Welcome to LA | C.D.

32|Date

-Sem sono? - escuto alguém perguntar, em francês, e me viro para encontrar minha avó.

Não consegui dormir essa noite, pensando em tudo que tem acontecido ultimamente. Depois de algumas horas, decidi descer e vim para o terraço, que tem uma vista espetacular para a fazenda.

-Não consegui dormir- respondo.

-Sei que as coisas estão muito confusas para você agora, Angeline, mas espero poder lhe explicar tudo- diz Charlotte. Eu apenas fico calada e assinto, esperando ela falar. Minha avó vem para o meu lado, se escorando no guarda- corpos e, assim como eu, veste um pijama de flanela (a diferença é que o meu está completamente gigante, já que é de Cameron).

-Você provavelmente não deve gostar muito de mim após saber que eu cortei relações com sua mãe após ela ter fugido para a Inglaterra. Sua mãe sempre foi sonhadora demais, vivia dizendo que Bratome era pequena demais e que ela queria conquistar o mundo. Nós não aceitamos muito bem isso na época. Veja, nós somos uma família tradicional do campo; a fazendo pertenceu aos meus avós e é uma herança, queríamos que ela e seu tio tomassem conta dela. Sua mãe nunca aceitou isso.

"Um dia, ela pediu para ir passar um mês na Inglaterra, para poder aprender inglês. Depois de muita discussão, eu e seu avô aceitamos. Sua mãe tinha dezessete anos e faltava um mês para completar dezoito. Ela foi, mas o problema aconteceu quando ela não quis voltar. Quando chegou o fim do seu mês na Inglaterra, ela nos ligou avisando que não voltaria. Você consegue imaginar como eu e seu avô nos sentimos? Tentamos fazer de tudo para ela voltar, mas disse que já tinha conseguido um emprego e moradia e, como estava na véspera de completar dezoito anos e ficar maior de idade, logo não precisaria mais nos obedecer.

"Nós ficamos devastados. De certa forma ela estava seguindo seus sonhos, mas tinha abandonado sua família e os planos que nós tínhamos para ela. Daí nós passamos a nos falar muito pouco. Dois meses depois, ela ligou para avisar que tinha conhecido um homem, estava grávida e iria casar. Para nós isso foi a gota d'água. Ela não tinha só estragado nossos sonhos, mas também os dela"

Isso doeu. Saber que minha mãe abandonou tudo o que tinha planejado para a sua vida por ter engravidado de mim, doeu.

"Então eu e seu avô decidimos cortar de vez a nossa relação com ela. Sei que olhando de agora parece que foi um erro, mas parecia a coisa certa na época"

-Não parece que foi um erro, Charlotte. Foi claramente um grande erro, provavelmente a pior coisa que vocês já fizeram para ela; e para mim também. Nunca quiseram me conhecer em todos esses anos, por que você quis se aproximar agora?- falo irritada.

-Justamente por que nós percebemos que foi um erro! Ficamos dezessete anos sem vê-la e ela morreu sem ao menos sabermos que ela estava doente, além de que ela escondia você completamente nas vezes que tentamos entrar em contato. Não queremos que isso aconteça com a nossa única neta. Não queremos passar a vida imaginando como seria conhecer e ter uma relação com você. Nós somos uma família, Angeline. Sei que você pode levar um tempo para se acostumar com a ideia e até mesmo nos perdoar, mas por favor, nos perdoe.

Minha avó já se encontrava chorando, e eu não estava diferente. Num impulso, a puxei para um abraço. Estava tão cansada de brigas com a família que tudo o que eu queria era isso, me sentir numa família de verdade.

-Já perdoei vocês - digo, por fim, e ficamos mais alguns segundos abraçadas.

-Sei que você e sua irmã foram para os quartos dos seus namorados.- Não preciso nem comentar que fiquei como um pimentão quando ela disse isso- Tenha cuidado, Angeline. Não cometa o mesmo erro que sua mãe. Não estou dizendo que você foi um erro, apenas que sua mãe ainda tinha muitos planos pela frente e teve que abir mão deles quando engravidou.