
garantida, mas quando começou com Maple Grove ele se lembrou que havia senhoras chegando a quem devia receber, e com muitos sorrisos tratou de afastar-se correndo. Mrs. Elton então se voltou para Mrs. Weston.
– Não tenho dúvida que é a nossa carruagem que chegou trazendo Miss Bates e Jane. Nosso cocheiro e cavalos são tão rápidos! Acho que somos mais rápidos que qualquer outro. Que prazer mandar a carruagem para uma amiga! Soube que a senhora foi gentil o bastante para oferecer, mas agora não será mais necessário. Pode ficar certa de que sempre tomarei conta delas.
Miss Bates e Miss Fairfax entraram na sala, escoltadas pelos dois
cavalheiros. E Mrs. Elton parecia pensar que era sua obrigação recebê-las, tanto quanto de Mrs. Weston. Seus gestos e movimentos podiam ser compreendidos por qualquer pessoa que observasse, como Emma. Mas suas palavras, assim como as dos outros, logo foram abafadas pelo fluxo incessante das palavras de Miss Bates, que chegou falando e ainda não tinha terminado seu discurso quando se juntou ao círculo junto à lareira. Logo que a porta se abriu já podiam ouvi-la:
– Tão amável da sua parte!... Não, não está chovendo, absolutamente.
Pelo menos não uma chuva forte. Não me preocupo por mim mesma. Meus sapatos são bem grossos. E Jane diz... Bem!... (e logo que entrou pela porta) Bem! Está de fato brilhante!... Realmente admirável!... Foi muito bem planejado, dou minha palavra. Não falta nada. Nem poderia imaginar isso... Tão bem iluminado!... Jane, Jane, olhe isso! Você já viu alguma coisa parecida? Ah! Mr.Weston o senhor deve realmente ter a lâmpada de Aladim. A boa Mrs. Stokes nem conseguiria reconhecer sua própria sala. Eu a vi quando cheguei, estava parada à entrada. Então eu disse “Oh! Mrs. Stokes!”, mas não tive tempo de dizer mais nada. – Nesse momento Mrs. Weston aproximou-se para recebê-la. –Muito bem, obrigada, madame. Espero que a senhora esteja passando bem. Fico muito feliz em ouvir isso... Tive tanto medo que a senhora arranjasse uma dor de cabeça! Eu a via passar muitas vezes, sabendo quantos problemas devia estar tendo. Fico feliz em ouvir isso, de fato. Ah! Cara Mrs. Elton. Agradeço-lhe tanto pela carruagem! Chegou bem a tempo, Jane e eu estávamos prontas. Os cavalos não esperaram nem um momento. A carruagem é muito confortável. Oh! Tenho certeza que devo agradecer à senhora, Mrs. Weston, neste aspecto. Mrs. Elton foi gentil de enviar um bilhete para Jane, ou nós teríamos ficado... Mas duas ofertas no mesmo dia!...Nunca houve vizinhos melhores. Eu disse à minha mãe “Dou-lhe minha palavra, madame..”. Muito obrigada, minha mãe está muito bem, foi à casa de Mr. Woodhouse. Eu a fiz levar o xale, pois as noites não são quentes ainda... o xale novo, grande, que foi presente de casamento de Mrs. Dixon.... Tanta bondade da parte dela pensar em minha mãe! Foi trazido de Weymouth, a senhora sabe, foi escolha da própria Mrs. Dixon. Jane disse que havia outros três, e Mrs. Dixon hesitou durante algum tempo. O coronel Campbell preferia o xale cor de oliva. Minha querida Jane, tem certeza que não molhou os pés? Não foi mais que uma gota ou duas, mas tenho tanto medo... Mr.Frank Churchill, contudo,
