A comida em conserva merece seu lugar no hall das invenções que mudaram o curso da história da humanidade. Graças a sua existência nos foi possível desbravar continentes, vencer os oceanos, atravessar o espaço até a lua, e por vezes viajar sem retorno para o além.
Sou um ávido consumidor dessa espécie alimentícia, mas existe uma a que não me atrevo a provar: a Conservona de Posto.
O aumentativo aqui foi usado de forma errônea propositalmente, para tentar exprimir o espanto que tenho cada vez que me deparo com um desses recipientes, que deviam vir com os símbolos de risco biológico, radiação, veneno e corrosivo estampados (simultaneamente e sobrepostos).
Pode me chamar de frango se quiser, ou de fresco, confesso não ter as bolas de aço necessárias para esse desafio. Pra mim Conservona é coisa de bruto, rústico, de cara mau. Mas de um cara tão mau que faz o próprio mau parecer bom, um cara que usaria as cinzas do próprio avô como rapé ou que fumaria vareta de solda ligada.
A NASA deveria aprender nas estradas brasileiras como é feito para se atribuir a comida uma capacidade duradoura invejável até mesmo para as múmias. Nada de criogenia, vácuo ou super desidratação. O que se precisa é um vinagre dos bons (onde bom que dizer ruim, ou o pior possível), sal, e um desses potes de vidro velho com tampa de plástico NÃO hermética (atenção aqui, fator crucial), nas cores laranja ou azul.
Lá dentro desse pequeno universo, criado pela arrogância humana, encontramos uma versão em pequena escala da sopa primordial, onde novas formas de vida e matéria estão sendo criadas. Flutuando no que creio eu ser algo mais radioativo que água pesada de reator nuclear, podemos ver ovos, cenouras, cebolas, pimentas, salsichas, almondegas e linguiças. Para as três últimas peço um minuto de silêncio para todos os gatinhos sacrificados em sua fabricação.
... (aguarde um minuto)
Nada contra a carne de gatinho, aprecio muito por sinal uma de suas formas de preparo que é vendida nas ruas em espetos, feitos com os melhores filé miau e contra-felino. Mas para se deleitar nos prazeres dos preparados dessa natureza só mesmo alguém nascido e criado dentro de Chernobyl (após o acidente), ou transplantado com estômago e intestino de abutres para conseguir comer isso sem se virar do avesso e vomitar a própria coluna cervical.
O Keith Richards eu acho que aguentaria também.
Dentro desses recipientes encontra-se um ambiente molecular extremamente hostil, fazendo com que o rio Tietê seja quase um resort. Nem mesmo o ebola vive ali. E a até mesmo a botulina só se arrisca por essas bandas quando está muito sem opção.
E sobre a estufinha regenerativas de salgados? Aquela que faz com que todo salgado seja de hoje, mesmo sendo de ontem, ou de algum ontem que seja antes da semana passada...
Melhor deixar a estufa pra lá, talvez para algum outro texto, pra não ficar muito chocante.
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Crônicas de um idiota... Com muito tempo pra gastar
HumorPois é, lá vamos nós outra vez... Peraê! Vamos aonde? Sei lá... Se você chegou até esse livro e passou pelo primeiro, sinto lhe informar mamífero, mas sua vida tá errada. Agora, se você chegou a este livro sem passar pelo primeiro...