Com os olhos fechados eu posso dizer que vi uma das coisas mais bonitas que podem ser vistas, um arco-íres noturno, pois era uma noite estrelada no sonho. E por ele desceu uma moça sem pernas.
– Você é meu pai?
– Não sou pai – ela disse. – Sou mãe. Kerpimanha, o Karaibebé mãe do sonho.
– Quantas mães – falei. – Já completei a mão. Isso é que é sonhar então?
– Sim, sonhar é tornar real enquanto se dorme o que se imagina enquanto desperto.
– Mas eu já vi Karaibebés enquanto desperto.
– É comum que despertos imaginem ver o que outros sonharam enquanto dormiram. Sonhos de sonhadores passados são vividos por despertos no presente.
– Então o que vi foi sonhado antes?
– Sim, com certeza. E outros imaginarão ver o que você sonhar agora.
– As outras mães disseram que posso encontrar meu pai aqui.
– Sim, este foi o sonho que preparei para você – ela apontou para trás de mim e ali, existia um rio.
– Seu pai lhe espera na caverna no interior deste rio.
– Quem é aquela? – apontei para uma mulher que seguia o rio, na direção da margem corrente. Parecia procurar algo, pois tinha fogo em sua posse.
– Uma sonhadora de outro tempo – respondeu Kerpimanha.
– Posso saber como o sonho dela termina?
– As vezes temos de sonhar nossos próprios sonhos e não os dos outros.
Seguindo seu conselho, afundei em meus sonhos, deixando a mãe em terra. A entrada da caverna era estreita, mas seu interior era vasto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MAMELUCO, Existência afogada.
Short StoryA história gira em torno de um homem que desperta já adulto, na escuridão de uma lagoa. Sem memorias e incompreendendo a própria situação, ele se sente vazio, oco e insosso, sua busca se justificando na conquista do próprio sabor. "Primeiro...