foi extremamente... e havia um tapete sobre o qual caminhar. Nunca vou esquecer sua extrema educação. Oh! Mr. Frank Churchill, quero dizer-lhe que os óculos de minha mãe nunca mais se estragaram, o parafuso nunca mais caiu. Minha mãe seguidamente fala de sua bondade, não é verdade Jane?... Não falamos sempre de Mr. Frank Churchill?... Ah! Aqui está Miss Woodhouse... Querida Miss Woodhouse, como vai a senhorita?... Muito bem, obrigada, muito bem. Isso é um encontro no reino das fadas!... Que transformação!... Não devo cumprimentá-la, eu sei (olhando Emma de modo complacente), seria muito rude... mas, dou-lhe minha palavra, Miss Woodhouse, a senhorita parece... O que acha do cabelo de Jane? A senhorita vai ser a juíza... ela fez tudo sozinha. É espantoso como ela consegue arrumar seu próprio cabelo!... Acho que nem uma cabeleireira de Londres seria capaz de fazer um penteado igual. Ah! Se não é o Dr. Hughes... e Mrs. Hughes. Devo falar um instante com o doutor e Mrs.Hughes... Como vai? Como vai?... Muito bem, obrigada. Isso é maravilhoso, não acha?... Onde está o querido Mr. Richard? Ah! Lá está ele. Não o perturbe, está muito ocupado falando com as damas. Como vai, Mr. Richard?... Eu o vi outro dia, cavalgando pela cidade... Ora, se não é Mrs. Otway!... e o bom Mr. Otway, e Miss Otway e Miss Caroline... Quantos amigos reunidos!... E Mr. George e Mr.Arthur! Como vão? Como estão todos?... Muito bem, lhe agradeço muito. Nunca estive melhor... Não ouviram outra carruagem?... Quem poderia ser?... É provável que sejam os queridos Coles... Dou minha palavra, é absolutamente encantador estar entre tais amigos! E que fogo maravilhoso! Estou quase assando. Café para mim não, muito obrigada. Nunca tomo café... Um pouco de chá, se não for incômodo. Mas não se apresse... Ah, aqui está. Tudo tão bem organizado!
Frank Churchill retornou ao seu lugar junto de Emma. E assim que Miss Bates parou de falar Emma pôde ouvir a conversa de Mrs. Elton e Miss Fairfax, que estavam paradas um pouco atrás dela. Ele estava pensativo. Se ele ouvia ou não a conversa, ela não saberia dizer. Após muitos cumprimentos a Jane pelo seu vestido e pelo cabelo, recebidos com bastante calma e propriedade, Mrs. Elton estava obviamente esperando ser também elogiada, então começou com “O que achou do meu vestido?... O que achou dos enfeites?... Como ficou o cabelo que Wright fez?”, e várias outras questões no mesmo estilo, todas respondidas com paciente educação. Mrs. Elton disse então:
– Ninguém liga menos para vestidos em geral do que eu... mas em uma ocasião como esta, em que todos os olhos estarão voltados para mim, não queria parecer inferior aos outros. E também como cumprimento aos Westons, pois não tenho dúvida que estão dando este baile principalmente em minha honra. Vejo tão poucas pérolas no salão, além das minhas. Então Frank Churchill é um excelente dançarino, pelo que ouvi. Vamos ver se nossos estilos combinam. Ele é um jovem muito elegante, gostei muito dele.
Nesse momento Frank começou a falar com tanto ardor, que Emma só podia imaginar que ele estivesse querendo abafar os elogios, e não desejava ouvir mais nada. As vozes foram abafadas por um tempo, até que uma nova pausa trouxe a voz de Mrs. Elton outra vez, distintamente. Mr. Elton havia se juntado a elas, e sua esposa exclamava:
– Ah! Finalmente você nos encontrou em nosso isolamento, não é?... Eu estava dizendo agora mesmo à Jane que você devia estar impaciente por nos encontrar.
– Jane! – repetiu Frank Churchill, com um ar de surpresa e desprazer. – Que falta de cerimônia... mas suponho que Miss Fairfax não desaprove isso.
– Gostou de Mrs. Elton? – perguntou Emma, sussurrando.
– Nem um pouco.
– O senhor é ingrato.
– Ingrato? O que quer dizer? – então mudou o cenho franzido para um sorriso. – Não, não me conte, não quero saber o que significa. Onde está meu pai? Quando vamos começar a dançar?
Emma mal conseguia entendê-lo. Frank parecia estar com um humor
estranho. Saiu para buscar o pai, mas logo voltou com Mr. e Mrs. Weston. Ele os encontrara um pouco perplexos e queriam expor a situação para Emma. Ocorrera a Mrs. Weston que deviam convidar Mrs. Elton para abrir o baile.
