Tia Clarice

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Mamãe começou a me contar sobre o que passou.

- Era noite de Natal no ano de 1918, eu tinha 14 anos. Minha mãe me contou sobre a fera que vagava nas ruas nesse dia, eu não acreditava no que ela falava e acho que ela também não. Ela me contou essa lenda na frente da lareira da sala, ela estava tricotando um cachecol para minha irmã.

- Irmã?! - interrompi mamãe - eu não sabia que eu tinha uma tia por parte de mãe.

- Mas você não tem, não mais. Minha irmã era mais velha que eu, eu era o contrário dela, sempre fui quietinha e nunca aprontei. Sua tia tinha mania de pregar peças em todos, quem conhecia Clarice dizia que Halloween era feito especialmente para ela. Na noite de Natal ela costumava sair e fantasiar-se de Krampus, existiam máscaras do monstro na época. As máscaras não era uma cópia fiel de Krampus porém eram assustadoras. Até que um dia ela se fantasiou e assustou um casal de idosos que estava passando por um parque, a senhora acabou se assustando demais e faleceu no parque, ela era uma senhora fraca, tinha mais ou menos 65 anos e morreu de infarto. Foi um choque para Clarice, ela não prestou socorro para a pobre velhinha que ficou estirada no chão gelado do parque. Para Clarice, era apenas um susto inofensivo, mas essa brincadeira levou à uma coisa maior. Ela voltou desesperada para casa e não contou nada para ninguém, só tirou sua fantasia e foi se deitar. Estava com uma cara assustada e pálida. Algum tempo depois eu e sua avó ouvimos barulhos estranhos no quarto de Clarice, então ela me mandou subir para o quarto dela e verificar se estava tudo bem. Foi ai que me deparei com aquela coisa em cima de Clarice, aquelas roupas sujas e esfarrapadas, olhos vermelhos brilhantes, um rosto incrivelmente monstruoso, garras enormes e afiadas e cascos no lugar dos pés.

Era aquilo que eu tinha visto - pensei.

- Eu não sabia o que estava acontecendo, eu fiquei aterrorizada - continuou mamãe - Eu sabia que perderia minha irmã naquela noite, fiquei paralisada só vendo o monstro dilacerar minha irmã. - Mamãe começou a se emocionar contando a história, aquela era a pior história que eu já tinha escutado. Ver mamãe chorar me deixou destruída. - Krampus só me ouviu chorando na porta e se virou para mim com um olhar de deboche, havia sangue em sua boca e abaixo dele minha irmã estava ensanguentada e totalmente irreconhecível. Krampus pegou o corpo de Clarice e pulou pela janela, correndo em direção à alguém, não consegui vê-lo, mas tenho certeza de que era velho e tinha um tipo de carruagem. Consegui ver Krampus colocando o corpo de minha irmã nessa carruagem e depois não vi mais nada. Minha mãe disse que eu desmaiei em cima daquela poça de sangue. Sua avó disse que Krampus pegou ela por conta da morte da senhora no parque, mas eu duvido muito, Clarice se assustou, ela era só uma criança, por isso saiu correndo para casa sem ajudar, ela estava apavorada, sei que tinha algo maior por dentro dessa história.

Mamãe pediu um tempo para se recompor, ela tomou um grande copo d'água e ficou apoiada com as mãos na pia por um tempo.

- A família ficou em luto por um longo tempo, toda cidade ficou sabendo da figura aterrorizante que havia pego Clarice. Nós todos concordamos em nunca mais falar disso, por mais que tenha sido difícil. Com o tempo, a cidade esqueceu sobre ele, mas acho que isso muda agora, parece que a lenda está viva e depois de anos Krampus e esse velho homem voltaram à cidade. Aposto que as crianças de minha época estão tão assustadas quanto eu.

- Calma, mamãe. Talvez seja alguém querendo nos assustar com alguma brincadeira de mal gosto. 

Mamãe deu um sorriso

- É verdade, querida. - Ela me deu um beijo na testa - Agora vá para cama, está tarde, tente esquecer essa história, é passado.

- Tudo bem. - Subi as escadas em direção ao banheiro

Eu me aprontei para dormir, escovei os dentes, coloquei o pijama e fui para cama. Algumas perguntas foram respondidas, mas ainda havia muitas...

Amanhã irei até a biblioteca procurar por esse nome. Ainda tenho perguntas sem respostas, mas a maior, a que tomava conta de mim era:

"O que foi que eu fiz para Krampus e o velho virem me pegar?"



Krampus, o demônio do NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora