Capítulo 6 - Kerpimanha

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Com os olhos fechados eu posso dizer que vi uma das coisas mais bonitas que podem ser vistas, um arco-íres noturno, pois era uma noite estrelada no sonho. E por ele desceu uma moça sem pernas.

– Você é meu pai?

– Não sou pai – ela disse. – Sou mãe. Kerpimanha, o Karaibebé mãe do sonho.

– Quantas mães – falei. – Já completei a mão. Isso é que é sonhar então?

– Sim, sonhar é tornar real enquanto se dorme o que se imagina enquanto desperto.

– Mas eu já vi Karaibebés enquanto desperto.

– É comum que despertos imaginem ver o que outros sonharam enquanto dormiram. Sonhos de sonhadores passados são vividos por despertos no presente.

– Então o que vi foi sonhado antes?

– Sim, com certeza. E outros imaginarão ver o que você sonhar agora.

– As outras mães disseram que posso encontrar meu pai aqui.

– Sim, este foi o sonho que preparei para você – ela apontou para trás de mim e ali, existia um rio.

– Seu pai lhe espera na caverna no interior deste rio.

– Quem é aquela? – apontei para uma mulher que seguia o rio, na direção da margem corrente. Parecia procurar algo, pois tinha fogo em sua posse.

– Uma sonhadora de outro tempo – respondeu Kerpimanha.

– Posso saber como o sonho dela termina?

– As vezes temos de sonhar nossos próprios sonhos e não os dos outros.

Seguindo seu conselho, afundei em meus sonhos, deixando a mãe em terra. A entrada da caverna era estreita, mas seu interior era vasto.

MAMELUCO, Existência afogada.Onde histórias criam vida. Descubra agora