Certamente ela esperava por isso, o que contrariava todos os desejos deles de conceder a Emma tal distinção. Emma ouviu a dura verdade com coragem.
– E como vamos encontrar um parceiro adequado para ela? – disse Mr.Weston. – Ela deve estar esperando que Franka convide.
Frank virou-se para Emma, cobrando sua antiga promessa das duas danças, e declarou que já estava comprometido, o que o pai aprovou imediatamente. Então pareceu que Mrs. Weston desejava que ele mesmo dançasse com Mrs. Elton, e o trabalho deles seria persuadi-lo a concordar, o que foi feito logo. Mr. Weston e Mrs. Elton abriram o cortejo, seguidos por Mr. FrankChurchill e Miss Woodhouse. Emma teve que submeter-se a ficar atrás de Mrs.Elton, embora sempre tivesse considerado o baile especialmente seu. Era quase o bastante para fazê-la pensar em se casar. Mrs. Elton, sem dúvida, tinha a vantagem no momento de ver sua vaidade completamente satisfeita. Embora pretendesse abrir o baile com Frank Churchill, não saíra perdendo com a troca, pois Mr. Weston era superior ao filho. Fora esse pequeno embaraço, Emma estava bastante feliz, encantada de ver a fila de pares que se formara, e por saber que ainda teria muitas horas de divertimento à sua frente. O que mais a perturbava, porém, era ver que Mr. Knightley não estava dançando. Lá estava ele, entre os observadores, onde não devia estar; deveria estar dançando, e não em companhia dos maridos, pais e jogadores de uíste, que fingiam sentir interesse pela dança enquanto as mesas de jogos não estavam prontas. Tão jovem como ele era! Nunca parecera levar tanta vantagem sobre os outros como agora, no local em que se encontrava. Sua figura alta, firme e esguia, entre as formas volumosas e os ombros caídos dos homens mais velhos, se destacava tanto que Emma sentiu que devia atrair todos os olhares. E, exceto seu parceiro, não havia um entre todo o grupo de homens mais jovens que pudesse se comparar a ele. Mr. Knightley avançou alguns passos, e com isso apenas demonstrou com que cavalheirismo e graça natural teria dançado, se apenas se desse ao trabalho. Sempre que seus olhos se encontravam Emma o fazia sorrir, mas em geral ele permanecia sério. Ela gostaria que ele apreciasse mais os bailes, e apreciasse mais Frank Churchill. Mr. Knightley parecia estar sempre a observá-la. Emma não podia se orgulhar do que ele pensava de sua dança, mas não tinha medo algum de sofrer críticas ao seu comportamento. Não havia nada parecido com um flerte entre ela e seu parceiro. Pareciam mais como bons e alegres amigos do que namorados. Sem dúvida, Frank Churchill pensava menos nela agora do que antes.
O baile prosseguiu agradavelmente. Os ansiosos cuidados e as
incessantes atenções de Mrs. Weston não foram desperdiçados. Todos pareciam felizes, e os elogios sobre a beleza do baile, que em geral eram concedidos depois que a festa terminava, foram feitos de forma constante desde o princípio. Quanto aos eventos importantes, do tipo que fica na lembrança, o baile foi tão produtivo como qualquer outra festa desse tipo. Havia um, no entanto, que preocupava Emma. As duas últimas danças antes do jantar já tinham começado e Harriet não tinha parceiro. Era a única jovem dama que estava sentada. O número de dançarinos era tão justo que ter um cavalheiro sobrando seria um sonho! Mas a esperança de Emma diminuiu logo depois, ao ver Mr. Elton perambulando por ali. Ele não convidaria Harriet para dançar, se pudesse evitar, tinha certeza que não. Ela esperava que a qualquer momento ele escapasse para a sala de jogos. Escapar, entretanto, não estava nos planos dele. Mr. Elton dirigiu-se à parte da sala onde os observadores estavam reunidos, caminhou na frente deles e falou com alguns, como para mostrar que estava livre e pretendia manter-se assim. Não evitou ficar bem diante de Miss Smith algumas vezes, ou falando com pessoas próximas a ela. Emma observou tudo isso, pois não dançava naquele momento, estava caminhando para o fundo do salão e podia olhar ao redor, bastava-lhe virar um pouco a cabeça. Quando se encontrava no meio da pista de dança, com o grupo todo atrás dela, não podia mais olhar para trás. Mas Mr. Elton estava tão próximo que Emma não pode deixar de ouvir o diálogo que se seguiu entre ele e Mrs. Weston. Percebeu também que sua esposa, colocada imediatamente à frente dela, não só observava tudo isso como dava ao marido significativos olhares de encorajamento. A bondosa e gentil Mrs. Weston deixara sua cadeira para juntar-se a ele, dizendo:
– O senhor não dança, Mr. Elton?
– Com muito prazer, Mrs. Weston, se me der a honra de dançar comigo
– respondeu ele, prontamente.
– Eu? Oh, não!... Vou conseguir-lhe uma parceira melhor do que eu.
Não sou boa dançarina.
– Se Mrs. Gilbert deseja dançar – disse ele – terei grande prazer, com
certeza. Embora comece a me sentir um velho homem casado, e que meus dias de dançarino acabaram, teria grande prazer em dançar com uma velha amiga como Mrs. Gilbert, a qualquer momento.
– Mrs. Gilbert não pretende dançar, mas há uma jovem dama sem par
que eu gostaria muito de ver dançando: Miss Smith.
– Miss Smith! Oh! Não tinha percebido. A senhora é muito gentil, e se eu não fosse um velho homem casado... Mas meus dias de dançarino estão acabados, Mrs. Weston, peço-lhe que me perdoe. Faria qualquer outra coisa que me pedisse, mas meus dias de dançarino realmente acabaram.
Mrs. Weston não disse mais nada, e Emma podia imaginar com que
surpresa e mortificação ela retornou para sua cadeira. Este era Mr. Elton! O educado, amável e gentil Mr. Elton. Ela olhou ao redor por um momento. Ele se juntara à Mr. Knightley, a uma pequena distância, e estava se preparando para iniciar uma conversa, enquanto trocava olhares de grande satisfação com a esposa.
Emma não quis mais olhar. Seu coração estava em fogo, e achava que seu rosto devia estar igualmente quente. No momento seguinte uma visão feliz apresentou-se diante de seusparte da sala onde os observadores estavam reunidos, caminhou na frente deles e falou com alguns, como para mostrar que estava livre e pretendia manter-se assim. Não evitou ficar bem diante de Miss Smith algumas vezes, ou falando com pessoas próximas a ela. Emma observou tudo isso, pois não dançava naquele momento, estava caminhando para o fundo do salão e podia olhar ao redor, bastava-lhe virar um pouco a cabeça. Quando se encontrava no meio da pista de dança, com o grupo todo atrás dela, não podia mais olhar para trás. Mas Mr. Elton estava tão próximo que Emma não pode deixar de ouvir o diálogo que se seguiu entre ele e Mrs. Weston. Percebeu também que sua esposa, colocada imediatamente à frente dela, não só observava tudo isso como dava ao marido significativos olhares de encorajamento. A bondosa e gentil Mrs. Weston deixara sua cadeira para juntar-se a ele, dizendo:
– O senhor não dança, Mr. Elton?
– Com muito prazer, Mrs. Weston, se me der a honra de dançar comigo
– respondeu ele, prontamente.
– Eu? Oh, não!... Vou conseguir-lhe uma parceira melhor do que eu.
Não sou boa dançarina.
– Se Mrs. Gilbert deseja dançar – disse ele – terei grande prazer, com
certeza. Embora comece a me sentir um velho homem casado, e que meus dias de dançarino acabaram, teria grande prazer em dançar com uma velha amiga como Mrs. Gilbert, a qualquer momento.
– Mrs. Gilbert não pretende dançar, mas há uma jovem dama sem par
que eu gostaria muito de ver dançando: Miss Smith.
– Miss Smith! Oh! Não tinha percebido. A senhora é muito gentil, e se eu não fosse um velho homem casado... Mas meus dias de dançarino estão acabados, Mrs. Weston, peço-lhe que me perdoe. Faria qualquer outra coisa que me pedisse, mas meus dias de dançarino realmente acabaram.
Mrs. Weston não disse mais nada, e Emma podia imaginar com que
surpresa e mortificação ela retornou para sua cadeira. Este era Mr. Elton! O educado, amável e gentil Mr. Elton. Ela olhou ao redor por um momento. Ele se juntara à Mr. Knightley, a uma pequena distância, e estava se preparando para iniciar uma conversa, enquanto trocava olhares de grande satisfação com a esposa.
Emma não quis mais olhar. Seu coração estava em fogo, e achava que seu rosto devia estar igualmente quente.
No momento seguinte uma visão feliz apresentou-se diante de seus olhos: Mr. Knightley conduzia Harriet para a pista de dança! Ela nunca estivera mais surpresa, nem mais encantada, do que naquele instante. Era toda prazer e
gratidão, tanto por Harriet quanto por ela, e ansiava por agradecer-lhe. Embora não pudesse falar, seu semblante dizia muito assim que conseguiu encontrar o olhar dele outra vez.
Ele era um excelente dançarino, exatamente como ela imaginara, e
Harriet seria a mulher mais feliz do salão, se não fosse a crueldade da cena que acontecera antes. O rosto feliz de Harriet demonstrava a mais completa alegria e o alto senso da distinção de que fora alvo. O gesto dele não foi em vão, ela dançou com mais leveza e graça do que nunca, sorrindo o tempo todo.
Mr. Elton retirou-se para a sala de jogos parecendo (era o que Emma
achava) muito tolo. Ela não acreditava que ele fosse tão insensível como a esposa, apesar de estar ficando igual a ela. Mrs. Elton tratou de expressar seus sentimentos, dizendo em voz bem alta para seu parceiro.
– Knightley ficou com pena da pobrezinha da Miss Smith!... Ele tem um coração tão bom!
O jantar foi anunciado, e as pessoas começaram a se movimentar. Miss Bates poderia ser ouvida a partir daquele momento, sem interrupção, até se sentar à mesa e pegar sua colher.
– Jane, Jane, minha querida, onde você está?... Aqui está seu xale, Mrs.Weston pediu que você colocasse o xale. Ela acha que pode haver correntes de ar na passagem, embora tudo tenha sido feito para evitar... Uma porta foi pregada, uma quantidade de metais... Minha querida Jane, você deve mesmo colocar o xale. Oh! Mr. Churchill! O senhor é tão amável. Como colocou o xale tão bem!...
Muito obrigada! A dança foi excelente, de fato!... Sim, querida, corri até em casa, como eu disse que faria, para ajudar vovó a deitar-se, e voltei logo, ninguém notou a minha falta... Saí sem dizer uma palavra, como eu disse que ia fazer. Vovó está muito bem, teve uma noite encantadora com Mr. Woodhouse, eles conversaram muito e jogaram gamão... O chá foi servido no andar de baixo, com biscoitos, maçãs assadas e vinho, antes que ela voltasse para casa. Ela teve muita sorte em algumas jogadas. Perguntou muito sobre você, se estava se divertindo, e quem eram seus parceiros de dança. E eu disse “Oh! Não vou me antecipar a Jane, deixei-a dançando com Mr. George Otway, mas ela mesma vai adorar lhe contar tudo amanhã. Seu primeiro parceiro foi Mr. Elton, não sei quem vai convidá-la a seguir, talvez Mr. William Cox. Meu caro senhor, é tão amável!... Não há mais ninguém a quem prefira acompanhar?... Não sou uma inválida. Ah, como o senhor é bondoso. Juro por Deus, Jane em um braço e eu no outro!... Pare, pare, vamos nos atrasar um pouco, Mrs. Elton está vindo... A querida Mrs. Elton, como está elegante!... Que rendas bonitas!... Agora podemos seguir atrás dela. Ela é mesmo a rainha da noite!... Bem, aí está a passagem.
Olhe os dois degraus, Jane, tome cuidado com os dois degraus. Ah! Só tem um...Bem. eu tinha certeza que eram dois. Que estranho! Estava de fato convencida que eram dois, mas só tem um. Nunca vi nada igual, com tanto conforto e estilo... Há velas por toda a parte!... Mas eu estava lhe contando sobre a sua avó, Jane... houve um pequeno desapontamento. As maçãs assadas e os biscoitos estavam muito bons a seu modo. Mas antes disso serviram um delicado fricassê de pão doce e aspargos, e o bom Mr. Woodhouse, achando que os aspargos não estavam bem cozidos, mandou levar tudo de volta... E você sabe que não há nada no mundo que a sua avó goste tanto quanto pão doce e aspargos... então ela ficou um tanto desapontada, mas concordamos em não falar disso para ninguém, pois pode acontecer de cair nos ouvidos da querida Miss Woodhouse, e ela ficaria tão preocupada!... Bem, está tudo tão brilhante! Tão maravilhoso! Eu jamais imaginaria uma coisa assim!... Tanto elegância em profusão!... Não vejo nada assim desde... Bem, aonde vamos nos sentar? Aonde vamos nos sentar? Oh, pode ser qualquer lugar desde que Jane não fique exposta a uma corrente de ar. Onde eu vou sentar não tem a menor importância. Ah, o senhor recomenda este lado?... Bem, tenho certeza, Mr. Churchill... é que parece um lugar tão bom... mas é claro, já que o senhor deseja... Tudo que o senhor aconselha nesta casa não pode estar errado. Querida Jane, como vamos recordar de todos os pratos servidos para contar à sua avó? Sopa, também! Deus me abençoe! Não esperava ser servida tão cedo, mas o cheiro está tão bom, mal posso esperar para começar.
Emma não teve oportunidade de agradecer a Mr. Knightley antes que o jantar terminasse, mas quando estavam todos no salão de baile novamente, os olhos dela o convidaram para se aproximar e receber os agradecimentos. Ele condenou com veemência a conduta de Mr. Elton, fora uma grosseria imperdoável. E os olhares de Mrs. Elton também receberam a devida cota de censura.
– Eles pretendiam ferir mais do que Harriet – disse ele. – Diga-me,
Emma, porque eles são seus inimigos? Mr. Knightley sorriu como se entendesse o que se passava, e não recebendo nenhuma resposta, acrescentou:
– Ela não devia estar zangada com você, embora ele possa estar... Você não vai dizer nada a esse respeito, é claro, mas confesse Emma, você queria que ele se casasse com Harriet.
– É verdade – ela concordou. – E eles não conseguem me perdoar.
Ele sacudiu a cabeça, mas havia um sorriso de indulgência no seu rosto, e apenas disse:
– Não vou repreendê-la. Deixo isso com a sua consciência.
– O senhor vai acreditar em mim ou nesses bajuladores? Será que o
meu fútil espírito vai-me dizer que estou errada?
– Não o seu espírito fútil, mas o seu espírito sério. Se um a leva para o caminho errado, tenho certeza que o outro a faz perceber o erro.
– Eu admito que me enganei completamente com Mr. Elton. Há uma mesquinhez nele que o senhor percebeu e eu não. Além disso, eu estava plenamente convencida de que ele estava apaixonado por Harriet. Foi uma série de pequenos erros!
– E, como retribuição por você ter admitido isso, vou fazer a justiça de dizer-lhe que você teria escolhido por ele melhor do que ele escolheu por si próprio. Harriet Smith tem algumas qualidades admiráveis, que faltam totalmente à Mrs. Elton. Uma menina despretensiosa, educada e sem maldade, infinitamente preferível para qualquer homem de bom senso e bom gosto do que uma mulher como Mrs. Elton. Achei que Harriet conversa bem melhor do que eu esperava.
Emma ficou extremamente agradecida. Foram interrompidos pela agitação de Mr. Weston, que chamava a todos para dançarem outra vez.
– Venham, por favor, Miss Woodhouse, Miss Otway, Miss Fairfax, o que estão esperando?... Venha, Emma, dê o exemplo às suas companheiras. Todos estão muito preguiçosos! Estão muito sonolentos!
– Estou pronta – disse Emma – assim que for convidada.
– Com quem você vai dançar? – perguntou Mr. Knightley.
Ela hesitou por um momento, e então disse:
– Com o senhor, se tiver a bondade de me convidar.
– Você gostaria? – disse ele, estendendo-lhe a mão.
– Gostaria muito. O senhor mostrou que dança muito bem, e sabe que não somos realmente irmão e irmã para tornar isso impróprio.
– Irmão e irmã! Não, realmente.


PS. Publiquei o capítulo novamente porque estava com problema de edição nos parágrafos.

Emma - Jane AustenOnde histórias criam vida. Descubra agora